Da indústria ao Exército: realidade virtual vira trunfo em treinamento
Ferramentas simulam situações extremas em um ambiente controlado e seguro, evitando acidentes e paradas de produção
atualizado
Compartilhar notícia
Capacete, óculos e muitas telas. Pode até parecer brinquedo de criança, mas o fato é que o uso da realidade virtual (RV) e da realidade aumentada (AR) estão mostrando ser ferramentas indispensáveis em diversos setores industriais. De treinamentos corporativos avançados até aplicações críticas na segurança do trabalho e defesa nacional, esta tecnologia está redefinindo paradigmas na indústria.
Segundo Wesley Oliveira, pesquisador especialista em Realidades Estendidas do Instituto SENAI de Inovação Sistemas Virtuais de Produção (ISI SVP), da Firjan SENAI, as ferramentas já são utilizadas em diversos segmentos da indústria. “Desenvolvemos diversas soluções interativas para treinamento, trabalhamos com setor siderúrgico, óleo e gás, químico, aviação e também na área da defesa, para o Exército e Marinha”, conta Wesley.
Ao oferecer experiências imersivas e seguras, a tecnologia ajuda a evitar acidentes e parada em linhas de produção, capacitando colaboradores a alcançarem novos patamares de eficiência e preparação. As demandas para tais treinamentos sempre partem de necessidades das indústrias.
“Eles nos procuram com determinadas necessidades e pensamos em como ajudar de forma eficaz, rápida e segura que só o treinamento virtual proporciona. Conseguimos evitar que colaboradores sejam expostos a riscos elevados e também conseguimos treinar mais pessoas em um menor tempo. Às vezes, com um óculos de realidade virtual que custa R$ 5 mil, conseguimos uma escalabilidade muito maior, 100% imersiva, sem qualquer distração”.
Dependendo do tipo de treinamento, é preciso desenvolver cabines especiais. Foi o que aconteceu para a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), onde foram construídos simuladores híbridos. “As cabines físicas têm todos os botões que o profissional precisa interagir. Isso faz com que ele tenha uma memória muscular e saiba exatamente onde precisa apertar em caso de emergência, por exemplo”, explica Wesley.
Ele conta que um dos projetos mais desafiadores foi fruto de uma parceria com a Embraer. Juntos, construíram um cockpit igual ao de um jatinho comercial privado. “Reproduzimos todos os botões existentes nos painéis. O treinamento acontece em uma realidade imersiva. Todo futuro piloto tem que fazer diversos treinamentos pré-voo e, ali, temos tudo o que precisa ser seguido à risca. A verificação de todos os sistemas, o simulador leciona da melhor maneira possível”, detalha.
Anfíbio
Outro projeto especial foi formatado para o Exército Brasileiro: um simulador de um veículo anfíbio de seis rodas. Um dos simuladores já foi entregue e outros quatro estão em desenvolvimento. Para tornar a experiência bem imersiva, foram instalados sensores no tanque anfíbio para captar todos os movimentos reais.
Com os dados captados pelos sensores, foram desenvolvidos modelos matemáticos que conseguem reproduzir para o piloto aprendiz todas as sensações que ele sentiria se estivesse no anfíbio real. A expectativa com o uso da realidade aumentada é levar diferentes cenários para o simulador e treinar à exaustão os militares em diversas situações que poderiam colocar em risco a vida humana, mas com segurança garantida em cada procedimento.
“É um simulador híbrido que pesa mais de uma tonelada e conta com toda a estrutura interna do espaço do piloto. É muito fiel ao original, o banco, todas as telas, retrovisores, todos os visores que o piloto precisa para dirigir o tanque estão ali. A gente consegue reproduzir até mesmo como o anfíbio se porta na água, o piloto sente a força que precisa fazer para mover o tanque”, explica Wesley.
Showroom imersivo
As salas que compõem o showroom do Instituto têm uma aparência que lembra espaços de exposição em feiras de artefatos e jogos eletrônicos. Localizado em Benfica, zona norte do Rio de Janeiro, os 20 projetos expostos convidam à interação com equipamentos que simulam situações reais.
É possível fazer uma imersão em uma cabine virtual de roupas que permite “experimentar” as peças de roupas. O espelho, criado para uma prova de conceito de indústria 4.0 do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (SENAI Cetiqt), hoje está em empresas que oferecem a opção da personalização da peça e encomenda sob demanda.
Com a tecnologia é possível definir quais estampas e cores da roupa e iniciar um processo de fabricação com integração da indústria, tendo a peça impressa, cortada e armazenada por robô. Após o processo, o usuário consegue recuperar sua peça com um QR Code.
Quem visita o showroom pode ainda sentir que está trabalhando em uma colheitadeira de árvores que realiza a limpeza e empilhamento dos troncos. Diante da tela, o operador se senta numa poltrona e mexe em comandos iguais aos da máquina real, tendo que programar seu trajeto por terrenos de diferentes tipos e vegetação diversa. A tecnologia oferece um treinamento único, exigindo muita precisão para cortar, descascar, fatiar, empilhar as árvores e ainda verificar o quanto de material foi desperdiçado no corte.
A diferença entre RV x RA
A realidade aumentada (RA) e a realidade virtual (RV) são tecnologias imersivas que transformam a maneira como interagimos com o mundo digital, mas funcionam de maneiras distintas. A realidade aumentada sobrepõe elementos digitais ao mundo real, usando dispositivos como smartphones, tablets ou óculos especiais.
Essa tecnologia permite que os usuários vejam informações adicionais ou objetos virtuais integrados ao seu ambiente físico, proporcionando uma experiência enriquecida sem isolar-se do mundo ao seu redor. Filtros de redes sociais, jogos como Pokémon GO e ferramentas de visualização em arquitetura e design são exemplos dessa aplicação.
Por outro lado, a realidade virtual cria um ambiente completamente digital, imergindo o usuário em um mundo virtual através de dispositivos como óculos VR e fones de ouvido. Na RV, os usuários são totalmente transportados para um espaço digital tridimensional, onde podem interagir com o ambiente e objetos virtuais de maneira realista.
A tecnologia é usada em simulações de treinamento e experiências educacionais, oferecendo uma sensação de presença e imersão que não é possível com a RA. Enquanto a RA complementa a realidade, a RV substitui-a temporariamente, criando uma experiência única e envolvente.