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Industriais: aumento da Selic é ‘excessivo e incompatível’

Para o setor industrial, a decisão do BC é extremamente conservadora e trará apenas prejuízos à atividade econômica

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Marcos Santos/USP Imagens
Imagens mostram calculadora, lapiseira e notas de reais
1 de 1 Imagens mostram calculadora, lapiseira e notas de reais - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O setor industrial não recebeu com bons olhos a decisão do  Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que decidiu nesta quarta-feira (6/11) elevar a taxa básica de juros do país, a Selic, de 10,75% ao ano para 11,25% ao ano, um aumento de 0,50 ponto percentual.

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) disse ter recebido a decisão com “indignação” e considerou a decisão como “extremamente conservadora”. O documento afirma que, “além de ser equivocado, o movimento de alta foi intensificado, já que Banco Central subiu o ritmo de aumento em 0,25 ponto percentual frente à reunião anterior”.

Na avaliação da Confederação, a elevação na Selic apenas irá trazer prejuízos desnecessários à atividade econômica, com reflexos negativos em termos de criação de emprego e renda para a população.

O documento afirma que “embora seja inegavelmente importante buscar a sustentabilidade da dívida, há um exagero na preocupação com o quadro fiscal. O impulso fiscal sobre a atividade econômica tem se reduzido significativamente ao longo de 2024, o que tende a frear a pressão sobre a inflação. As despesas primárias federais apresentaram crescimento real de 10,5% no primeiro semestre de 2024, em relação ao mesmo período de 2023. Já no segundo semestre de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023, a estimativa da CNI é de queda real de 1,7% (desconsiderando o pagamento adicional de precatórios em 2023)”.

A nota lembra ainda que, no cenário internacional, há clara tendência de afrouxamento dos juros. O Banco Central Europeu (BCE) promoveu, em outubro, o terceiro corte de juros de 2024.

Na reunião desta semana nos Estados Unidos, a expectativa é que o Banco Central dos EUA (FED) promova o segundo corte do ano – e com previsão de que realize mais um até o fim de 2024.

Assim, o novo aumento da Selic coloca o Brasil ainda mais na contramão da tendência global, se isolando ao lado da Rússia como os únicos países do G20 que estão subindo juros neste momento.

“Fica evidente que a Selic está em patamar excessivo e incompatível com os elementos que influenciam o quadro inflacionário. Não à toa, a CNI estima que a taxa básica de juros de equilíbrio deveria estar em 8,4% ao ano, considerando a inflação acumulada nos últimos 12 meses. Ou seja, a Selic atual está 2,85 pontos percentuais acima do nível necessário para conter a inflação e evitar prejuízo ao crescimento econômico. Mesmo ao considerar a expectativa de inflação, a taxa de juros de equilíbrio é estimada em 9,3% ao ano, 1,95 ponto percentual acima da Selic atual”.

A CNI defende que o foco do governo deveria ser a retomada dos cortes na taxa de juros para que o país possa avançar na agenda de redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Caso contrário, continuarão penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos empregos e renda.

Também em nota, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) avalia que o novo aumento da taxa básica de juros é “excessivo diante do atual cenário inflacionário”. A nota lembra que dados recentes da inflação oficial do país mostram que, no acumulado em doze meses, tanto o índice geral quanto os itens mais sensíveis à taxa de juros estão dentro do intervalo da meta para 2024.

“A federação ressalta que o elevado patamar da taxa de juros inviabiliza uma recuperação sustentável da indústria, em especial da indústria de transformação que há dois anos consecutivos registra queda na produção. Compromete, ainda, os investimentos, que continuam abaixo da média mundial. As incertezas relacionadas à condução da política comercial externa a ser adotada pelo novo governo americano tornam o cenário no médio prazo ainda mais desafiador”.

A federação reitera a importância da adoção de medidas que reduzam o risco-país. “Nesse sentido, uma política fiscal comprometida com a sustentabilidade da dívida pública é essencial para uma redução sustentável das taxas de juros. Sem medidas estruturais de contenção de despesas para lidar com o desequilíbrio nas contas públicas, o país corre o risco de enfrentar uma combinação de juros altos, desaceleração econômica acentuada e um crescimento ainda mais elevado do endividamento público”, diz a nota.

Na avaliação de Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), “seria interessante que as autoridades monetárias também perguntassem aos empresários da indústria, por exemplo, qual o impacto de 0,5 ponto percentual da Selic no custo de um financiamento para investir em máquinas e equipamentos ou manter o capital de giro. Quantos empregos nos setores produtivos deixam de ser gerados a cada aumento da taxa, que, somada aos spreads bancários, torna os juros reais brasileiros um dos mais elevados do mundo? E a retroalimentação da dívida pública, que cresce na mesma proporção, agravando o desequilíbrio fiscal, tão nocivo à economia?”.

Cervone lembra que também é preciso considerar que, excetuando a Argentina, quase todas as nações da América Latina que utilizam a metodologia do teto de gastos têm inflação maior do que a do Brasil e uma taxa de juros menor.

“E há um detalhe importante: cresceram bem mais do que o nosso país”, compara Cervone, relacionando a expansão do PIB das economias regionais na década 2012/2022. No Paraguai, avanço foi de 36,7%. Seguem-se: Colômbia (34,7%); Peru (31,5%); Chile (23,3%); e Uruguai (15%). “Com pífios 2,2%, estamos à frente apenas da Argentina (1,8%), há muito mergulhada em sucessivas crises”.

Lembrando que os juros elevados, muito acima do praticado na maioria dos países, têm sido um dos itens mais onerosos do “Custo Brasil” e um dos fatores que mais afetam a competitividade das empresas nacionais, o presidente do Ciesp ressalva ser necessário um mínimo de sinergia entre as políticas monetária e fiscal para que o Brasil cresça de modo sustentado e sem gerar inflação”. Para o empresário, isso não é o que esperam apenas as entidades empresariais da indústria, mas todos os setores produtivos e a sociedade brasileira.

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