Justiça autoriza varredura em transações da família Zarzur nos EUA
Tribunal de Nova York acatou pedido de Adele Zarzur que, desde 2022, disputa herança de mais de R$ 5 bilhões com irmãos Roberto e Ricardo
atualizado
Compartilhar notícia
A disputa pela herança bilionária do empresário Waldomiro Zarzur, que faleceu em 2013 e era uma referência do ramo imobiliário brasileiro, promete intensificar-se a partir de agora, depois de uma recente decisão tomada pela Justiça americana. Há pouco mais de uma semana, na segunda-feira 8/1, a juíza Analisa Torres, do Distrito Sul de Nova York, autorizou uma varredura nas contas de empresas e integrantes da família nos Estados Unidos.
A medida havia sido solicitada no fim de 2022 pelos representantes legais de Adele Zarzur, uma das herdeiras de Waldomiro. Na ocasião, ela ajuizou em Nova York um procedimento de exibição de documentos, conhecido como “discovery”. A ação tem como objetivo mapear dados financeiros relativos às sociedades do Grupo WZarzur sediadas no exterior. Com isso, Adele busca identificar recursos da herança do pai que, na sua opinião, teriam sido indevidamente apropriados por seus dois irmãos Roberto e Ricardo Zarzur.
A decisão da Justiça proferida na semana passada alcança tanto entidades públicas quanto bancos americanos. Assim, órgãos como o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e o Clearing House Interbank Payments System (CHIPs), uma câmara privada de compensações dos EUA, terão de exibir dados que indiquem as movimentações financeiras referentes ao pai de Adele, a seus dois irmãos e às sociedades estrangeiras do grupo familiar.
De acordo com os advogados de Adele, do escritório Warde Advogados, a ordem judicial engloba todos os documentos e comunicações relacionados a contas bancárias, pagamentos, transferências, mensagens eletrônicas e ordens de pagamento, feitos por ou em benefício de Roberto, Ricardo, Waldomiro Zarzur ou partes a eles relacionadas. Isso inclui, por exemplo, as sociedades off-shore dos irmãos de Adele.
Uma disputa bilionária
A disputa entre os herdeiros teve início em 2022, quase dez anos após a morte do patriarca, e envolve uma quantia estimada em R$ 5 bilhões em bens. Fundado por Waldomiro Zarzur, o Grupo WZarzur é composto por dezenas de empresas, com atuação destacada no setor de empreendimentos imobiliários – onde sempre adotou uma postura inovadora. O sobrenome, aliás, é uma referência nesse segmento.
Ele ganhou especial notoriedade com a construção, em 1966, do Palácio Zarzur e Kogan (de Aron Kogan, que também participou do projeto ao lado de Waldomiro Zarzur), rebatizado como Mirante do Vale no início dos anos 1970. Com 51 andares, o edifício fica encravado no Vale do Anhangabaú, ao lado do Viaduto Santa Ifigênia, é um símbolo na paisagem paulistana.
Até 2021, o Mirante do Vale manteve o posto de prédio mais alto de São Paulo, quando foi desbancado – por apenas dois metros de diferença – pelo gigante Platina 220, com 172 metros de altura, erguido no Tatuapé, na Zona Leste. Os negócios da família Zarzur incluem ainda usinas hidrelétricas, prédios comerciais, fazendas e hotéis, como o WZ, na esquina da Alameda Lorena com a Avenida Rebouças, uma região nobre de São Paulo.
Litígio desde 2022
Waldomiro Zarzur faleceu em 2013 e, hoje, são sócios do grupo seus quatro filhos. São eles Adele, Gisele, Roberto e Ricardo, sendo os dois últimos também administradores e atuais controladores das sociedades.
Em novembro de 2022, Adele ajuizou uma ação de responsabilidade contra seus dois irmãos na 2ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem do Foro Central de São Paulo. Nesse processo, houve determinação de uma prova pericial sobre a contabilidade do Grupo WZarzur, para identificar eventuais desvios de recursos. Essa perícia, porém, ainda não começou.
Está pendente também o julgamento de um recurso apresentado por Adele à Primeira Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Ele decidirá sobre o pedido de destituição liminar de Roberto e Ricardo da administração do Grupo WZarzur.
No fim de 2022, como mencionado, Adele solicotou o “discovery” nos EUA. Para isso, dois escritórios de advocacia americanos passaram a atuar no caso sob a coordenação do Warde Advogados. Foram eles o Quinn Emanuel Urquhart & Sullivan, com a liderança de Robert Zink, ex-diretor antifraude do Departamento de Justiça dos EUA e um dos maiores especialistas na área de investigação de heranças, e MB Scanlon, de Gabriela Scanlon.
Consultada, a WZarzur informou que desconhece a ação movida pela herdeira nos Estados Unidos. Este espaço, contudo, permanece à disposição da companhia e dos herdeiros do empresário Waldomiro Zarzur para quaisquer manifestações.