Eleição de Trump pode ameaçar o globalismo, diz presidente da Fiesp
Brasil pode ser protagonista, mas precisa ampliar o aumento da participação dos produtos industriais na pauta exportadora, defende Ciesp
atualizado
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Embora a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, possa ser um indicativo de que o mundo vai entrar em uma era acelerada de isolacionismo, o globalismo ainda é a melhor solução para todos os países. Essa é a opinião de Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Durante a abertura do Fórum Estadão Think – Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global, realizado nesta terça-feira (12/11) na sede da entidade, Josué defendeu que pautas como as mudanças climáticas e os eventos naturais extremos podem fortalecer a indústria nacional.
“Todo plano de governo do presidente eleito nos EUA, e foi eleito de forma majoritária importante, temos que respeitar, demonstra uma tendência a um isolacionismo, a um americanismo e ao fim do globalismo. Eu sou um daqueles que acreditam que, nós, como humanidade, não podemos acreditar no fim do globalismo. Até porque desafios fundamentais, que são desafios de fato à humanidade, dependem de soluções globais e de cooperação entre todos os países do mundo para que nós possamos nos defender como civilização”, disse Josué.
Para exemplificar, o presidente da Fiesp citou a pandemia da Covid-19, que só foi superada com a cooperação global.
Em sua avaliação, o Brasil pode ser decisivo “na questão climática e na transição energética”, promovendo o desenvolvimento da indústria. O tema também foi lembrado por Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e diretor-superintendente do Sesi, que fez questão de ressaltar o momento geopolítico conturbado.
“Hoje, estamos em uma nova conjuntura, marcada por uma forte reação do Ocidente ao status que a China alcançou ao longo das últimas décadas. Enfrentamos o impacto de novas guerras e de tensões comerciais e geopolíticas, com uma nova versão de Guerra Fria, principalmente entre Estados Unidos e China.”
Luchesi destacou ainda os efeitos do clima. “Também vivemos uma era de extremos climáticos, como secas, queimadas e furacões, que trazem grandes riscos para as economias. No Brasil, essa questão afeta o agronegócio, as cidades e a infraestrutura, com altos riscos e custos climáticos. Cientistas alertam sobre o risco de um ponto sem volta. Estamos diante de um grande dilema: ou o mundo investe no maior programa de transformação tecnológica já visto, ou enfrentaremos sérios problemas climáticos com grande impacto para a humanidade”, disse.
Protagonismo
Para ampliar o protagonismo global do Brasil, defendeu Rafael Cervoni, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), é preciso ampliar o aumento da participação dos produtos industriais na pauta exportadora.
“Esse avanço fortaleceria nossa posição econômica, reduziria a dependência tecnológica e ampliaria o superávit na balança comercial. O potencial é grande, pois nosso parque manufatureiro é avançado e diversificado, mas carece de investimentos para a transição à quarta revolução industrial, exigindo uma atenção mais intensa de políticas públicas do que foi observado nas últimas décadas”, afirmou.
Segundo ele, um dos principais entraves que limitam uma maior inserção global do Brasil é o chamado “custo Brasil”. “Entre os principais obstáculos estão a carga tributária elevada, juros altos, insegurança jurídica, encargos trabalhistas excessivos e instabilidade cambial. Esses fatores dificultam a competitividade da indústria brasileira, sobretudo em um cenário de acirrada concorrência global”, concluiu.