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Mercado aprova Tebet, mas teme ministério submisso a Haddad

Segundo analistas ouvidos pelo Metrópoles, a tendência é que Simone Tebet tenha dificuldades para fazer frente ao colega de Esplanada

atualizado

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1 de 1 simone tebet em foto colorida close - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A indicação da senadora Simone Tebet (MDB-MS) para o Ministério do Planejamento, que deve ser confirmada oficialmente nas próximas horas, foi bem recebida pelo mercado financeiro. A grande preocupação, no entanto, é se a pasta – que será recriada pelo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – terá força suficiente para servir como contraponto ao ministro da Fazenda, o petista Fernando Haddad.

Segundo analistas ouvidos pelo Metrópoles, a tendência é que Tebet tenha dificuldades para fazer frente ao colega de Esplanada nas principais questões econômicas. A senadora, candidata derrotada ao Palácio do Planalto em 2022, tem um perfil liberal na economia, defende privatizações e sempre foi favorável ao teto de gastos – posições distintas de Haddad, Lula e do PT.

“A indicação da senadora Simone Tebet para o Planejamento tem uma boa recepção pelo mercado. Ela tem um perfil considerado mais prudente e afeito ao diálogo. Isso ajuda bastante a trazer um contraponto à equipe mais heterodoxa do Haddad na Fazenda”, afirma Hugo Queiroz, estrategista-chefe e diretor do TC.

“Vai depender muito do que estiver dentro do Ministério do Planejamento. Se os bancos públicos estiverem mesmo fora, como deve acontecer, a pasta não terá tanta força”, pondera Queiroz. “A presença dos bancos públicos na pasta evitaria o retorno daquela matriz econômica equivocada do fim do segundo mandato do governo Lula e dos mandatos da Dilma, que usaram os bancos públicos para fazer a economia girar.”

Ao aceitar o convite de Lula, Tebet manifestou interesse em ter sob sua alçada a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, mas o presidente eleito descartou de imediato essa possibilidade. As instituições seguem sob o guarda-chuva da Fazenda. No Ministério do Planejamento, ela terá o comando do comitê gestor do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), mas a coordenação dos projetos ficará sob tutela da Casa Civil.

“Será importante observar, ao longo do tempo, o quão submissa essa pasta será em relação à Fazenda. Se o ministério poderá se posicionar efetivamente ou se sempre terá de acatar o que será determinado”, diz o diretor do TC.

A mesma dúvida é compartilhada por Gabriel Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset, que destacou o apoio dado a Tebet por um grupo de economistas de viés liberal durante a campanha presidencial.

“O nome da Simone é bom, recebido de forma positiva, também pelo fato de ela ter sido assessorada na campanha por economistas com uma linha mais pró-mercado, como a Elena Landau, por exemplo. É uma linha econômica diferente do time que está sendo montado pelo Haddad na Fazenda”, afirma.

“A dúvida que fica é se ele vai ter condições de trabalhar. Claramente, é um nome muito bom, o mercado enxerga com capacidade de contribuir e fazer esse contraponto, mas fica a dúvida sobre em que condições ela assumirá o Ministério do Planejamento.”

“Erro político”

Na avaliação do economista-chefe da Gladius Research, Benito Salomão, Simone Tebet cometeu um “erro político” ao aceitar o convite de Lula para ser ministra do Planejamento. Para o economista, a pasta, na atual configuração, ficará esvaziada e sem poder de decisão para contrapor eventuais equívocos do Ministério da Fazenda.

“Acho que a Simone Tebet poderia liderar uma terceira via para a eleição de 2026 se tivesse ficado distante do governo. Ela tem muito pouco a ver com o núcleo da equipe econômica do governo Lula liderada pelo Haddad, com nomes como Aloizio Mercadante [futuro presidente do BNDES] e economistas muito heterodoxos”, afirma. “Já que ela não conseguiu o Ministério do Desenvolvimento Social, que era o que ela queria, entendo que deveria ter ficado fora do governo. Foi um erro político.”

Segundo o economista, Tebet ficará deslocada em um governo que defende posições antagônicas às dela sobre diversos temas.

“Ela fará parte de um governo que, logo de cara, já se anunciou contrário a privatizações e o teto de gastos, por exemplo. Não vejo a Simone como um fator moderador do governo ou alguém capaz de fazer um contraponto ao Haddad”, diz Salomão. “A Simone não é um quadro da economia, é um quadro da política. Como quadro da política, não a vejo fazendo grande resistência à política econômica que será adotada.”

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