Questão climática é desafio e também oportunidade para startups
Preocupações e desafios do setor de startups no Brasil foram debatidos na Fiesp entre investidores e líderes do G20
atualizado
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A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) foi o palco do encerramento das quatro reuniões deste ano no Brasil do Startup20, fórum que estabelece um diálogo aberto entre as diversas partes interessadas no ecossistema de tecnologia, bem como as pequenas e médias empresas (PMEs). Durante dois dias, delegações de diversos países e investidores debateram as preocupações e desafios do setor de startups e tecnologia aos líderes do G20.
Na abertura do evento, Dan Iosche, vice-presidente da Fiesp e chair do B20, grupo que conecta a comunidade empresarial ao G20, apontou que os encontros realizados no Brasil foram importantes para dar publicidade ao trabalho que tem sido realizado por aqui.
“Ter esse foro no Brasil nos trouxe a oportunidade de mostrar ao mundo um pouco do que a gente faz e da nossa agenda, alinhá-la de forma compactuada com os outros países. Entender melhor como o Brasil pode liderar algumas áreas ou dinamizar os debates sobre os temas”, pontuou Iosche.
Além de revelar o potencial brasileiro, o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), Márcio França, ressaltou que o Brasil precisa tomar um novo rumo neste campo e incentivar mais as startups conhecidas como camelos, que focam em um crescimento sustentável, do que as conhecidas como unicórnios, que atingem US$ 1 bilhão de valor de mercado.
“Todo mundo fica aguardando que as startups se transformem sempre em um grande unicórnio, mas talvez isso não seja o mais correto. Não há problema em se transformar em empresa de pequeno porte. Não precisamos de tantos unicórnios, precisamos de camelos para gerar mais empregos”, afirmou o ministro.
Questão climática
Também presente ao evento, Anita Fiori, diretora do Fundo Soros de Desenvolvimento Econômico, fez questão de colocar em pauta a questão climática e afirmou que a transição ecológica pode ser uma oportunidade para startups brasileiras.
“É impressionante a quantidade de startups no Brasil todo, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que trazem a questão da criatividade para aumentar a produtividade de várias cadeias. A transição ecológica é a grande oportunidade que as nossas startups podem contribuir para a economia global”, ponderou Anita.
A respeito dos muitos desafios enfrentados por todos que empreendem no Brasil, Juan Parodi, diretor de investimentos do BID Invest, citou que a dificuldade de acesso a recursos financeiros acaba sendo uma das maiores barreiras enfrentadas por mentes criativas. “Há uma carência muito grande de capital de qualidade, de recursos que venham para ficar e entendam o que significa fazer empreendedorismo na América Latina”, afirmou.
Por ter promovido discussões relevantes sobre ESG e tecnologia, este último evento do Startup20 foi considerado um marco para Ingrid Barth, presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Segundo ela, este foi um “verdadeiro testemunho do crescimento global e da colaboração entre diferentes partes do mundo”.
Ao longo do ano, o Startup20 realizou quatro eventos no Brasil. Os primeiros foram sediados em Macapá (AP), Rio de Janeiro (RJ), e Recife (PE). Com o encerramento das reuniões no país, ela considera que o saldo foi positivo, mas afirma que algumas sementes vão demorar a dar frutos.
Dentre os impactos positivos deixados no país, ela citou o Amapá, que recebeu o evento inaugural no Brasil, em fevereiro. De lá para cá, o ecossistema regional viu um crescimento expressivo de startups: um salto de 41 para 189 empresas de base tecnológica. Um antigo hotel abandonado há 10 anos será transformado pelo governo do estado em um hub, com previsão de inauguração em 2025.
O evento em São Paulo contou ainda com a presença presença do príncipe Fahad Bin Mansour Bin Nasser Bin Abdulaziz AlSaud, da Arábia Saudita, e uma delegação enorme do país. Todos interessados no Brasil, assim como representantes da Índia, Turquia e Estados Unidos, que se aproximaram do ecossistema nacional em busca de intercâmbio de vocações.
“Eles estão interessados no Brasil e isso demonstra que a gente está aparecendo. Não somos mais o país do futuro, acho que já está acontecendo e para mim isso é muito claro, é o grande saldo. Criamos uma nova narrativa de Brasil”, afirma Ingrid.
Fundador da Entrepreneurship Vision (ONG), uma entidade não governamental com foco em trabalhar com empreendedores e apoiar o desenvolvimento do ecossistema empreendedor, o príncipe veio ao Brasil para também mostrar o projeto denominado Neon, uma cidade que já está em construção na Arábia Saudita com o único objetivo de ser um dos maiores polos de inovação no mundo. Um investimento da ordem de US$ 500 bilhões, provenientes do Fundo de Investimento Público do Reino da Arábia Saudita, de investidores locais e internacionais.
Communique, o futuro das startups
O resultado das discussões entre os grupos de trabalho no Brasil será reunido em um documento, o ‘Communique’, que se apresenta como uma peça chave para o futuro das startups em escala global. O documento trará recomendações que serão entregues na cúpula do G20, marcada para 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro.
Segundo Ingrid, esse documento é uma peça chave para o futuro das startups em escala global. “Vamos destacar iniciativas vitais, necessidades urgentes e metas ambiciosas para o setor, fornecendo uma visão clara das prioridades e desafios enfrentados pelas startups em todo o mundo. É um passo crucial para alinhar esforços e fomentar o crescimento sustentável do ecossistema global de startups”, concluiu