Ingerência política derruba valor de mercado de Vale e Petrobras
As duas empresas estão entre as que tiveram maior desvalorização em 2024 na Bolsa. Veja a lista das 10 companhias que mais caíram neste ano
atualizado
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A Vale e a Petrobras estão entre as três empresas brasileiras que mais perderam valor de mercado em 2024 (veja lista com as “top10” no fim deste texto). O baque sofrido com a desvalorização das ações da mineradora foi de R$ 48,3 bilhões e o da petroleira, de R$ 23,8 milhões. Em ambos os casos, avaliam analistas, as companhias enfrentaram problemas de mercado, mas a maior parte desse tombo é explicada pelas tentativas de ingerência política na gestão das companhias.
No que diz respeito à Vale, diz Rafael Passos, analista e sócio da Ajax Asset Management, a companhia enfrentou obstáculos seguidos, com oscilações da cotação internacional do minério de ferro. Ela caiu seguidas vezes por causa de dados e previsões pouco otimistas sobre o crescimento da China em 2024 – a maior importadora global do produto.
“Mas também houve forte ruído político”, diz Passos. Tal “ruído”, observa o analista, deu-se com a tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de impor o nome do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como CEO da mineradora, em meados de janeiro. Apesar do tumulto entre investidores, a indicação do futuro presidente da companhia ainda não foi feita. Ela deve ocorrer em dezembro.
Análise semelhante é feita por Enrico Cozzolino, sócio da Levante Investimentos. “A tentativa de influência política causou atrito, que trouxe um prêmio de risco maior para a empresa”, afirma. Para Cozzolino, o fator político teve maior peso na trajetória negativa das ações do que os mercadológicos. “Os relatórios de produção e o preço de minério estavam longe das máximas, mas dentro dos valores esperados”, afirma.
Caso da Petrobras
O caso da Petrobras é mais recente. A estatal só entrou na lista das dez empresas que mais perderam valor de mercado em 2024 na última sexta-feira (8/3) . Antes disso, figurava no topo do ranking oposto. Era uma das companhias nacionais com maior valorização na Bolsa de Valores (B3) em 2024.
O caldo entornou com a divulgação do balanço do quarto trimestre da empresa na noite de quinta (7/3). Em 2023, o lucro da estatal caiu 33,8% em relação a 2022. Ainda assim, a estatal alcançou o segundo maior lucro líquido de sua história.
O problema foi que o Conselho da Administração da estatal adiou a decisão sobre o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas, cujo valor é estimado em R$ 43 bilhões
A maioria dos conselheiros ligados ao governo vetou o repasse desses dividendos aos acionistas, com seis votos contrários. Cinco deles foram dados por pessoas indicadas pela União para compor o órgão. Rosângela Buzanelli, representante dos trabalhadores da empresa no Conselho, também se opôs à medida.
Os conselheiros minoritários votaram pela distribuição aos acionistas. A diretoria da Petrobras chegou a propor uma alternativa mista, na qual metade dos R$ 43 bilhões seria destinada ao pagamento de dividendos e a outra metade, à reserva de capital. O fato é que a decisão frustrou os investidores. Na sexta, as ações da Petrobras caíram 10,5% na Bolsa.
Problemas do balanço
Para Rafael Passos, a queda do valor de mercado da maior parte das outras companhias da lista (veja abaixo) está associada aos números do balanço do quarto trimestre de 2023, divulgado por essas empresas no início deste ano.
O valor do Bradesco, por exemplo, recuou R$ 33,6 bilhões, depois da divulgação do resultado financeiro do ano passado, no qual o lucro apresentou queda de 21,2%, na comparação com 2022. No caso do Santander, esse recuo foi de 23% e no da Ambev, de 10,9%. Uma das únicas explicações que foge da tese do balanço é a da redução do valor de mercado da CSN. Para os técnicos, ela estaria ligada às oscilações negativas do mercado mundial de aço, acentuadas com os percalços do desenvolvimento da China.
Fluxo de capital
No geral, observa Passos, algumas ações também perderam valor por conta da saída de recursos da Bolsa brasileira. Isso ocorreu por conta da manutenção dos juros altos nos Estados Unidos, o que torna mais atrativo o investimento dos títulos da dívida americana. Isso em detrimento de ativos de renda variável, como é o caso das ações, notadamente, as negociadas em países emergentes, como o Brasil.
O valor de mercado equivale à soma do valor das ações das empresas. Os dados foram levantados para o Metrópoles pelo analista Einar Rivero, sócio da Elos Ayta Consultoria. Os números abrangem o período entre 31 de dezembro de 2022 até a última sexta-feira (8/3),
Veja a lista das 10 empresas que perderam mais valor de mercado em 2024
- Vale – R$ 48,3 bilhões
- Bradesco – R$ 33,6 bilhões
- Petrobras – R$ 23,8 bilhões
- Santander – R$ 14,1 bilhões
- Ambev – R$ 13,9 bilhões
- B3 (Bolsa de Valores) – R$ 11,6 bilhões
- Localiza – R$ 11,1 bilhões
- CSN – R$ 9,8 bilhões
- Rede D’Or – 8,2 R$ bilhões
- JBS – R$ 7,1 bilhões
Fonte: Einar Rivero, Elos Ayta