Viver de renda é melhor do que produzir no Brasil, afirma Fiesp
Fiesp defende que é preciso olhar para o financiamento do setor se o Brasil quiser recuperar a produtividade da indústria de transformação
atualizado
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Viver de renda é melhor do que produzir. A conclusão é do presidente da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes.
“No Brasil, viver de renda se tornou um bom negócio. Produzir é um péssimo negócio. A taxa de juros em média foi de 12,4%, contra uma taxa de inflação de menos de 6,5%. A taxa de juro real nestes 30 anos é 10 vezes maior do que a taxa de inflação”, pontuou Josué.
Durante a abertura do Fórum Estadão Think – A Indústria no Brasil Hoje e Amanhã, realizado na manhã de terça-feira (23/7), o presidente da Fiesp fez duras críticas ao sistema tributário. Segundo ele, ainda que a Reforma Tributária seja um avanço, ela não é suficiente.
“Aprovamos uma Reforma Tributária que é um avanço e demos um apoio decisivo, mas, infelizmente, por culpa nossa, da sociedade e das entidades de classe, temos uma reforma muito aquém do que poderíamos ter”, pontuou Josué.
Ele defende que é preciso olhar com mais atenção para o financiamento do setor se o país quiser recuperar a produtividade da indústria de transformação.
“Como um setor que é altamente intensivo em capital geraria recursos necessários para manter sua produtividade se você não pode tomar recursos de terceiros porque são proibitivos”, questionou.
Na avaliação do presidente da Fiesp, o setor precisa ter condições mais justas, com carga tributária menor, nos moldes do que acontece com o agronegócio.
“Temos que aplaudir o desenvolvimento do agro, mas temos que lembrar que, desde 2003, eles contam com um Plano Safra, que cresce ano a ano. É um setor que paga muito pouco imposto. A carga tributária da indústria de transformação é de 45% em média, no agro é de 5%. Nada contra o agro, temos que aplaudir, mas temos que recuperar a indústria de transformação”, afirmou Josué.
O presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Rafael Cervone, também mostrou preocupação com as dificuldades do setor e com o peso da carga tributária.
“A indústria da transformação chegou a representar 25% do PIB, mas retrocedeu pelo custo Brasil, pela dificuldade de crédito, pela insegurança jurídica, por ciclos longos de juros elevados e pela falta de política de longo prazo. O setor retrocedeu e responde hoje por 12% do PIB, embora arque com 30% do total de tributos. Isso, estranhamente, não retrocedeu”, criticou.
Segurança pública
Os investimentos em segurança pública e o fim da pirataria também foram lembrados como problemas a serem superados por Carlos Erane de Aguiar, vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Ele citou dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados no Atlas da Violência, estimando que o custo total com segurança no Brasil representa, por ano, 5,9% do PIB, o equivalente a R$ 595 bilhões.
“Engana-se quem acredita que podemos falar de futuro da indústria sem falar de segurança pública. Essa segurança se liga a um ambiente saudável para negócio em duas vertentes, uma bem conhecida, que é a segurança para a força de trabalho, e de forma que os industriais possam instalar e manter suas indústrias. Só em 2022, as empresas gastaram R$ 170 bilhões para se protegerem”, pontuou o vice-presidente da Firjan.
Em sua avaliação, é preciso ainda estar atento ao combate à pirataria e a outras atividades ilícitas que geraram prejuízos de R$ 453 bilhões com movimentações ilegais para apenas 15 setores da economia em 2022.
“Esse valor é equivalente ao PIB de Santa Catarina. Essas atividades ilegais drenam recursos, comprometem a arrecadação de tributos e causam a perda de 370 mil postos de trabalho com carteira assinada na indústria. Esse é um impacto devastador para toda a sociedade. A construção de um ambiente econômico saudável exige abordagem integrada envolvendo reforma tributária, uma política austera e madura, segurança pública, com combate efetivo às atividades ilícitas. Somente assim, conseguiremos o desenvolvimento sustentável, o bem-estar da população e competitividade da nossa indústria”, concluiu.