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“O dólar já está na direção dos R$ 4,40”, diz economista

Para Márcio Holland, da FGV, é nítida a tendência de queda da moeda americana, cotada a R$ 5,45 em janeiro. Mas há riscos nessa trajetória

atualizado

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A cotação do dólar vem descendo a ladeira nas últimas semanas. Ela saiu de R$ 5,45, em 3 de janeiro, e chegou aos R$ 5,07, no fim de maio. Desde então, começou, passo a passo, a cair de forma consistente. Isso até alcançar R$ 4,76 na última quarta-feira (21/6), o menor valor em mais de um ano. Na sexta (23/6), fechou a R$ 4,77. E tudo indica que esse patamar esteja alto.

Para o professor Márcio Holland, da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), a moeda americana já está a caminho dos R$ 4,40. Ou mesmo, algo em torno desse valor e R$ 4,50. E por que isso deve acontecer? É o que Holland explica, a seguir, em entrevista ao Metrópoles.

Quanto o dólar ainda pode cair até o fim de 2023?

Não é tarefa trivial prever o câmbio. Mas a moeda americana pode chegar a R$ 4,00? Sim, pode. Há uma série de fatores que estão contribuindo para a tendência de valorização do real. Mas o fato é que o dólar já está na direção de R$ 4,40, ou mesmo, algo entre esse valor e R$ 4,50.

E por que o dólar está caindo?

Questões externas têm peso nessa queda. Há duas semanas, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidiu manter a taxa de juros nos Estados Unidos entre 5% e 5,25%. Isso ajuda a acomodar a expectativa dos agentes econômicos, precifica o futuro.

Quais os outros fatores?

Os juros brasileiros continuam atrativos. Banco Central (BC) está dizendo que, se baixar a taxa básica, a Selic, hoje fixada em 13,75% ao ano, vai fazer isso de forma parcimoniosa, em ritmo lento. Ou seja, os juros, em princípio, parados nos EUA e altos por aqui tendem a atrair dólares para o Brasil. Esse ingresso da moeda estrangeira valoriza o real. Essa diferença de juros também favorece a realização de operações que chamamos de “carry trade”.

O que são essas operações?

É uma aplicação financeira que consiste em tomar dinheiro a uma taxa de juros mais baixa em um país, como nos Estados Unidos, e aplicá-lo em outra moeda que pague juros maiores, como o real, no Brasil.

Então, existe um movimento financeiro internacional a favor do Brasil?

Existe um movimento a favor de países emergentes com alta taxa de remuneração de curto prazo. O Brasil é um deles. Nessa lista, também podemos incluir a Colômbia, o México, ou mesmo, o Paquistão.

O que mais ajuda a derrubar o dólar?

O cenário interno no Brasil também favorece a queda. No primeiro Relatório Focus deste ano (que reúne projeções semanais de agentes do mercado sobre indicadores econômicos) a previsão de crescimento do PIB brasileiro era de 0,78% em 2023. Agora, ela está em 2,14%. A nota de risco dada pela agência internacional S&P para o país também passou de neutra para positiva. O arcabouço fiscal foi encaminhado e, agora, a discussão já se concentra na reforma tributária, com um substitutivo em análise na Câmara dos Deputados. Isso tudo cria um otimismo típico do mercado.

E o que pode dar errado e interromper a tendência de queda do câmbio?

A possibilidade de recessão da economia americana, por exemplo, não foi afastado. E quando uma economia central passa por esse tipo de problema existe o medo de contágio. Nesses momentos, o capital volta para países como os EUA. Isso até que fique claro qual o impacto da recessão no resto do mundo. A China também tenta descobrir se conseguirá crescer 6% neste ano. E os resultados da economia chinesa são sempre importantes. Eles afetam, em especial, o preço das commodities, como minérios e alimentos, produtos exportados pelo Brasil.

O que mais pode atrapalhar a queda do dólar?

Questões internas. Uma delas é essa discussão equivocada a respeito da mudança de meta de inflação. Isso é ruído negativo. Se a meta for alterada, vai passar o recado de que o governo é mais leniente com o aumento de preços. Vai ser uma pedra no caminho desse otimismo que o mercado está mostrando em relação ao país.

Quais as principais vantagens para o Brasil de um dólar a R$ 4,40 ou R$ 4,50?

Há um efeito favorável na inflação, que poderá ficar na meta em 2024. Com o real apreciado, caem os preços de importados, o que inclui máquinas e equipamentos, além de insumos intermediários para a produção de diversos produtos. Isso favorece a estabilidade dos preços internos.

E a classe média alta vai embarcar para o exterior.

Sem dúvida. Isso é o que sempre acontece quando o câmbio está favorável no Brasil.

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