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Metade das empresas industriais do Brasil afirma que os custos com energia elétrica aumentaram ou aumentaram muito nos últimos 12 meses e 78% dos empresários responsabilizam a alta carga tributária pelo custo elevado da energia. Por isso, 43% dos industriais dizem que o impacto desse custo é alto ou muito alto nos custos de produção.
Os resultados constam da pesquisa “Indústria e Matriz Energética”, divulgada nesta segunda-feira (1º/7) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A instituição ouviu 1.001 empresários da indústria de todas as regiões do país e de todos os portes, entre os dias 24 de abril e 24 de maio deste ano.
Períodos de seca e mudanças climáticas foram apontados por 29% dos respondentes como fatores de pressão nos custos da energia elétrica. Já os custos com transmissão ficaram em terceiro, com 27% das respostas.
“A tarifa final paga pelas empresas e por toda a sociedade no Brasil é uma das mais caras no mundo, apesar de termos custos de produção de energia muito competitivos. Ou seja, os tributos e outros fatores, como subsídios elevados, encarecem demais o preço final da energia elétrica no Brasil e reduzem a competitividade da economia”, afirmou Roberto Wagner, gerente de Energia da CNI.
Os subsídios citados por ele também foram apontados por 17% dos empresários que responderam a pesquisa como um dos fatores principais para os altos custos do insumo.
Preço da energia
A crítica da CNI é que os subsídios se somam, em vez de acabarem quando alcançam seus objetivos. “Fazia todo o sentido incentivar, por meio de subsídios, a entrada da energia solar fotovoltaica e a energia eólica. Agora são modos muito competitivos, até mais baratos do que a hidrelétrica, mas os subsídios continuam”, argumentou Wagner.
A energia elétrica a partir dessas duas tecnologias já custa consistentemente abaixo de R$ 100 o Megawatt/Hora, enquanto a hidrelétrica tem custado em torno de R$ 110 a R$ 120 o MW/h e a térmica, acima de R$ 300.
“E ainda querem colocar mais subsídios, como para o hidrogênio verde e eólica em alto-mar, mas sem retirar os já existentes”, informou Wagner.
Segundo levantamento da CNI, atualmente existem cerca de 450 projetos de lei no Congresso que alteram regras do setor elétrico. Desses, 210 instituem algum tipo de subsídio para alguma tecnologia ou setor a serem pagos na conta de energia elétrica.
“Conta cara”
A ABRACE Energia, associação que representa os grandes consumidores de energia, faz coro sobre os subsídios e argumenta que eles acabam por dificultar a transição energética ao retirar competitividade do setor industrial.
“O Brasil está perdendo a oportunidade de liderar a transição energética se aproveitando do seu enorme potencial para produzir energia limpa, barata e segura. Poderíamos estar descarbonizando nossa produção industrial levando produtos verdes para competir lá fora, mas o alto custo da energia impede que cheguemos lá. Infelizmente, somos o país da energia barata e da conta cara”, constatou Fernando Teixeirense, diretor de relações institucionais da associação.
Quase quatro entre 10 empresas (38%) afirmam que o custo da energia elétrica impacta ou impacta muito a competitividade da empresa. Outros 23% dizem que impacta mais ou menos.
A média do impacto da conta de energia elétrica no orçamento da empresa é de 10%, de acordo com a pesquisa. Para 55% dos respondentes, o impacto é de até 5%. Já para 20%, o custo da energia aumenta o orçamento entre 6% e 10%. Para outros 6%, aumenta mais de 30%.
“O custo da energia chegou num nível tão alto no Brasil que acaba afetando não somente a indústria, mas todos os cidadãos, que acabam pagando duas vezes, uma pela própria energia que chega em casa e outra pela energia contida nos produtos que ela consome”, explicou Teixeirense. Ele citou que 30% do preço do leite, por exemplo, corresponde ao custo da energia utilizada em toda a cadeia de produção.