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O que dizem os sócios da Americanas nas entrelinhas da 1ª nota pública

Em nota de ontem (22/1), Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles parecem tentar dividir responsabilidades pela crise na Americanas

atualizado

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Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles em foto posada para lançamento de livro - Metrópoles
1 de 1 Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles em foto posada para lançamento de livro - Metrópoles - Foto: Editora Sextante/Divulgação

Na noite de domingo, quando boa parte dos brasileiros já se preparava para o descanso antes de uma nova semana começar, os sócios bilionários da Americanas divulgaram uma nota para falar do problema contábil que engoliu a empresa nas últimas duas semanas.

O pronunciamento, o primeiro dado desde que o rombo de R$ 20 bilhões no balanço financeiro veio à tona, tem uma linha muito clara: a de negar que Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, donos de 31% das ações da Americanas e ex-sócios majoritários do negócio, sabiam do que se passava.

“Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia. Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal”, dizem os empresários, no início da nota. Lemann, Sicupira e Telles também são sócios de empresas como Ambev e Kraft Heinz.

Além de negar que tivessem conhecimento de um problema que, a princípio, esteve presente nos últimos anos, o trio diz muito mais nas entrelinhas.

No parágrafo seguinte, a nota defende que os diretores e presidente que estiveram no comando da Americanas nos últimos anos eram “considerados qualificados e de reputação ilibada”. A varejista esteve sob o comando de Miguel Gutierrez por 20 anos. Em 2 de janeiro de 2023, Gutierrez foi substituído por Sergio Rial, ex-presidente do Santander. Rial anunciou sua renúncia 10 dias depois, no mesmo comunicado que informou a existência do rombo.

Esse trecho da nota tenta afastar os rumores de que o problema contábil não só era de conhecimento da diretoria, como foi um assunto negligenciado por algum tempo. Além disso, a venda de R$ 223 milhões em ações por diretores da Americanas  nos meses que antecederam o escândalo só serviu para alimentar o ceticismo dos investidores.

Socialização de riscos

Mas talvez o detalhe mais importante a ser observado na nota é a citação à relação entre a empresa de auditoria responsável por avalizar os balanços da Americanas e os bancos credores. Dizem os sócios, na nota:

Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade.

Carta de circularização é um documento usado pela auditoria para checar se as informações prestadas pela empresa auditada são fidedignas. Por exemplo: a Americanas informa à PwC possuir um financiamento de tal valor com determinado banco. A auditoria, então, pede ao banco uma carta de circularização para atestar que o valor do financiamento e as condições informadas pela empresa estão corretas.

O que os acionistas parecem tentar fazer aqui é distribuir a responsabilidade pelo ocorrido. Os sócios dão a entender que nem a auditoria e nem os bancos acusaram qualquer irregularidade, mesmo tendo, em tese, todas as condições para fazer isso.

“Portanto, assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto”, escreveram Lemann, Sicupira e Telles.

Os bilionários dizem que o comitê independente contratado pela Americanas para apurar os fatos avaliará “a eventual quebra de simetria no diálogo entre os auditores e as instituições financeiras”.

Por quebra de simetria pode-se entender uma eventual troca de informações incompletas, seja porque os bancos prestaram as informações sobre os financiamentos dessa maneira, seja porque a auditoria foi menos diligente do que deveria ao exigir tais informações.

Recuperação judicial

Desde a última quinta-feira (19/1), a Americanas está em recuperação judicial. Nos próximos meses, a varejista deverá buscar negociar com os credores sua dívida de R$ 43 bilhões.

“Reafirmamos o nosso empenho em trabalhar pela recuperação da empresa, com a maior brevidade possível, focados em garantir um futuro promissor para a empresa, seus milhares de empregados, parceiros e investidores e em chegar a um bom entendimento com os credores”, prometeram Lemann, Sicupira e Telles.

O clima de negociação atual não é dos melhores. Sem um perdão ou prolongamento, a dívida atual é considerada “impagável”. Para piorar, os bancos não parecem estar abertos a essas facilidades, principalmente caso fique comprovado que a raiz do problema foi uma fraude contábil.

Na mesa de negociação estaria um pedido dos bancos para que o trio de sócios coloque até R$ 20 bilhões em uma capitalização (compra de ações) da Americanas. Lemann, Sicupira e Telles teriam ofertado uma capitalização entre R$ 6 e 8 bilhões, valor considerado insuficiente. Diante do impasse, a situação da empresa é delicada.

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