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O que é produtividade e por que o trabalhador brasileiro produz pouco

Não é só o déficit educacional. Infraestrutura e mobilidade precárias, incerteza fiscal e regime tributário complexo travam a produtividade

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Por mais que as projeções para a economia brasileira venham melhorando nas últimas semanas, com a inflação perdendo fôlego e as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) subindo, o país dificilmente dará o salto de qualidade necessário para mudar de patamar se não resolver um de seus maiores problemas: a baixa produtividade de sua força de trabalho.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a produtividade no Brasil caiu 4,5% em 2022, depois de já ter despencado 7,9% no ano anterior.

No levantamento por setores da economia, a agropecuária é a única que teve um aumento robusto de sua produtividade por hora trabalhada, no período entre 1995 e 2022 (+5,5% ao ano). Na indústria, a queda foi de 0,4% ao ano nesse mesmo intervalo, enquanto o setor de serviços cresceu apenas 0,2% ao ano. Mas, afinal, o que isso significa?

O que é produtividade

Em linhas gerais, a produtividade de um trabalhador é sua capacidade de produzir mais com menos recursos. Na prática, significa otimizar o trabalho e entregar mais resultados com menor esforço – em menos tempo, inclusive. Grosso modo, para medir o nível de produtividade de um país, os especialistas dividem o PIB – a soma de todas as riquezas ali produzidas – pelo número de trabalhadores ou de horas trabalhadas.

“A produtividade por hora trabalhada significa quantos reais de produção um trabalhador gera por uma hora em que ele trabalhou, em média. Ou seja, quanto uma hora trabalhada gera em reais”, explica Fernando Veloso, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do Ibre-FGV e coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli.

“O salário médio do trabalhador, de forma geral, está muito conectado a essa medida de produtividade. Quanto mais o trabalhador gera por hora trabalhada, maior é a remuneração dele”, ressalta Veloso.

A economista Carla Beni Menezes de Aguiar, também da FGV, observa que a produtividade depende dos chamados fatores de produção – como capital, mão de obra, tecnologia, recursos naturais, entre outros. “Quanto mais eficiente for o trabalhador, quanto mais rápido ele produzir com o menor custo e com o menor impacto ambiental possível, mais produtivo ele será”, exemplifica.

“Alguns estudos indicam que precisamos de quatro brasileiros para alcançar a produtividade de um americano. O que isso significa? Não é que o brasileiro seja vagabundo e não goste de trabalhar. São os fatores de produção que acabam deteriorando as condições para o trabalhador no Brasil.”

Educação precária não explica tudo

Quando se busca explicar as causas da baixa produtividade do Brasil, o atraso na educação aparece, invariavelmente, no topo da lista. De fato, embora tenha registrado avanços importantes nos últimos 30 anos, especialmente na universalização do acesso à educação básica, o país não conseguiu traduzir essa expansão em qualidade do ensino.

O Brasil amarga a 39ª colocação em um ranking de 43 países no Progress in International Reading Literacy Study (Pirls), estudo da Associação Internacional para Avaliação do Desempenho Educacional (IEA) divulgado no mês passado. O exame avalia a capacidade de alunos de 9 e 10 anos de idade de compreenderem textos.

Apesar do impacto de uma educação precária sobre a produtividade do país, os especialistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que esse aspecto não explica, por si só, o fraco desempenho do trabalhador brasileiro.

“A questão educacional é um fator muito importante, assim como a qualificação profissional de modo geral, sobretudo no mundo de hoje, com a inteligência artificial avançando e uma grande demanda por conhecimento. Mas há muitos outros fatores. Um dos mais relevantes é a qualidade do ambiente de negócios no qual as empresas operam”, cita Veloso.

Trata-se, ao fim e ao cabo, do famigerado custo Brasil, termo utilizado para se referir ao conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas, trabalhistas e econômicas que atrapalham o crescimento do país. Como o Metrópoles já noticiou, esse “combo” consome cerca de R$ 1,7 trilhão das empresas por ano. A baixa qualidade de gestão de parcelas do empresariado brasileiro também pesa na conta.

“São vários entraves à produtividade do país. Tem o sistema tributário caótico no Brasil, de enorme complexidade, que gera insegurança jurídica. Temos, ainda, sérios problemas na infraestrutura, precária e cara, que dificultam muito o aumento da produtividade”, enumera o pesquisador da FGV.

“Por fim, temos a questão fiscal e macroeconômica. Se o país não tem uma trajetória fiscal sustentável, isso traz incerteza para os empresários, que reagem não investindo ou contratando menos trabalhadores com carteira assinada. A redução do investimento e da formalização, por sua vez, impacta negativamente a produtividade. É um ciclo deletério ao país”, explica Veloso.

Para Carla Beni, outro ponto que joga contra a produtividade do trabalhador brasileiro é a falta de boa mobilidade urbana, principalmente nos grandes centros. “Muitos trabalhadores gastam três horas por dia se locomovendo: uma hora e meia de casa para o trabalho e uma hora e meia do trabalho para casa. Esse tempo perdido no deslocamento poderia ser aproveitado de outra forma”, afirma a economista.

“A baixa produtividade tem muito a ver com todo esse ambiente conturbado. A economia tem uma enorme dificuldade de gerar empregos produtivos, que paguem bons salários, com proteção social, justamente porque não tem o dinamismo necessário”, complementa Veloso.

“Muitas vezes a pessoa se forma em determinada área e descobre que a economia não gerou emprego para a qualificação que ela acumulou na faculdade”, observa Veloso. “O país só vai criar esses empregos, que absorvam a mão de obra qualificada, se houver um ambiente de negócios com menos distorções: com um sistema tributário mais simples e eficiente, com uma economia mais aberta e uma infraestrutura melhor.”

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