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Justiça confisca US$ 11 bilhões de “rei (deposto) das criptomoedas”

Além de ter sido condenado a 25 anos de prisão, Sam Bankman-Fried, cofundador da FTX, terá de indenizar ex-clientes por fraude bilionária

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Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, chegando para prestar depoimento em julgamento. Ele é escoltado por seguranças e veste um terno azul escuro com gravata e camisa branca - Metrópoles
1 de 1 Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, chegando para prestar depoimento em julgamento. Ele é escoltado por seguranças e veste um terno azul escuro com gravata e camisa branca - Metrópoles - Foto: Michael M. Santiago/Getty Images

É impressionante a quantidade de bordões que cercam a figura de Sam Bankman-Fried, de 32 anos, o cofundador da bolsa de criptomoedas FTX e do fundo de investimentos Alameda Research. Ele vem sendo chamado de o “rei”, o “magnata”, o “imperador”, ou mesmo, o “chefão” das criptomoedas. Em paralelo, o golpe que aplicou no mercado é definido como a “fraude da década” ou, num tom um tanto mais exacerbado, a “maior fraude da história”. O fato é que os números e o enredo que cercam o jovem larápio impressionam e fazem proliferar tais clichês.

Garoto abonado, filho de professores da renomada Faculdade de Direito de Stanford, há dois anos ele estava a frente de um negócio, a FTX, avaliado em US$ 32 bilhões, mas foi condenado a 25 anos de prisão (os promotores queriam entre 40 e 50 anos) por ter aplicado um golpe de US$ 8 bilhões na praça. A maracutaia rendeu-lhe sete acusações de fraude eletrônica e conspiração por lavagem de dinheiro. Isso sem contar que o “rei-magnata” teve US$ 11 bilhões (o equivalente a cerca de R$ 55 bilhões) confiscados pela Justiça para indenizar suas vítimas.

A sentença foi aplicada na quinta-feira (29/3) pelo juiz Lewis Kaplan, do Tribunal de Nova York. Ele concluiu que os clientes da FTX perderam US$ 8 bilhões, os investidores de capital da empresa viram outros US$ 1,7 bilhão ir para o buraco e os credores do fundo Alameda Research foram tungados em mais US$ 1,3 bilhão. 

Para ouvir a sentença, o “ex-jovem prodígio” chegou ao tribunal de Nova York, em Manhattan, por volta das 9h40 de quinta-feira, usando o traje cáqui dos presidiários e com o cabelo penteado para trás, mas mantendo o estilo bagunçado pelo qual ficou conhecido. De acordo com pessoas que assistiram ao julgamento, ele reagiu pouco enquanto Kaplan desfiava a lista de penalidades.

Calculista e ambicioso

O juiz traçou o perfil de Bankman-Fried como uma espécie de gênio matemático calculista e ambicioso, sedento por poder e influência política. Disse que o cofundador da FTX cometeu perjúrio inúmeras vezes durante o julgamento. Ao refutar a alegação da defesa de que os clientes surrupiados poderiam ser reembolsados, Kaplan apresentou um argumento curioso. Para o juiz, a situação era parecida com a do ladrão que leva o fruto de seu roubo para Las Vegas, ganha uma bolada nos cassinos, e depois quer clemência caso reembolse suas vítimas.

Na audiência, o juiz americano acrescentou que Bankman-Fried nunca mencionou “uma palavra de remorso” por seus crimes. “Ele sabia que estava errado, sabia que era criminoso”, disse Kaplan, embora o acusado tenha pedido desculpas pela queda da FTX , dizendo que “tomou uma série de decisões erradas”.

Pessoa sensível

Kaplan considerou o testemunho de Bankman-Fried durante o julgamento como uma demonstração de falta de interesse em assumir a responsabilidade pelos crimes praticados, dizendo que o jovem foi “evasivo” e “cauteloso” ao mentir sobre a sua conduta. “Nunca vi um desempenho como esse”, disse o juiz, afirmando que havia risco de novas irregularidades serem cometidas pelo acusado no futuro.

Marc Mukasey, o advogado de defesa, tentou descrever Bankman-Fried como uma pessoa sensível e de bom coração que cometeu erros, mas se tratava de “um nerd da matemática” – ele frequentou por quatro anos o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) – que amava animais e videogames.  Mukasey também citou a depressão de seu cliente como uma das razões pelas quais ele é mal compreendido. O jovem foi comparado pelo advogado a “um lindo quebra-cabeça”.

Origem privilegiada

Para o juiz Kaplan, porém, faltavam peças ao brinquedo. Ele destacou ainda que Bankman-Fried tinha “uma origem excepcionalmente privilegiada”, referindo-se aos pais do jovem, professores de direito, que estavam no tribunal assistindo ao julgamento.

Os promotores do caso queriam uma pena de 40 a 50 anos. Também disseram que o acusado demonstrava falta de remorso por seus crimes, enquanto levava uma vida de “ganância e arrogância incomparáveis”. A pena foi definida em 25 anos, mas os advogados de defesa afirmaram que iriam recorrer da sentença.

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