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Juros: o que o mercado espera de Copom e Fed em mais uma “superquarta”

Economistas ouvidos pelo Metrópoles esperam manutenção do ciclo de queda de 0,5 ponto percentual da Selic. Nos EUA, tendência é estabilidade

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Dois cartões com as bandeiras de Estados Unidos e Brasil, lado a lado - Metrópoles
1 de 1 Dois cartões com as bandeiras de Estados Unidos e Brasil, lado a lado - Metrópoles - Foto: Getty Images

Pouco mais de 40 dias depois das últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), as atenções do mercado financeiro estão novamente voltadas para as autoridades monetárias do Brasil e dos Estados Unidos.

Nesta quarta-feira (1º/11), os bancos centrais brasileiro e americano anunciam o resultado de suas reuniões, ambas iniciadas na véspera. Trata-se de mais uma “superquarta” – termo usado para o dia em que coincidem as divulgações das taxas básicas de juros nos dois países.

Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano, depois de duas reduções consecutivas de 0,5 ponto porcentual, nas reuniões de agosto e setembro do Copom. Antes disso, os juros permaneceram em 13,75% por um ano, entre agosto de 2022 e agosto de 2023.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação. A Selic é utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.

Quando o Copom aumenta os juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica. Ao reduzir a Selic, a tendência é a de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

Ritmo de corte deve ser mantido pelo Copom

Há um consenso no mercado de que a Selic deve ser reduzida novamente em 0,5 ponto percentual nesta “superquarta”, para 12,25% ao ano – o próprio Copom indicou, nos comunicados que acompanharam as últimas decisões, que seguiria esse caminho de cortes. A principal explicação é a desaceleração consistente da inflação no Brasil nos últimos meses.

Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou em 0,26%. Embora tenha acelerado em relação a agosto (quando foi de 0,23%), o indicador veio abaixo das projeções do mercado.

No acumulado de 12 meses, até setembro, a inflação no país foi de 5,19%. Segundo o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação para este ano é 3,25%. Como há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, a meta será cumprida se ficar entre 1,75% e 4,75%. De acordo com a última edição do Relatório Focus, do BC, divulgada no início desta semana, a inflação no Brasil deve terminar 2023 em 4,63% – abaixo, portanto, do teto da meta para este ano.

“A expectativa é a de que o Copom reduza novamente a Selic em 0,5 ponto percentual, em linha com aquilo que havia sido indicado tanto no comunicado quanto na ata da última reunião”, afirma o professor e mestre em Economia Política André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

“Talvez haja uma mudança na ata, pesando um pouco a preocupação com a questão fiscal, dada a fala recente do presidente Lula sobre o provável não cumprimento da meta de zerar o déficit primário em 2024. Essas declarações foram interpretadas pelo mercado como um abandono da meta”, explica Galhardo.

No fim da semana passada, Lula disse que o governo dificilmente cumpriria a meta de déficit zero no ano que vem, prevista no Marco Fiscal aprovado pelo Congresso. O mercado reagiu de imediato, com a queda do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira.

Apesar dos ruídos e do desconforto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que desconversou ao ser questionado sobre a fala de Lula, essas declarações não devem mudar o rumo seguido pelos integrantes do Copom em relação ao corte da Selic.

“As declarações do Lula, por si só, não alteram o cenário de taxa de juros. Entretanto, se tal postura se converter em menor ímpeto em aprovar as medidas fiscais, provavelmente haverá impacto no cenário para a taxa de juros esperada. Pode haver alta das expectativas de inflação, com uma eventual depreciação cambial derivada da maior percepção de risco”, afirma Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset.

Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, também aposta em uma nova queda de 50 pontos-base da Selic e ressalta que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, “sempre deixou claro que seriam feitas reduções gradativas, sem a intenção de voltar a subir juros”.

“Virou quase unanimidade no mercado esse corte de 0,5 ponto percentual. Temos um conflito na Faixa de Gaza que ainda não sabemos que proporções vai alcançar. A inflação está controlada hoje, mas somos diretamente impactados pelo preço do petróleo. Se houver uma falta de oferta de petróleo, o preço vai subir e isso interfere na inflação”, pondera Richetti.

Os economistas e agentes do mercado ouvidos pelo Metrópoles descartam, por ora, a possibilidade de o Copom intensificar o ritmo de corte da Selic, para 0,75 ponto percentual, como chegou a ser especulado há alguns meses.

“Uma parcela do mercado cogitava o aumento do ritmo de cortes da Selic de 50 pontos-base para 75 pontos-base. Esse caminho se abriu antes de a Petrobras fazer reajustes nos preço do diesel e da gasolina. Esse prognóstico também se deu antes da guerra no Oriente Médio. Por enquanto, essa possibilidade está descartada porque o clima global de incertezas é mais elevado e os riscos de uma elevação da taxa de inflação são mais aparentes neste momento”, afirma Galhardo.

Rafael Cardoso também classifica como “baixíssima, próxima de zero” a chance de um corte maior de juros “para essa reunião”. “Para a extensão do ciclo como um todo, achamos cedo para cravar que o BC não terá espaço para acelerar o ritmo de corte em algum momento de 2024”, observa.

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Federal Reserve não deve subir nem baixar os juros

Antes de o Copom anunciar a taxa básica de juros da economia brasileira, por volta das 18h30 desta “superquarta”, o Federal Reserve divulgará a decisão tomada pelo Fomc sobre os juros nos EUA, às 15 horas (horário de Brasília). Na última reunião, os juros foram mantidos no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano – a maior taxa em 22 anos.

A expectativa do mercado é que o Fed mantenha os juros inalterados, mas um novo aumento de 0,25 ponto percentual é considerado quase certo para o último encontro do colegiado no ano, em dezembro. Dados divulgados pelo Departamento do Trabalho do governo americano mostram que a inflação no país foi de 3,7% em setembro, na comparação anual, mesmo índice do mês anterior. O resultado veio em linha com as estimativas do mercado. A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano.

“Não há nenhum motivo para o Fed aumentar ou reduzir a taxa de juros. A tendência é a manutenção no patamar atual. A inflação americana está mais bem controlada, ela tem se mantido estável, sem subir ou cair muito”, afirma Dierson Richetti, da GT Capital. “Enquanto a economia americana não der sinais de uma desinflação mais forte, o Fed não fará nenhum movimento mais brusco.”

É a mesma avaliação de Rafael Cardoso, da Daycoval Asset, que também vê a autoridade monetária americana procedendo “de forma mais cautelosa”. “Entretanto, como os dados de atividade econômica e de inflação vieram fortes desde a última reunião do comitê, deve haver a manutenção da comunicação de que talvez haja alta de juros residual ou que as taxas de juros permaneçam altas durante tempo suficientemente longo. Ou seja, a despeito da manutenção da taxa de juros, haverá reforço das projeções divulgadas pelo comitê na reunião passada”, explica.

“Acreditamos que o Fed finalizou ou está prestes a finalizar o ciclo de aperto monetário. Isso porque vislumbramos que grande parte do aperto realizado ainda não se materializou na atividade econômica ou tem sido mascarado por outros fatores, o que não deve se repetir na mesma magnitude em 2024. Nesse sentido, o Fed colherá os frutos do aperto realizado ao longo de 2024, o que poderá propiciar condições para reversão do processo, provavelmente no final do próximo ano”, prossegue o economista.

Para André Galhardo, da Remessa Online, essa provável decisão do Fed se deve, em grande parte, ao “comportamento das taxas de juros de longo prazo” nos EUA. “Se as taxas de juros dos títulos de 10 anos estão subindo mais que o esperado, devem cumprir o papel que as taxas de juros de curto prazo cumpririam. Elas exercerão o mesmo impacto sobre o mercado de crédito e a atividade econômica que exerceria um aumento das taxas de curto prazo”, diz.

“Além disso, há a questão fiscal. A dívida pública americana tem batido sucessivos recordes nos últimos meses. Quanto mais alta a taxa de juros, maior o desembolso do Estado com o pagamento de juros daqueles que detêm os títulos públicos”, conclui Galhardo.

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