Mercado comemora mudança do modelo de meta da inflação
A partir de 2025, ela deixará de ser fixada por ano e será “continua”. Entenda a diferença
atualizado
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“Com o novo modelo de metas, o país evita excessos de volatilidade no sistema econômico. É um aperfeiçoamento a partir do qual passamos a usar o mesmo tipo de estratégia adotada em diversos países, entre eles, o Reino Unido, um dos pioneiros do regime.” Essa é a opinião do economista Márcio Holland, professor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), sobre a mudança do modelo de meta de inflação, promovida nesta quinta-feira (29/6), pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O Brasill adota um fomato de meta definido como “ano-calendário”. Ou seja, o CMN estabelece um patamar para a inflação em determinado ano. Em 2023, por exemplo, ele é de 3,25%. O Banco Central (BC) tem de cumpri-la. Caso não consiga, é obrigado a justificar o porquê do fiasco por meio de uma carta enviada ao Congressso.
A meta contínua, que será adotada a partir de 2025, não fica limitada ao período de um ano. Ela poderá ser adotada num “horizonte relevante”, como dizem os técnicos, para a política monetária – de 18 meses, por exemplo – para que o BC consiga levar a taxa de inflação para o patamar desejado.
O corpo técnico do Fundo Monetário Internacional (FMI), em recente avaliação da política econômica brasileira, havia indicado a superioridade de um arranjo desse tipo, com metas não vinculadas ao ano-calendário.
“A notícia vai ser muito bem recebida pelo mercado”, afirma Holland. “Não é uma decisão casuística porque vale para 2025 em diante. Ela vai melhorar a potência da polícia monetária ao permitir calibrar melhor a dosagem de taxa de juros conforme a conjuntura ecômica.”
Integrantes do mercado de capitais também reagiram com alívio à alteração. Mesmo porque havia a possibilidade de uma mudança no percentual da meta, algo que, para muitos especialistas, seria desastroso. “Os juros já estão caindo e há alívio do mercado, porque houve uma mudança de tipo da meta, mas o alvo para 2025 foi mantido em 3%”, diz Enrico Cozzolino, sócio da Levante Investimentos. “A Bolsa, que subiu hoje, já refletiu postivamente essa troca de padrão.”
Comprometimento
“O grande ponto é que o governo está, implicitamente, afiançando que, seja quem for o presidente do BC que será nomeado em 2025, seguirá comprometido com a meta”, afirma o analista e consultor Ricardo Schweitzer. “Esse é um aceno na direção de um BC responsável no período pós-RCN (Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central).”
Grande expectativa
O mercado aguardava com grande expectativa o resultado da reunião do CMN. O órgão realiza encontros mensais, mas apenas em junho discute questões ligadas à meta de inflação. É a partir dessa meta que o Banco Central (BC) executa a política monetária. Para isso, ele usa a taxa básica de juros do país, a Selic, hoje fixada em 13,75% ao ano, para controlar a economia e evitar o avanço dos preços. Quanto mais alta a Selic, mais fraca é a atividade econômica e, com isso, menor tende a ser a inflação.
O governo federal e integrantes do PT, contudo, vinham atacando o BC pela manutenção da Selic no atual patamar – o que inibi o crescimento econômico. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a sugerir um aumento da meta, como estratégia para permitir um corte mais rápido da Taxa Selic.