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Mercado faz suas apostas: até onde vai o corte de juros no Brasil?

Economistas e agentes do mercado consultados pelo Metrópoles apostam que a Selic recuará para o patamar entre 9% e 10% no fim do ano que vem

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Imagem de uma mão mexendo com dados em que aparecem símbolos de porcentagem e o nome "Selic", em alusão à taxa de juros - Metrópoles
1 de 1 Imagem de uma mão mexendo com dados em que aparecem símbolos de porcentagem e o nome "Selic", em alusão à taxa de juros - Metrópoles - Foto: Getty Images

Não houve surpresas na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na quarta-feira (1º/11), o penúltimo encontro do colegiado neste ano. A taxa básica de juros (Selic) foi reduzida novamente em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano, mantendo o ritmo das duas reuniões anteriores, em agosto e setembro.

O novo patamar da Selic é o menor desde a reunião do Copom de março de 2022, quando os juros estavam em 11,75% ao ano. Depois de três quedas consecutivas de 50 pontos-base, no entanto, a pergunta feita pelo mercado financeiro é: afinal, até onde a Selic vai baixar?

De acordo com a última edição do Relatório Focus, do BC, divulgada no início desta semana, a Selic deve terminar 2023 em 11,75% ao ano. No comunicado que acompanhou a decisão do Copom, a própria autoridade monetária indica que, se não houver nenhum sobressalto na economia, os juros cairão mais 0,5 ponto percentual em dezembro, o que levará a Selic ao patamar projetado pelo mercado.

Para 2024, ainda segundo o Focus, a estimativa para a taxa básica de juros subiu de 9% para 9,25% ao ano. Para 2025, ela aumentou de 8,5% para 8,75%.

Economistas e agentes do mercado consultados pela reportagem do Metrópoles têm prognósticos semelhantes àqueles expressos pelo Relatório Focus para o ano que vem. A expectativa é a de que a Selic encerre 2024 no patamar entre 9% e 10%.

“Acreditamos que o final do ciclo será próximo a 9% ao ano, no fim de 2024. Com a manutenção do ritmo atual, a taxa Selic deverá estar em 9,75% no fim do primeiro semestre do ano que vem”, projeta o economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso.

Segundo ele, o “plano de voo” da autoridade monetária não foi modificado, mesmo diante de “ruídos” nas últimas semanas – como a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que o governo não deve cumprir a meta de zerar o déficit primário em 2024, um dos compromissos assumidos com o novo Marco Fiscal.

“No fim das contas, a despeito desses ruídos do último mês, a sinalização do BC não se alterou. Ele indica uma preferência de reduzir 50 pontos-base em dezembro e 50 pontos-base em janeiro. O que o BC vê do cenário internacional e do cenário doméstico não é suficiente para alterar o plano de voo, pelo menos no curto prazo”, afirma Cardoso.

Guerras e inflação global podem pesar

Para o professor e mestre em Economia Política André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, a posição da Selic ao final do ciclo de queda adotado pelo Copom dependerá das implicações de fatores externos sobre a economia brasileira – como as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e a taxa de juros dos Estados Unidos.

“Acredito que a Selic deve ficar entre 9,75% e 10% ao ano (no fim de 2024), com viés de alta. A principal explicação para essa taxa terminal mais elevada no ano que vem, talvez com um término prematuro do ciclo de cortes da Selic, vem do comportamento dos juros dos EUA”, explica Galhardo.

“Os juros americanos mais elevados por um período prolongado diminuem a capacidade dos bancos centrais dos países em desenvolvimento, como o Brasil, de operarem sua política monetária olhando apenas para o cenário doméstico”, prossegue o economista. “Como a taxa de juros dos EUA deve permanecer alta por mais tempo, isso deve diminuir a capacidade dos demais bancos centrais de reduzirem suas taxas para patamares mais desejáveis.”

Na mesma quarta-feira em que o Copom baixou a Selic para 12,25% ao ano, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) decidiu pela manutenção da taxa de juros no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano – o maior patamar em mais de duas décadas.

Em entrevista coletiva logo após o anúncio, o presidente do Fed, Jerome Powell, descartou a possibilidade de cortes dos juros e abriu caminho para um aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), em dezembro, a última de 2023. A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.

Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, tem avaliação semelhante à de Galhardo. “O aumento da projeção do Focus para a Selic se deve, principalmente, a esse novo conflito na Faixa de Gaza. Hoje temos duas grandes guerras em andamento: da Rússia contra a Ucrânia e de Israel contra o Hamas. Além disso, a inflação global ainda é um fator que pesa muito”, observa.

Segundo Richetti, o componente decisivo para a trajetória da Selic nos próximos meses continua sendo a inflação – seja no Brasil ou em nível global. “O que definirá a continuação mais intensa ou menos brusca do ciclo de queda dos juros será a inflação. É o fator primordial. Não se olha apenas o controle inflacionário brasileiro, mas o mundo todo”, diz.

No Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou em 0,26% em setembro. Embora tenha acelerado em relação a agosto (quando foi de 0,23%), o indicador veio abaixo das projeções do mercado.

No acumulado de 12 meses, até setembro, a inflação no país foi de 5,19%. Segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é 3,25%. Como há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,75% e 4,75%. De acordo com o Focus, a inflação no Brasil deve terminar 2023 em 4,63% – abaixo, portanto, do teto da meta para este ano.

Já nos EUA, a inflação foi de 3,7% em setembro, na comparação anual, mesmo índice do mês anterior. O resultado veio em linha com as estimativas do mercado. A meta de inflação no país é de 2% ao ano.

“Temos a questão do petróleo em destaque neste momento. O Brasil é um país rodoviário e precisa de combustível. Se houver uma falta desse insumo no mundo, o seu preço vai subir, o que afetará a inflação e poderá fazer com que o ritmo de queda dos juros seja menor ou até que haja uma estabilidade da taxa. O determinante, sempre, será o controle da inflação. E aí entram vários aspectos, tanto econômicos quanto políticos”, completa Richetti.

“Acredito que a Selic fique em uma faixa entre 10,25% e 10,5% no meio do ano que vem. No fim de 2024, deve se aproximar de 9,25% a 9,5%”, projeta o sócio da GT Capital.

A próxima reunião do Copom, a última deste ano, acontece nos dias 12 e 13 de dezembro. Em 2024, o primeiro encontro do comitê está marcado para 30 e 31 de janeiro. Ao todo, serão oito reuniões no ano que vem para definir a taxa básica de juros.

Veja o calendário completo das reuniões do Copom em 2024:

  • 30 e 31 de janeiro
  • 19 e 20 de março
  • 7 e 8 de maio
  • 18 e 19 de junho
  • 30 e 31 de julho
  • 17 e 18 de setembro
  • 5 e 6 de novembro
  • 10 e 11 de dezembro

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