Mercadante: “Nós precisamos mudar a indústria automotiva brasileira”
Para Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, não faz sentido “o Brasil desonerar importação e taxar produção doméstica”
atualizado
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O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou nesta segunda-feira (12/6) que o Brasil precisa mudar sua indústria automotiva para se tornar mais competitivo no mercado internacional.
As declarações foram dadas durante o seminário “Desafios e oportunidades de crédito com o BNDES”, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista. Foi a segunda visita do comandante do BNDES à Fiesp em menos de três semanas.
“O que não faz sentido é o Brasil desonerar importação e taxar produção doméstica. Temos que buscar outro modelo. Quem gera emprego, paga salários e paga impostos não tem nenhum tipo de benefício. E o carro que vem pronto de fora é desonerado”, criticou Mercadante.
“Nós precisamos mudar a indústria automotiva brasileira e gerar emprego aqui. Nós temos uma história extremamente exitosa na indústria automotiva e temos que voltar a ela”, prosseguiu o presidente do BNDES. “Ou mudamos ou mudamos. Estamos perdendo mercado.”
Mercadante citou exemplos dos Estados Unidos e de países da Europa e disse que o Brasil tem de modernizar sua indústria para aumentar sua competitividade. Segundo ele, o BNDES pode exercer um papel importante para fomentar essa modernização.
“O BNDES é um banco público. Temos em torno de 520 bancos públicos no mundo, que são responsáveis por 15% do investimento na economia mundial. Os países que têm bancos e entidades de fomento são os que mais cresceram nos últimos tempos”, destacou Mercadante.
“A União Europeia, além de 825 bilhões de euros em um programa voltado para o fomento da indústria, acabou de criar um banco público voltado apenas para o hidrogênio verde”, disse o presidente do BNDES.
Mercadante afirmou ainda que o governo “poderia abrir uma linha especial para a compra de ônibus elétrico, para alavancar a demanda”.
“É evidente que temos interesse na descarbonização. Mas metade da nossa emissão é desmatamento e queimada e 24% é agropecuária. Dois terços do nosso problema estão muito mais no campo do que na cidade”, ponderou. “De qualquer forma, nós vamos ter que avançar na direção do carro elétrico e do ônibus elétrico. Esse é o futuro.”
Segundo Mercadante, a indústria automotiva “tem grande impacto na economia” e o Brasil não pode “desaprender o que já fez no passado”. “Temos que fomentar o emprego aqui, no chão da fábrica”, concluiu.
Programa de incentivo à indústria automotiva
Na semana passada, o governo federal anunciou medidas de incentivo à indústria automotiva no Brasil. O programa prevê desconto de R$ 2 mil a R$ 8 mil no preço final de carros, além de subsídios para a redução do valor de caminhões.
O governo pretende gastar cerca de R$ 1,5 bilhão com o pacote: R$ 500 milhões para carros, R$ 700 milhões para caminhões e R$ 300 milhões para vans e ônibus.
Segundo especialistas, as medidas podem funcionar no curto prazo, mas não têm capacidade de causar efeitos estruturais no setor.