Lojas, funcionários, clientes: veja o estrago da fraude na Americanas
Desde janeiro, a crise da varejista produz uma sangria na área operacional da empresa. Conheça os números
atualizado
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A fraude na Lojas Americanas, a maior do mundo corporativo no Brasil, provocou um rombo contábil estimado em R$ 20 bilhões, além do acúmulo de dívidas da varejista de cerca de R$ 43 bilhões. O estrago provocado pela falcatrua, contudo, não se resume a tais números, por mais impressionantes que eles sejam. Eles se estende à área operacional da varejista.
De acordo com dados dos relatórios mensais divulgados pelos administradores judiciais da companhia, que está em recuperação judicial desde 19 de janeiro, o baque provocado pela crise da varejista afetou funcionários, lojas, clientes, investimentos e caixa, para citar alguns exemplos (veja os números abaixo).
Isso considerando os fatos tornados públicos nos últimos meses pelos administradores judiciais, pela empresa Preserva-Ação e pelo escritório Zveiter Advogados. Muitas informações têm sido tratadas sob sigilo, uma vez que a empresa alega que tais dados são estratégicos para o desempenho de suas atividades. Eles incluem, por exemplo, tópicos como fluxo de caixa, totais de vendas e produtos vendidos.
Clientes ativos
Entre os dados públicos, sabe-se que, em dezembro de 2022, mês anterior à divulgação da fraude, a Americanas contava com 49.118.405 (49 milhões) de clientes ativos. Em julho de 2023, o último dado disponível sobre esse tópico, o número havia caído para 43.184.789 (43 milhões), o que corresponde a uma queda de quase 6 milhões (exatos 5.933.616).
Esse índice mede a quantidade de clientes que realizaram ao menos uma compra ou interação com a empresa em determinado período. Ele representa a base de fregueses engajados, ativamente envolvidos com a marca. Note-se que, em julho de 2022, seis meses antes da crise, esse total era de 50.124.102. Nessa comparação, o recuo da clientela foi de quase 7 milhões no pós-fraude.
Os administradores judiciais destacam, no relatório, que a diminuição nesse quesito já vinha ocorrendo desde meados de 2022, mas ela se acentuou depois que a “maracutaia” foi exposta. “Entre agosto e dezembro de 2022, ocorreu uma diminuição de 2,1% no número de clientes ativos”, diz o texto. “No entanto, em 2023, essa redução se acentuou, registrando queda de 12,1%.”
Investimentos
Os aportes no negócio também minguaram. De acordo com o relatório, o total investido pela Americanas em julho deste ano foi de R$ 7.275.534 (R$ 7,2 milhões). “Esse valor”, destaca o documento, “foi 95% menor do que a média de investimentos realizados entre agosto e dezembro de 2022 (antes da crise), calculada em R$ 144.590.973”. “Os dados mostram ainda que, em julho de 2023, o canal digital não recebeu investimentos”, acrescentam os administradores judiciais.
Funcionários
O atual número de funcionários contratados sob o regime da CLT do grupo Americanas é de 34.380, segundo um relatório complementar, divulgado nesta semana (na quarta-feira, 20/9). Desde janeiro, houve uma redução de pouco mais de 5 mil trabalhadores nos quadros da companhia. Em maio, eles somavam 38.098.
Lojas
Em dezembro de 2022, as Americanas mantinham 1.882 lojas espalhadas pelo Brasil. Em 10 de setembro de 2023, eram 1.785. Ou seja, 97 delas foram fechadas nesses oito meses.
Caixa
O caixa da Americanas, um item importante na gestão de qualquer companhia, também acusou o golpe da fraude. O montante disponível em caixa e equivalentes de caixa somava R$ 1.764.068.618 (R$ 1,7 bilhão), em julho de 2023. Aponta o relatório: “O valor representa 38% do saldo de dezembro de 2022, último fechamento mensal antes do ajuizamento da recuperação judicial”.
Varejo claudicante
Dois fatos, porém, contextualizam e, nesse sentido, atenuam esse conjunto de avarias. Um deles é que a comparação anterior à crise é feita com base em dezembro de 2022. O último mês do ano é o mais rechonchudo para o varejo e é natural que alguns números enfraqueçam nos meses seguintes. O problema da Americanas é que a sangria nos itens mencionados não parou no decorrer de 2023.
Outro dado a ser considerado é que o varejo brasileiro, em geral, e os concorrentes da Americanas, em particular, têm tido problemas. É isso o que evidenciam os últimos balanços divulgados pelas Casas Bahia e pelo Magazine Luiza, o Magalu, para citar dois exemplos.
Nesse caso, as informações não podem ser diretamente comparadas, mesmo porque a Americanas passa por uma situação peculiar e nem sequer divulgou seu balanço de 2022. Ainda assim, as informações a seguir ilustram a situação de duas grandes varejistas nacionais.
A Casas Bahia (antiga Via) registrou um prejuízo líquido de R$ 492 milhões no segundo trimestre de 2023, revertendo um lucro de R$ 6 milhões anotado do mesmo período de 2022. Em agosto, anunciou que pretende fechar de 50 a 100 lojas ainda neste ano, além de promover demissões. O Magazine Luiza apresentou prejuízo líquido de R$ 301,7 milhões no segundo trimestre de 2023. A quantia representou uma elevação de 123% em relação ao resultado negativo de um ano atrás.