metropoles.com

Mortes e doenças ligadas a ultraprocessados custam R$ 10,4 bi ao ano

É o que mostra pesquisador da Fiocruz e do Nupens (USP), em estudo encomendado por ONG que defende taxação extra desses alimentos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Getty Images
Criança bebendo refrigerante na garrafa - Metrópoles
1 de 1 Criança bebendo refrigerante na garrafa - Metrópoles - Foto: Getty Images

As mortes e doenças associadas ao consumo de alimentos ultraprocessados têm um custo estimado de R$ 10,4 bilhões por ano no Brasil. A conclusão é de um estudo realizado pelo pesquisador Eduardo Nilson, da Fiocruz Brasília e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Universidade de São Paulo (USP).

O levantamento foi feito a pedido da ACT Promoção da Saúde, uma organização não governamental voltada para a promoção de políticas públicas de controle ao tabagismo e ao uso de álcool, além do estímulo à alimentação saudável. A entidade defende que os ultraprocessados sejam sobretaxados na reforma tributária pelo Imposto Seletivo, o “imposto do pecado”. Em contrapartida, reivindica alíquota zero para alimentos in natura.

O valor de R$ 10,4 bilhões leva em conta três fatores. Eles incluem despesas diretas com tratamentos no SUS de casos de hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2 relacionados a ultraprocessados. Abarca ainda os custos previdenciários com aposentadorias precoces e licenças médicas, além de perdas econômicas com mortes por todas as causas atribuídas ao consumo desses produtos.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz/Nupens, os ultraprocessados incluem ingredientes que habitualmente não são usados no preparo de alimentos (como caseína e isolado proteico de soja), além de aditivos que desempenham uma função “cosmética” para modificar características como a cor, o odor, o sabor ou a textura do produto. Na prática, são guloseimas, biscoitos e balas, mas a lista alcança uma ampla variedade de itens como barras de cereais, misturas para bolos, refrescos e refrigerantes.

Custos diretos

Dos R$ 10,4 bilhões, R$ 933,5 milhões correspondem a custos diretos do SUS por ano, com hospitais, ambulatórios e medicamentos em casos de obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão, doenças crônicas mais prevalentes no país e atribuíveis a ultraprocessados. O valor corresponde a 25% de tudo que é gasto com o tratamento dessas doenças.

Segundo o levantamento, as despesas previdenciárias e com absenteísmo são de R$ 263 milhões por ano. Com isso os custos diretos no tratamento dessas doenças no SUS (hospitalar, ambulatorial e medicamentos/farmácia popular) provocadas por ultraprocessados somam R$ 1,2 bilhão de reais por ano no Brasil.

Mulheres e homens

Os maiores gastos diretos, indica o estudo, referem-se ao tratamento de doenças associadas ao diabetes tipo 2 (41% do total), com hospitalizações e medicamentos do SUS. Os dados ligados à obesidade mostram que os custos com a população feminina são três vezes maiores em relação à masculina. As despesas com os homens, no entanto, são maiores para o diabetes e a hipertensão.

Calorias ingeridas

A ACT aponta que, no Brasil, dados da última Pesquisa de Orçamentos Familiares, conduzida pelo IBGE entre 2017 e 2018, mostram que 19,7% de todas as calorias ingeridas pelos brasileiros são advindas do consumo de alimentos ultraprocessados. Além disso, indica a entidade, 25% da energia da dieta de crianças menores de 5 anos é proveniente desses produtos. Entre 2 e 5 anos de idade, essa proporção é maior, alcançando 30%. Os dados são do recém-lançado Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani/UFRJ).

Custos indiretos

Entre os custos indiretos, o levantamento indica que a economia perde R$ 9,2 bilhões por ano como resultado da mortalidade prematura atribuível ao consumo de produtos ultraprocessados. Esses gastos ocorrem devido à saída de pessoas em idade produtiva do mercado de trabalho por causas de morte que podem ser relacionadas a esses produtos.

Mortes por estado

O estudo especificou ainda a proporção de mortes precoces associadas ao consumo de ultraprocessados em cada estado do país. No Brasil, elas somam 57 mil por ano, o que perfaz 10,5% do total de mortes por todas as causas nesse período.

Em sete regiões do país, porém, esse percentual fica acima da média nacional. Ele chega a 13% no Rio Grande do Sul, o líder do ranking, 12,5% em Santa Catarina, 12,3% em São Paulo, 11,7% no Distrito Federal, 11,1% no Amapá, 10,9% no Rio de Janeiro e 10,7% no Paraná.

Contestação da indústria

Em nota enviada ao Metrópoles, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) contestou o estudo do pesquisador Eduardo Nilson. Diz a entidade: “Trata-se de um relatório superficial, que se baseia em dados de risco relativo, extraídos de estudos já classificados como de baixa qualidade, os quais não foram realizados no Brasil e não incluem informações específicas sobre o país. Portanto, o relatório não reflete a realidade do consumo da população brasileira”.

A Abia acrescenta que a classificação de “alimento ultraprocessado” não possui uma definição clara, “abrangendo mais de 5.700 itens produzidos pelas indústrias brasileiras”. “Entre eles estão produtos como pão, requeijão e iogurte, compondo uma lista extensa e diversificada de alimentos que pouco têm em comum”, diz o comunicado.

Causa preocupação e indignação a disseminação de alegações à sociedade brasileira que atribuem a mais de 5.700 alimentos, produzidos por 41 mil indústrias no país e rigorosamente regulamentados e aprovados por órgãos como a Anvisa e o Ministério da Agricultura, a responsabilidade direta por doenças e mortes.

A nota acrescenta que os “alimentos produzidos pela indústria brasileira passam por rigorosos controles de qualidade e são aprovados não só pelas autoridades nacionais, como internacionais também”. “A confiabilidade desses alimentos é evidenciada pelo fato de o Brasil exportar para mais de 190 países, cumprindo rígidos padrões sanitários de cada mercado”, afirma a associação.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNegócios

Você quer ficar por dentro das notícias de negócios e receber notificações em tempo real?