Mercado elogia decisão do Copom e vê “inverno longo” até juros caírem
Manutenção da Selic em 13,75% foi bem recebida pelo mercado, que já esperava a decisão; inflação resiliente e incerteza fiscal preocupam
atualizado
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De forma geral, agentes do mercado financeiro receberam sem surpresas e elogiaram a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, apesar de toda a pressão do governo federal para que a autoridade monetária baixasse a Selic.
No comunicado que acompanha o anúncio, o BC foi claro ao indicar que não há que se falar em alívio monetário até que a inflação esteja devidamente controlada no Brasil. Ao justificar a decisão, o Copom também mencionou as incertezas sobre o novo arcabouço fiscal, a força da inflação no exterior e o desarranjo nas expectativas de mercado.
“O comunicado foi sóbrio, duro e reforçou a independência do BC, que se mostrou técnico e atento aos dados que ainda o obrigam a ser mais incisivo na política de juros”, avalia Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.
“Na minha visão, o comitê foi na contramão das expectativas de agentes de mercado mais otimistas que esperavam um tom mais leve e até mesmo uma eventual antecipação de corte de juros para o curto prazo. O inverno continua e, segundo o Banco Central, vai ser longo”, projeta Alves.
Para Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset e ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), a frustração com a decisão do BC “foi mais da parte política do que da parte técnica”.
“O que muitos políticos estavam imaginando não tinha fundamento. Só existiu possibilidade de cortar juros em dezembro do ano passado. De lá para cá, muita coisa se deteriorou. Vimos uma PEC da Transição muito maior do que era necessário e as expectativas de inflação aumentaram muito, de forma continuada, geral e irrestrita. Isso amplia o custo de desinflação, como disse o BC em seu comunicado”, afirma.
Questão fiscal
Segundo os analistas consultados pelo Metrópoles, as indefinições do governo em relação à política fiscal também não contribuem para uma eventual redução da taxa de juros no país.
“Tivemos uma piora fiscal, com uma direção claramente expansionista. Claramente, o governo não está topando o custo da desaceleração da atividade econômica, que é mandatório para que a política monetária tenha o seu efeito”, avalia Leal de Barros.
Segundo Idean Alves, “o governo segue gastando de forma indiscriminada e arrecadando menos”. “O que ajudou a aliviar um pouco essa pressão foi a recente reoneração dos combustíveis, que contribuiu com o lado da receita do governo. Serão necessárias mais sinalizações como essas. O novo arcabouço poderia resolver e traria alívio para um processo de inversão de curva de juros”, afirma.
Emprego mencionado no comunicado do BC
Em seu comunicado, o BC afirmou que a decisão de manter a Selic em 13,75% ao ano “é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta” e não prejudica “seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços”, mas “também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.
O economista Márcio Holland, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, classificou como “ruim” esse trecho do texto e o interpretou da seguinte maneira: “Dado o balanço de riscos apresentado no comunicado, o ideal é não fazer movimentações na política monetária. Outra decisão poderia aumentar as incertezas dos agentes econômicos, algo que provocaria dúvidas sobre a estratégia do próprio BC”. Por isso, cita a nota, a “decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.