Juíza manda prender médico nigeriano por golpe milionário e fuga
O médico foi acusado pela SulAmérica de fraudar reembolsos e está sob suspeita de tentar fugir do Brasil; defesa alega perseguição
atualizado
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São Paulo – A Justiça mandou prender o médico nigeriano Oluwatosin Tolulope Ajidahun, conhecido como Dr Tosyn, dono de uma clínica de fertilização na zona leste de São Paulo. Ele está sob suspeita de aplicar um golpe milionário na seguradora SulAmérica e de tentar fugir, em meio às investigações, para Angola ou para a Nigéria. O caso é investigado pela Polícia Civil de São Paulo.
Segundo a defesa do médico, ele ainda não foi preso e alega inocência e perseguição pela operadora que denunciou a suposta fraude às autoridades. A decisão foi assinada nessa terça-feira (16/1) pela juíza Giovanna Christina Colares, do Departamento de Inquéritos Policiais (DIPO) da capital. Ela ordena que ele fique preso por cinco dias em prisão temporária.
De acordo com a Polícia Civil, a SulAmérica denunciou que um “grupo criminoso” liderado por Tosyn e sua mulher concebeu um “esquema sofisticado” que deu um prejuízo de R$ 2,9 milhões ao seu caixa. A seguradora diz que identificou a fraude em uma investigação interna. Segundo ela, a suspeita é de reembolsos superfaturados em planos de saúde com uso de documentos ideologicamente falsos.
Testemunha relata fraude em reembolsos
A denúncia é de que funcionários da clínica pediam reembolsos de exames para si, e em nome de clientes, à SulAmérica. A investigação ouviu uma testemunha protegida que disse que o médico contratava planos de saúde em nome de funcionários e seus dependentes para pedir reembolsos em casos nos quais nunca houve pagamento pelo exame.
Segundo essa testemunha, até a mesma nota fiscal de um mesmo exame era usada para cobrar mais de uma seguradora. Ela afirmou que “eram diversas as estratégias realizadas enganar os planos de saúde, como a dissimulação de pagamentos feitos em lotéricas e bancos em nomes de terceiros para que o setor de fraudes dos planos de saúde não pudesse detectar”. A investigação identificou uma funcionária que, sozinha, supostamente gerou reembolsos de R$ 142 mil com uso de seu CPF.
Polícia vê tentativa de fuga
Uma testemunha protegida também afirmou que o Dr Tosyn estava apreensivo com as investigações. Segundo o relato, ele vendeu 10 dos seus 13 automóveis, rescindiu o contrato de aluguel do imóvel onde morava no Brasil, locou outro na Nigéria e matriculou seus filhos em uma escola no país africano. Ela também diz que demitiu uma centena de funcionários e outros estão só cumprindo aviso prévio.
Em dezembro, o médico tentou sair do país, mas teve seu passaporte apreendido pela Polícia Federal (PF) por causa das investigações. No dia seguinte, ele comprou outra passagem usando seu passaporte brasileiro, dessa vez, para Angola. “Essas tentativas evidenciam sua clara intenção de fugir do Brasil para evitar cumprir a ordem judicial de Vossa Excelência, em flagrante desrespeito à lei brasileira”, afirmou o delegado Marcos Casseb, responsável pela investigação.
Defesa afirma que médico é perseguido
A advogada Agatha Dias Martins, que defende Dr Tosyn, afirma que não teve acesso à decisão judicial que mandou prender seu cliente, e que ele está em liberdade. “Não temos nem acesso para ter qualquer tipo de defesa.” Ela ressalta que um inquérito sobre fatos semelhantes foi arquivado por falta de provas pelo Ministério Público de São Paulo no ano passado.
A advogada afirma que a investigação que recai sobre o médico tem como pano de fundo uma briga entre seguradoras e laboratórios. Segundo ela, seguradoras têm sufocado laboratórios que não aceitam se credenciar ao serviço de planos de saúde.
Ela diz, ainda, que as seguradoras têm perseguido laboratórios nesse perfil com cada vez mais exigências de documentos para autorizar reembolsos ou com recusas indiscriminadas de reembolsos. “Começou essa guerra. Tem muitos laboratórios que estão fechando e fecharam.”
Sobre as investigações, a advogada afirma que não há fraude nos reembolsos e que o argumento de que havia um pedido interno para pedir exames laboratoriais tem sido utilizado por alguns ex-funcionários na Justiça do Trabalho, sem êxito, para obter indenizações.
A respeito da tentativa de fuga, a advogada afirma que Tosyn queria viajar à Nigéria apenas para ver o pai idoso, que mora no país. “Ele não encerrou nenhuma atividade no Brasil. Ele é naturalizado brasileiro. Os filhos dele estão no Brasil, inclusive. A vida dele é aqui. Ele só foi cuidar do pai dele para retornar”, afirma.