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O PIB cresceu: por que isso é bom, mas nem tanto

Apesar da expansão de 0,9% do produto nacional no segundo trimestre, a base desse avanço preocupa especialistas

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O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de riquezas do país) no segundo trimestre deste ano foi comemorado pelos agentes econômicos. E por um bom motivo: nesse período, ele avançou 0,9%, ante projeções que apontavam para um aumento de meros 0,2% ou, no limite, 0,5%.

Trata-se de uma notícia positiva, mas, como sempre, tem seus senões. O problema, nesse caso, é o que está na base dessa elevação. Do lado da demanda, por exemplo, o PIB tem sido empurrado para cima pelo consumo das famílias. Ele cresce há três anos, até como resultado do período pós-pandemia. No segundo trimestre de 2023, avançou 0,9%.

Esse aumento, segundo análise do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), tem sido atribuído à melhora do mercado de trabalho, aliada aos reajustes nos programas de transferência de renda, notadamente, no Bolsa Família.

Como alavanca para o PIB, essa frente apresenta limites, segundo mencionada análise do FGV Ibre. Um deles é o endividamento das famílias. O outro entreve é formado pelos juros que, embora comecem a ceder, ainda estão em patamares elevados. O fato é que há “dúvidas se o consumo das famílias vai se manter em patamares elevados”, como aponta o estudo.

Consumo do governo

Ainda sob o ponto de vista da demanda, a outro fator de expansão do PIB foi o consumo do governo, que reúne as despesas para prover serviços públicos com educação, saúde e segurança, além de aumentos de salários para servidores. Ele também surpreendeu analistas ao engordar 0,7%.

Na avaliação do economista Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais FGV Ibre, os números do consumo das famílias e do governo soam menos animadores, quando considerado outro dado presente no PIB. Nesse caso, trata-se dos investimentos.

Investimento magro

Eles até apresentaram uma elevação no segundo trimestre de 2023, mas esquálida, não indo além dos 0,1%. No primeiro trimestre deste ano, caíram 3,4%. Antes disso, tinham recuado 1,2% no quarto trimestre de 2022. Além disso, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede os aportes em máquinas e equipamentos, ficou estável no segundo trimestre e a taxa de investimentos foi de 17,2% do PIB, inferior à do mesmo período de 2022, que havia anotado 18,3%.

O economista observa que, sem investimento, não há crescimento sustentável do PIB. Nesse contexto, o aumento do consumo das famílias e do consumo do governo, à primeira vista pontos positivos para o salto do produto, podem gerar pressões fiscais e inflacionárias. “Isso não quer dizer que a inflação vai subir”, diz Considera. “Mas pode fazer com que ela demore mais para cair.”

Desindustrialização

O coordenador da área de Contas Nacionais do FGV Ibre observa ainda que a falta de investimentos tem sido especialmente crítica na indústria de transformação no país, responsável pela produção de carros e eletrodomésticos, por exemplo. A participação desse segmento industrial no PIB tem caído de forma sistemática. Ela já beirou os 35%, nos anos 1980. Agora, está perto dos 10% do produto.

Considera destaca que, no segundo trimestre, a indústria foi o segmento da economia que mais cresceu no país, registrando um avanço de 0,9%, ante 0,6% do setor de serviços. “O problema é que esse aumento se concentrou no setor extrativista, com destaque para a mineração e o petróleo”, diz. “O crescimento na indústria de transformação foi resultado do programa governamental de redução de impostos para a venda de veículos. E isso não tem nada a ver com novos investimentos.”

Serviços

Emerson Marçal, da Escola de Economia de São Paulo da FGV (FGV EESP), também vê na na indústria de transformação um problema. Ela, define o economista, é o “patinho feio” do PIB. Mas nota que o avanço vigoroso do setor de serviços também merece ser observado com cuidado. Ele foi cresceu 0,6% no segundo trimestre é o segmento no qual a inflação apresenta maior resiliência.

Marçal afirma que, se o setor de serviços andar rápido demais, só a política monetária, ou seja, o aumento de juros, pode não suficiente para resolver o problema de uma eventual persistência da inflação. “Isso porque um grande gastador em serviços é o governo”, afirma. “Então, para controlar os preços nesse segmento, acredito que teria de haver algum aperto na política fiscal (no caso, no controle dos gastos públicos).”

O professor da FGV EESP ressalta ainda que, embora o crescimento do PIB de 0,9% no segundo trimestre tenha sido “muito positivo”, é preciso que avance de forma contínua e por mais de uma década para ter impacto real na vida do país. “Esse é o desafio: crescer, mesmo que pouco, por um longo período”, diz. “Foi isso o que aconteceu com o Chile, que conseguiu uma mudança de patamar econômico com avanços pequenos e duradouros, que nunca foram espetaculares.”

 

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