Nunca tantos idosos tiveram dívidas tão grandes
Inadimplência de pessoas com mais de 60 anos explodiu no Brasil nos últimos quatro anos. O valor médio de cada débito é de R$ 4,3 mil
atualizado
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Nos últimos quatro anos, a inadimplência entre os idosos aumentou numa velocidade surpreendente no Brasil. Ela cresceu 33% entre as pessoas com mais de 60 anos, na comparação entre abril de 2023 com o mesmo mês de 2019. Para dar uma ideia do que esse salto representa, basta dizer que ele foi 14 vezes maior do que o mesmo avanço entre as pessoas com até 25 anos, cuja taxa ficou em 2,3%.
O ritmo do endividamento dos idosos também superou – e em larga proporção – as faixas etárias intermediárias. Entre 41 e 60 anos, a elevação foi de 14,4% e, entre 26 e 40 anos, de 4,6%. Em números absolutos, em quatro anos, houve um acréscimo de 3,4 milhões de inadimplentes com mais de 60 anos no Brasil. O valor médio da dívida das pessoas mais velhas é de R$ 4.360,00. Os dados fazem parte do Mapa de Inadimplência e Negociações, da Serasa.
Na avaliação de Camila Faiçal, gerente da Serasa, os empréstimos consignados estão entre os fatores que mais contribuíram para o aumento das dívidas entre os mais velhos. “Desde a pandeia, muitos aposentados e pensionistas recorreram a esses empréstimos para ajudar a família”, diz. “Com isso, eles se tornaram os principais provedores dos lares, mas acabaram se endividando.”
Em abril deste ano, mostra o levantamento da Serasa, as maiores dívidas dos idosos eram com contas básicas de água, luz e gás. Elas representavam 39,7% do total. Bancos e cartões ficaram em segundo lugar, com 26,7%. Na sequência, vieram financeiras e leasing, com 9,2%. Isso além de varejo, com 8,2%, e telecomunicações, com 6,6%. “Como os idosos tiveram parte da renda comprometida com os consignados, as contas menores, típicas do dia a dia, acabaram ficando para trás”, afirma Camila.
Bocas para alimentar
O aumento de preços, ou seja, a inflação também complicou o quatro. “Quando entrevistamos esses idosos, eles falam que têm gastos elevados e regulares com remédios que não encontram na rede pública e consomem boa parte de suas rendas”, diz a gerente da Serasa. “Ao mesmo tempo, os preços demais produtos aumentam e o número de bocas para alimentar em casa é o mesmo.”
De acordo com a pesquisa da Serasa, embora o crescimento da inadimplência tenha sido maior entre os mais velhos, eles não formam o maior grupo de endividados do país. As pessoas com mais de 60 anos representam 17,7% do total de inadimplentes. Entre 41 e 60 anos, assim como entre 26 e 40 anos, essa fatia é de 34,8%. Até 25 anos, ela fica em 12,4%.
O levantamento também constatou um aumento da inadimplência no Brasil. Em abril, ela alcançava 71,4 milhões de brasileiros, número que representou um crescimento de 732 mil novos endividados em relação a março.