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Magalu despenca na Bolsa com lançamento indevido e revisão de balanço

Pouco depois da abertura do pregão, pela manhã, os papéis do Magalu desabaram mais de 9%. No meio da tarde, a queda era de 1,16%, a R$ 1,71

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1 de 1 Imagem colorida mostra a silhueta de uma mão segurando um celular e o logotipo do Magazine Luiza, escrito Magalu, ao fundo - Metrópoles - Foto: Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

As ações do Magazine Luiza registraram uma forte queda no pregão desta terça-feira (14/11), depois de a companhia informar que identificou lançamentos indevidos de bonificações em exercícios anteriores.

A investigação foi iniciada após uma denúncia anônima apresentada em março deste ano.

Segundo o gigante do varejo, o episódio levou a uma revisão das demonstrações financeiras referentes a 2022 e aos dois primeiros trimestres de 2023.

De acordo com o Magalu, considerando todos os ajustes, o impacto total sobre o patrimônio líquido foi de R$ 322 milhões, o que corresponde a 1% dos ativos.

Pouco depois da abertura do pregão, pela manhã, os papéis do Magalu desabaram mais de 9% e entraram em leilão.

A recuperação das ações só começou a acontecer no meio da tarde. Às 14h30, os papéis da varejista recuavam pouco mais de 4%, negociados a R$ 1,66.

Às 15h30, a queda nas ações do Magalu era de 1,16%, a R$ 1,71.

Entenda o caso

A denúncia feita em março apontou que o Magalu estaria contabilizando parte das bonificações com fornecedores – condicionadas ao desempenho das vendas ao consumidor – antes da conclusão das campanhas de vendas.

De acordo com o diretor financeiro do Magalu, Roberto Bellissimo, uma auditoria realizada pela PwC indiciou que “houve boa fé dos administradores” nos erros de lançamentos de bonificações.

Segundo o Magalu, R$ 829,5 milhões foram excluídos da linha de patrimônio e só devem ser novamente reconhecidos caso os requisitos das campanhas sejam cumpridos.

Bellissimo diz ainda que houve “reconhecimento antecipado” de parte dos créditos, o que levou à reapresentação dos resultados financeiros do ano passado e do primeiro e segundo trimestres deste ano. Não houve alteração do fluxo de caixa operacional de resultados anteriores.

Depois da conclusão da auditoria, diz o executivo, todos os fornecedores devem migrar para um “sistema automatizado” que aglutina dados dos acordos de bonificação e do desempenho de vendas.

Balanço do 3º trimestre

Como noticiado pelo Metrópoles, o Magazine Luiza divulgou seus resultados do terceiro trimestre de 2023. A varejista registrou um lucro líquido de R$ 331,2 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 190,9 milhões do mesmo período do ano passado.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 487,5 milhões, um recuo de 0,7%, na comparação anual.

“Com base nos precedentes judiciais e na opinião dos nossos assessores legais, o Magalu reconheceu neste trimestre créditos tributários, referentes a períodos anteriores a 2022, no total de R$ 688,7 milhões, sendo R$ 533,1 milhões de principal e R$ 155,6 milhões de atualização monetária”, informou o Magalu.

Da máxima histórica à derrocada das ações

Como mostrou reportagem publicada pelo Metrópolesos papéis do Magazine Luiza tiveram, no início de outubro, um derretimento de 93,5%, atingindo o menor patamar em seis anos, desde 2017.

O Magazine Luiza parecia voar em céu de brigadeiro em meados de 2020, em meio ao “boom” do comércio eletrônico no início da pandemia de Covid-19. No dia 5 de novembro daquele ano, as ações da companhia foram negociadas a R$ 27,40, de acordo com levantamento do consultor de dados de mercado Einar Rivero.

Quase três anos depois da máxima histórica, no pregão de 6 de outubro de 2023, os papéis do Magalu eram vendidos por R$ 1,78, o que significa um derretimento de 93,5% em um período de 35 meses. Também foi o menor patamar em seis anos, desde dezembro de 2017.

“Para a ação chegar ao topo histórico, lá atrás, havia um cenário perfeito para o setor de varejo. Houve uma mudança cultural de comportamento do consumidor, com o uso muito maior do e-commerce do que das lojas físicas tradicionais. A empresa estava com uma estrutura mais bem montada para atender esse movimento. O Magalu estava pronto para surfar aquela tempestade perfeita e capitalizar”, explica Hugo Queiroz, especialista em investimentos e diretor de Corporate Advisory da L4 Capital.

Em três anos, observa Queiroz, muita coisa mudou tanto no mercado varejista quanto no cenário macroeconômico. “Viu-se que continuou aumentando o consumo por plataformas digitais, mas ainda usando boa parte do varejo tradicional. Nesse período, o cenário macroeconômico se deteriorou muito em termos de inflação e taxa de juros. Isso piorou o ambiente de consumo porque o crédito ficou mais caro e a maior parte das compras é a prazo”, diz.

A desconfiança dos investidores em relação ao Magalu aumentou diante dos resultados decepcionantes dos dois primeiros trimestres deste ano. Entre janeiro e março de 2023, a empresa acumulou um prejuízo líquido de de R$ 391,2 milhões – um aumento de 142,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o saldo negativo foi de R$ 161,3 milhões.

Já no segundo trimestre, o prejuízo líquido foi de R$ 301,7 milhões, subindo 123% em relação ao período entre abril e junho de 2022 (quando a companhia havia ficado no vermelho em R$ 135 milhões).

Para piorar, em agosto deste ano, a S&P Global – uma das três maiores agências de classificação de risco do mundo – reduziu a nota de crédito nacional do Magalu, que passou de “brAA+” para “brAA-”, com perspectiva negativa mantida.

Segundo a agência, o corte da nota de crédito se deve a patamares de alavancagem acima do esperado. Atualmente, o setor de varejo no país vive um momento difícil, impactado, principalmente, pela alta carga tributária.

A alavancagem é o uso de determinados recursos para aproveitar oportunidades de multiplicar os resultados. Em linhas gerais, ela funciona como um limite de crédito, possibilitando investimentos de valores maiores do que se tem em conta, o que gera algum endividamento.

Segundo os analistas da S&P, o processo de desalavancagem do Magazine Luiza deve durar mais do que o esperado inicialmente, diante das dificuldades do varejo.

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