Mercado espera desaceleração no 3º trimestre, mas vê PIB maior em 2023
Para analistas ouvidos pelo Metrópoles, PIB deve desacelerar entre julho e setembro, mas tendência é crescimento acima do esperado no ano
atualizado
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O resultado surpreendente do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre, com alta de 0,9%, acima das projeções do mercado, deve ser sucedido por uma desaceleração da economia do país no período entre julho e setembro.
A avaliação é de economistas e agentes do mercado ouvidos nesta sexta-feira (1º/9) pela reportagem do Metrópoles. A tendência, no entanto, é a de que o PIB de 2023 seja maior do que indicavam as estimativas iniciais, talvez batendo nos 3% no fim do ano.
“Olhando para frente, por um lado, esperamos uma desaceleração da atividade econômica em consequência dos efeitos defasados da política monetária e da dissipação do impulso no período pós-pandemia. Por outro, ainda temos observado um alongamento do choque de oferta positivo, com um mercado de trabalho aquecido. Para 2023, estimamos um crescimento de 3%”, afirma Marco Caruso, economista-chefe do PicPay.
As projeções para o PIB do Brasil em 2023, que vêm sendo revistas por várias instituições financeiras nas últimas semanas, também devem ser refeitas pelo governo. Mais cedo, como noticiado pelo Metrópoles, o Ministério do Planejamento e Orçamento estimou que o país cresça 3% neste ano.
Em nota técnica, a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda também afirmou que já há possibilidade de a economia do país terminar o ano com um crescimento na casa dos 3%.
Segundo a última edição do Relatório Focus, divulgada no início da semana pelo Banco Central (BC), o mercado projetava que a economia brasileira terminasse 2023 avançando 2,31%, acima da projeção da semana anterior (2,29%).
Segundo Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, os principais destaques do PIB do segundo trimestre foram a indústria, os serviços e o consumo das famílias.
“O que chamou bastante atenção foi o desempenho da indústria, que foi positivo, apesar da desaceleração mundial como um todo”, diz. “Mas o principal destaque, na minha visão, fica com o consumo das famílias, que foi de 0,9%. Esse crescimento se deu em virtude do aumento da Bolsa Família e do reajuste do salário mínimo, em linha com a proposta do atual governo, que é mais assistencialista.”
Queda do agro
Em relação ao recuo de 0,9% da agropecuária, que havia sido o principal motor do PIB no primeiro trimestre deste ano, Marco Caruso afirma que o resultado veio dentro do esperado.
“Se considerarmos o crescimento surpreendente de 21% no trimestre anterior, o setor agrícola se mostrou mais resiliente do que estimávamos”, afirma.
Para Richetti, o desempenho do setor também não surpreendeu. “A arroba do boi está muito baixa. A própria negociação das commodities, como um todo, influencia. Agora vai entrar a safra americana e isso prejudica o mercado brasileiro em termos de competitividade”, explica. “A desaceleração do consumo e o preço das commodities interferiram no desempenho do agronegócio.”