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Meta de inflação pode mudar? O que estará em jogo na reunião do CMN

Meta de inflação, hoje em 3%, será analisada nesta semana pelo Conselho Monetário Nacional. Decisão incluirá governo e Banco Central

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Edilson Rodrigues/Agência Senado
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1 de 1 roberto-campos-neto-fernando-haddad - Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Passada a reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, uma agenda vista como tão ou mais importante para o futuro da taxa de juros no Brasil ocorre nos próximos dias. O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne na quinta-feira (29/5) para definir os moldes da meta de inflação, tema central para a política monetária.

A meta de inflação para 2024 e 2025 é hoje de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Na reunião desta semana, o CMN, além de poder rever esse patamar, definirá a meta para 2026.

A expectativa geral do mercado é que o governo mantenha as metas, embora haja mudanças esperadas no período de cálculo, entre outros pontos.

O conselho se reúne com três anos de antecedência para definir as metas, mas o debate neste ano ganhou contornos adicionais depois que membros do governo e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva ventilaram, no começo do ano, que uma revisão poderia estar no radar. Lula sabidamente reclamou que a meta em seus primeiros governos era de mais de 4%, e não de 3%.

O CMN é composto pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda e pelo Banco Central, com um voto cada. O governo, então, terá maioria na decisão.

O debate sobre as metas, no entanto, não se restringiu ao Planalto neste ano. Até peixes grandes do mercado financeiro falaram sobre o tema. Em um evento do BTG Pactual em fevereiro visto como um marco na discussão, gestores das renomadas Verde, JGP e SPX disseram publicamente que as metas brasileiras podem ter se tornado pouco críveis com a escalada da inflação mundial.

“Ficamos dizendo que nos EUA a inflação será de 3% ou 3,5%, que será 3% na Europa e no Brasil também será 3%? Sejamos sinceros”, pontuou na ocasião Rogério Xavier, fundador da SPX Capital.

Na época, porém, o debate gerou o efeito contrário ao esperado pelo governo. Antes de o tema ganhar força, as expectativas consenso de inflação para 2024 em diante estavam em torno de 3%, isto é, no centro da meta. Depois, subiram para perto de 4%, sem que mudanças relevantes nos dados de inflação ou novos riscos justificassem essa elevação repentina.

Por ora, o Brasil caminha para descumprir a meta atual pelo terceiro ano seguido. Para 2023, o centro é de 3,25% (com teto de 4,75%), mas as projeções são de que a inflação termine o ano acima de 5%.

Expectativas desancoradas

Independentemente do mérito do debate, economistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que o simples burburinho sobre mudar a meta fez com que os agentes do mercado financeiro elevassem sua expectativa de inflação para 2024 em diante (o chamado “horizonte relevante”).

O cenário fez a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, correrem a afirmar ao mercado em março que a mudança na meta era um “não assunto”. Não adiantou, e as expectativas no médio prazo seguem estancadas em torno de 4% desde então, à espera do CMN. Nem mesmo a melhora na inflação de 2023 tem feito as projeções dos próximos anos baixarem de forma significativa.

O tema é crucial para a discussão sobre a taxa de juros. São as projeções em torno de 4% para os próximos anos que têm feito o Banco Central reiterar em comunicados recentes que não iniciou ainda o corte da Selic porque, entre outros motivos, as expectativas estão “desancoradas”.

Assim, um corte de juros em agosto ainda é “condicional a quedas mais substanciais do Focus [nas projeções do mercado], principalmente depois da definição da meta pelo CMN na próxima quinta-feira”, lembrou a BlueLine Asset Management em nota a clientes.

Com o desastre do começo do ano, o governo sinaliza que não deve mexer nesse vespeiro. Para a reunião desta semana, a expectativa geral é que o CMN vai manter a meta em 3%.

“Uma mudança desse tipo, neste momento, seria o mesmo que uma confissão da incapacidade de o Banco Central trazer a inflação para a meta”, lembrou em entrevista anterior ao Metrópoles o economista André Braz, do Ibre/FGV. Braz disse, no entanto, que isso não significa que não se possa “discutir uma alteração num horizonte mais longo”.

Reforço da meta pode ter efeito prático no Copom

Se confirmada a manutenção da meta atual, o cenário deve ajudar a lançar bases para que o Banco Central inicie um corte de juros em breve.

Segundo pesquisa feita pela BGC Liquidez com 110 players institucionais do mercado financeiro, a manutenção da meta em 3% pode ter efeito “moderado” ou até mesmo “relevante” no balanço de riscos para o Copom.

Pela sondagem, ocorrida entre 19 e 20 de junho, 25% avaliam que a confirmação pode gerar efeito “positivo relevante, na margem” e 42% apostam em efeito “positivo moderado, na margem”.

Só 29% dos entrevistados avaliam que a manutenção da taxa já está “totalmente precificada”. E uma minoria de 5% disse acreditar que o CMN ainda tem “risco não desprezível” de mudar a meta.

Além da definição do valor em si, a reunião do CMN deve trazer outras mudanças de aspecto mais técnico, como nos prazos utilizados.

O mercado e o governo têm falado na adoção de metas não vinculadas ao ano-calendário. Hoje, o Brasil contabiliza a inflação (via IPCA, índice calculado pelo IBGE) até dezembro e, com base nisso, é identificado se o país cumpriu ou não a meta de inflação. Apesar disso, as ferramentas de política monetária, como um aumento na taxa de juros, demoram quase um ano inteiro para fazer algum efeito. Assim, a ideia seria perseguir uma meta “contínua”, e não fixada sempre em dezembro.

“Em recente avaliação da política econômica brasileira, o corpo técnico do FMI [Fundo Monetário Internacional] indica a superioridade de um arranjo com metas não vinculadas ao ano calendário e que tenham sua consecução no horizonte relevante da política monetária”, disse a Fazenda, em nota divulgada neste ano.

Esse tipo de mudança, porém, é comentada no mercado há meses e, a depender do que for decidido, não deve gerar novos riscos.

Um evento relevante como o do CMN nesta semana sempre pode, em alguma medida, trazer incertezas adicionais à política monetária. Mas, se tudo correr como o esperado, a reunião tem potencial para convencer os agentes de que governo e Banco Central trabalharão juntos no controle da inflação. A ver como essas sinalizações serão feitas na próxima quinta-feira.

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