Meirelles critica Lula por chamar teto de gastos de “estupidez”
Ex-ministro da Fazenda, que comandou Banco Central no primeiro governo Lula, diz que acabar com o teto será um equívoco do novo governo
atualizado
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O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que implementou o teto de gastos quando ocupou a pasta, durante o governo de Michel Temer (2016-2018), demonstrou preocupação com as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso de posse, em Brasília.
Na ocasião, o petista se referiu ao teto de gastos como uma “estupidez”. “O SUS é, provavelmente, a mais democrática das instituições criadas pela Constituição de 1988. Certamente por isso, foi a mais perseguida desde então e foi, também, a mais prejudicada por uma estupidez chamada teto de gastos, que haveremos de revogar”, disse Lula.
“Ele tem declarado e tomado algumas medidas no sentido de seguir uma política econômica em que o aumento dos gastos públicos e a intervenção nas estatais é que vai impulsionar o crescimento. A experiência mostra que não é o que tem acontecido”, disse Meirelles, em entrevista à CNN Brasil.
“Isso foi feito no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, e o que aconteceu foi um aumento da dívida pública, do déficit e uma queda da confiança e dos investimentos. Em consequência disso, nós entramos em uma recessão”, recordou o ex-ministro da Fazenda.
Para Meirelles, “o que gera emprego são o investimento privado e o aumento da confiança”. “Se o presidente Lula acredita que expandir as contas públicas é o que vai gerar crescimento e que aumentar a dívida pública não tem problema, é evidente que o teto de gastos só atrapalha”, afirmou. “A solução seria aumentar as despesas necessárias e cortar outras despesas desnecessárias, como uma série de companhias que perderam a finalidade ou benefícios tributários que já não se justificam mais.”
Durante a entrevista, Meirelles disse ainda que demonizar o mercado, como se este fosse composto apenas por grandes investidores e banqueiros, é um equívoco. “O padeiro lá da cidade do interior de Pernambuco também é mercado. Se ele acredita que a economia vai crescer, ele compra um forno novo e contrata funcionários”, afirmou.
Mendonça de Barros
O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), também foi entrevistado pela CNN e criticou a decisão do novo governo de excluir a Petrobras do programa de desestatização e privatização.
“O presidente quer marcar o mandato dele com linhas muito fortes do pensamento econômico do PT. Essa medida hoje é inócua. Você olha a lista das estatais e, tirando a Petrobras, não tem nenhuma grande estatal que veio da época do Getúlio Vargas”, afirmou. “É um decreto para marcar uma posição política, e ele tem todo o direito, mas, do ponto de vista objetivo, não agrega nada.”
Questionado sobre o que esperar do terceiro mandato de Lula na área econômica, Mendonça de Barros disse que os primeiros sinais são preocupantes.
“A grande dificuldade dos analistas é entender qual será a linha do terceiro governo Lula. Ele teve um caminho no seu primeiro mandato, um outro caminho no seu segundo mandato, um terceiro caminho do PT com a Dilma, e o Lula volta agora”, afirma.
“A minha leitura é a de que, dado o discurso de posse e algumas ações agora, me parece muito mais o Lula do segundo mandato. É o Lula com a mesma leitura do papel do Estado, que é uma leitura clássica do PT. Se isso acontecer, nós sabemos o tipo de problema que teremos pela frente”, concluiu.