Lula, Dilma ou Bolsonaro: em qual governo os bancos mais lucraram?
Segundo dados da Economatica, os maiores bancos brasileiros (Itaú, Bradesco, BB e Santander) lucraram R$ 1,3 trilhão nos últimos 20 anos
atualizado
Compartilhar notícia
Entra governo e sai governo, uma realidade permanece: os bancos brasileiros seguem compondo o setor mais lucrativo da economia. Em discurso recente, o presidente Lula argumentou que as instituições financeiras (em especial as estatais) viveram o auge durante os mandatos petistas.
A pedido do Metrópoles, a plataforma Economatica levantou o lucro anual dos maiores bancos brasileiros nas últimas duas décadas. Em 20 anos, Itaú, Bradesco, BB e Santander) lucraram juntos R$ 1,3 trilhão.Os dados foram reajustados pela inflação do período, para que fossem comparáveis.
Primeiro, os números mostraram que Lula estava, em partes, certo. Para o Itaú e o Banco do Brasil, os anos de ouro, marcados pelos maiores lucros históricos, foram entre 2011 e 2014, no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
No primeiro mandato de Dilma, o Itaú, o maior banco brasileiro, acumulou lucros de R$ 111 bilhões. Já o BB registrou ganhos de R$ 90 bilhões. Aqui, no entanto, vale mencionar que a instituição estatal quase bateu o recorde durante o mandato de Jair Bolsonaro, quando lucrou R$ 89 bilhões.
Já para os bancos Bradesco e Santander, os anos de governo Bolsonaro foram os mais lucrativos. Apesar da pandemia e dos juros, o Bradesco registrou lucro de R$ 91 bilhões e o Santander teve ganhos de R$ 61 bilhões. O ótimo desempenho das instituições financeiras em 2019 ajudou a compensar os efeitos negativos dos anos seguintes.
Veja abaixo o lucro de cada banco durante os governos Lula, Dilma e Bolsonaro:
Conjuntura e pandemia
Os dados da Economatica revelam um paradoxo: os melhores anos para os bancos brasileiros foram 2015 (para o Itaú), 2019 (para o Bradesco e Santander) e 2022 (para o Banco do Brasil). São anos com diversas disparidades.
Começando pelo contexto macroeconômico. Em 2015 e 2022, os juros estavam próximos a 14%. A Selic elevada amplia as margens dos bancos, pois o retorno do crédito aumenta. Por outro lado, há um efeito posterior negativo, uma vez que juros mais caros estimulam o aumento da inadimplência. Já em 2019, o cenário era outro: os juros estavam sob controle, na casa dos 6%.
“Em 2019, houve uma queda estrutural da Selic por causa da aprovação da reforma da Previdência. Como os juros longos caíram, as aplicações em tesouraria dos bancos foram bem e a relação de crédito ficou mais saudável”, explica João Abdouni, analista do setor financeiro da Skopos.
Ele explica que, não fosse a pandemia e a disparada da inflação e da Selic, o desempenho dos bancos teria sido muito melhor nos últimos anos.
Quando a Covid-19 chegou ao Brasil, as instituições financeiras puxaram o freio de mão para a concessão de crédito, uma vez que não se sabia ainda o que viria pela frente. Conforme o cenário foi ficando mais claro, os bancos começaram a soltar o freio. A concessão de financiamentos aumentou, mas a inadimplência veio, por causa da alta da Selic, que saltou de 2% para 13,75%.
O único banco que conseguiu manter resultados melhores no cenário pós-pandêmico foi o Banco do Brasil, em razão da sua maior exposição a carteiras com índices baixos de inadimplência, como o agronegócio e o funcionarismo público.
“30% da carteira do BB está focada no agro, um setor que cresceu muito nos últimos anos em razão do ciclo favorável às commodities. Além disso, desde o governo Temer, o banco reforçou suas estruturas de governança, o que também reflete no resultado”, avalia Abdouni.
Já o Bradesco foi o completo oposto. O banco viveu seu tempo áureo em 2019 e não conseguiu mais repetir o bom lucro. O analista da Skopos explica que o banco tem a maior exposição, entre os concorrentes, ao varejo, pessoas de menor renda e pequenas e médias empresas. Em um cenário positivo, essa exposição ajuda o Bradesco. Em um cenário de aperto, a composição reduz o lucro.
“Efeito Americanas” e concorrência
Luis Santacreu, analista do setor financeiro da agência de risco Austin Rating, aponta outro obstáculo no caminho dos bancos: a concorrência. Ele explica que, em 2015, quando o Itaú teve o maior lucro da história, a pressão competitiva das fintechs e bancos digitais era menor. As receitas de cartões e conta corrente, por exemplo, não tinham sido impactadas pelo movimento de isenção de tarifas promovidos pelos novos concorrentes.
Por outro lado, ele diz que isso não significa que os bancos terão um caminho espinhoso pela frente. Nos últimos anos, os líderes de mercado também cortaram custos, fechando agências e reduzindo a estrutura de funcionários, e investiram em digitalização. O efeito desse trabalho será sentido nos lucros dos próximos anos.
O obstáculo mais imediato é a crise desencadeada pelo problema contábil da Americanas. Dado que o rombo de R$ 20 bilhões no balanço da varejista pode ser fruto de uma maquiagem de dívida, os bancos decidiram apertar a concessão de crédito para todo o empresariado. O efeito disso será um crescimento mais modesto na carteira de financiamentos em 2023.
Outro evento negativo é o próprio provisionamento de dívidas que não foram pagas pela Americanas e por outras empresas. Quando os bancos sofrem um calote, eles devem dar “baixa contábil” nesses valores, o que reduz o lucro. Foi o efeito Americanas, aliás, que impediu um resultado melhor em 2022 do setor. Vale lembrar que o Bradesco e o Itaú provisionaram 100% da dívida da empresa no balanço do ano passado.
“Se excluirmos esse evento, os bancos privados teriam replicado o ótimo resultado do Banco do Brasil, instituição que tinha baixa exposição à Americanas”, finaliza Santacreu.