“Não me lembro de nada”, diz fundador da FTX em depoimento
Sam Bankman-Fried admitiu que cometeu “pequenos e grandes erros” e que “muitas pessoas se machucaram” com práticas da corretora cripto
atualizado
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O fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, de 31 anos, admitiu que cometeu “pequenos e grandes erros” e que “muitas pessoas se machucaram” com práticas da corretora de criptomoedas, que foi à falência no fim do ano passado.
Em seu depoimento, no âmbito do julgamento sobre supostos crimes e diversas irregularidades praticadas pela FTX, o empresário afirmou diversas vezes que não se lembrava de fatos mencionados pelas testemunhas de acusação, entre as quais três ex-sócios. “Não me lembro de nada”, repetia.
O empresário é alvo de oito acusações criminais, incluindo fraude eletrônica, conspiração, fraude de valores mobiliários e lavagem de dinheiro. Se condenado, ele pode pegar uma pena total de até 115 anos de prisão.
O ex-CEO da FTX pode pegar 20 anos de prisão por cada acusação de fraude eletrônica e lavagem de dinheiro, além de cinco anos por cada fraude no mercado de valores mobiliários e no financiamento de campanhas políticas.
“Pensamos que poderíamos construir o melhor produto do mercado. Aconteceu, basicamente, o oposto disso. Muita gente se machucou, clientes, funcionários, e a empresa acabou falindo”, disse Bankman-Fried diante de 12 jurados e cinco suplentes do júri, no 12º dia de julgamento.
Segundo a Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio dos EUA, o fundador da FTX orquestrou “uma fraude massiva, desviando bilhões de dólares dos fundos de clientes da plataforma de negociação para seu próprio benefício pessoal e para ajudar a aumentar seu império criptográfico”.
De acordo com a investigação, as fraudes na FTX podem ter causado um prejuízo estimado em US$ 8,7 bilhões a investidores em todo o mundo. A Promotoria dos Estados Unidos afirma ter reunido mais de 1,3 mil provas de crimes praticados por Bankman-Fried.
Tentativa de intimidação
Os promotores alegaram que Bankman-Fried teria tentado intimidar uma das testemunhas no processo, Caroline Ellison, ex-CEO da Alameda Research, braço de investimentos da FTX, e ex-namorada do empresário.
Em dezembro do ano passado, Ellison afirmou, em depoimento, que a FTX tinha plena consciência de que estava enganando credores e utilizando dinheiro dos investidores para inúmeras operações de crédito e outras negociações. Ela se declarou culpada nas acusações de fraude e passou a colaborar com os promotores federais de Manhattan.
Investigações apontaram que o dinheiro recebido por Bankman-Fried se misturava aos fundos da Alameda Research e era usado para financiar investimentos em vários empreendimentos, além de compra de imóveis e doações políticas – tudo isso sem o conhecimento dos investidores.
Em novo depoimento, no início de outubro, já durante o julgamento, Ellison disse que Bankman-Fried teria ordenado um desvio de cerca de US$ 14 bilhões (mais de R$ 70 bilhões) dos clientes da corretora, pouco antes da falência da empresa. “Ele era o chefe da Alameda e me deu instruções para cometer crimes”, afirmou.
Idas e vindas na prisão
No fim de 2022, Bankman-Fried, que havia sido preso, foi solto pela Justiça após pagar fiança de US$ 250 milhões (o equivalente a quase R$ 1,3 bilhão). O acordo tomou como base a parte de Bankman-Fried na casa da família, em Palo Alto, além de uma longa lista de requisitos para que o acusado permanecesse em liberdade no decorrer do processo.
Em agosto, a Justiça americana determinou a volta de Bankman-Fried à prisão. Ele cumpria prisão domiciliar na residência de seus pais, em Palo Alto, na Califórnia, desde dezembro do ano passado.