metropoles.com

Juiz abre caminho para responsabilizar Petrobras por corrupção na Sete

Decisão judicial possibilita que seja apurada a responsabilidade da estatal em dívida de R$ 18 bilhões de fornecedora de sondas do pré-sal

atualizado

Compartilhar notícia

Gustavo Moreno/Metrópoles
tanque no centro de Distribuição da Petrobras - Metrópoles
1 de 1 tanque no centro de Distribuição da Petrobras - Metrópoles - Foto: Gustavo Moreno/Metrópoles

A Justiça do Rio de Janeiro abriu caminho para a Petrobras ser responsabilizada pela crise que pode levar à quebra da Sete Brasil, fornecedora de sondas de exploração do pré-sal que entrou em apuros financeiros por causa dos prejuízos provocados por ex-diretores da estatal que confessaram corrupção em depoimentos obtidos no âmbito da Operação Lava Jato. A empresa está em recuperação judicial desde 2016, quando declarou ter dívidas de R$ 18 bilhões.

O conselho da Petrobras debate há cinco anos se indeniza ou não a Sete, para que ela pague parte das dívidas a seus credores. O prazo final imposto pela Justiça para uma decisão da estatal se encerra em outubro. Caso não haja decisão ou os conselheiros rejeitem indenizar a Sete, a determinação judicial prevê que seja apurada a responsabilidade da Petrobras sobre os atos de corrupção, tanto na estatal como na fornecedora de sondas, que levaram à crise que se arrasta desde 2016.

O juiz Luiz Alberto Carvalho Alves, responsável pela recuperação judicial da Sete Brasil, mandou que a Petrobras preserve documentos relacionados à atuação e “atos fraudulentos” do ex-gerente da estatal Pedro Barusco, que fez delação premiada durante a Operação Lava Jato e admitiu fazer parte de um esquema de corrupção que envolveu contratos de sondas. Ele integrava a direção da Sete Brasil e devolveu US$ 100 milhões aos cofres públicos. O juiz também quer que sejam conservados os documentos relacionados à indicação de Barusco, pela Petrobras, para ser diretor da fornecedora de sondas.

O magistrado ordenou, ainda, que sejam resguardados documentos que evidenciem que os crimes confessados por Barusco provocaram o rompimento de um contrato de financiamento com o BNDES. O financiamento era tido como essencial pela Sete Brasil para o cumprimento do contrato para construção e fornecimento das sondas para a Petrobras. O seu rompimento, segundo a empresa e o seu administrador judicial, é a principal causa da ruína financeira da Sete.

O juiz afirma que tais documentos, além dos votos dos conselheiros sobre a possível indenização à Sete, devem ser enviados a ele pela estatal, “com o objetivo de total transparência e apuração de eventuais responsabilidades na hipótese da decretação da falência” da empresa.

A decisão acolheu um pedido do advogado Gustavo Licks, que é administrador judicial da Sete Brasil. A função é de livre indicação do juiz do caso e tem a responsabilidade de conduzir o processo de pagamento de credores e fiscalizar mensalmente a saúde financeira e a quitação de dívidas.

Responsabilidade civil e penal

Em um pedido apresentado à Justiça nessa segunda-feira (18/9), Licks afirma que os documentos exigidos pelo juiz “serão essenciais para compreender a origem e a responsabilidade civil e penal dos envolvidos”. Ele disse que, se o acordo não for aprovado pelo conselho da Petrobras, vai pedir a falência da Sete.

A responsabilidade penal mencionada por Licks diz respeito a crimes falimentares. Ele lembra que os delitos relacionados a insolvências preveem a responsabilização para quem praticar, antes ou depois da falência, “ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem”.

Impasse

A ameaça de prejuízo bilionário à Petrobras foi antecipada pelo Metrópoles. A decisão judicial expedida nessa terça-feira (19/9) dá combustível para que, na ausência de falência da Sete, tanto a empresa quanto credores busquem responsabilização da estatal.

Há um impasse no conselho da Petrobras sobre eventual acordo. Há quem defenda uma indenização de até R$ 1 bilhão – representantes do governo são favoráveis ao pagamento.

No entanto, uma parte dos conselheiros é refratária a qualquer responsabilização da estatal pelos prejuízos da Sete. O debate se arrasta há cinco anos.

A cifra de R$ 1 bilhão corresponde a apenas 7% das dívidas da Sete. O Metrópoles apurou que os credores – empresas, bancos e fundos de investimentos – aceitariam a quantia, porque dificilmente conseguiriam reaver o total do seu dinheiro no curso do processo de recuperação judicial, ou até mesmo após a eventual falência e o leilão dos ativos da Sete Brasil.

Ligação umbilical

A Sete foi criada em 2010 para o fornecimento de sondas para exploração do pré-sal, a menina dos olhos do segundo governo Lula no setor de exploração de petróleo. No próprio pedido de recuperação judicial, a Sete afirma que foi criada “por obra e graça” da Petrobras e que era “umbilicalmente” ligada à estatal. A Sete contratou a construção de 28 sondas a serem alugadas pela Petrobras.

Nos processos criminais contra ex-diretores acusados de corrupção, a Petrobras é tida pela Justiça e pelo Ministério Público Federal como vítima dos delitos. Em brigas empresariais, contudo, basta haver a comprovação da ciência de executivos sobre desmandos na companhia em que trabalham,  para que multas e indenizações sejam cobradas.

Acionistas estrangeiros já brigam com a estatal, em câmaras de arbitragens, pelo pagamento de multas bilionárias em razão da Lava Jato. Documentos sobre arbitragens que mencionem atos fraudulentos na Sete, aliás, também deverão ser preservados, segundo a decisão judicial.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNegócios

Você quer ficar por dentro das notícias de negócios e receber notificações em tempo real?