Cibersegurança tem 750 mil vagas e indústrias procuram por mulheres
Para preencher tantas vagas, profissionais da área de cibersegurança compartilharam importância da transição na carreira em evento na Fiesp
atualizado
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A escassez de profissionais de cibersegurança é um problema global. Somente no Brasil, a demanda atual é de aproximadamente 750 mil especialistas na área, segundo levantamento realizado pela Fortinet. Para tentar suprir essa demanda, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) reuniu profissionais da área para debater nessa quarta-feira (31/7) o papel das mulheres na cibersegurança e o que pode ser feito para que elas ocupem estas vagas.
Na avaliação de Marta Schuh, diretora do Departamento de Defesa e Segurança da Fiesp e diretora de Seguros Cibernéticos e Tecnológicos na Howden Brasil, a expectativa é que o número de vagas aumente a cada ano e, para preencher tamanha lacuna, muitas mulheres que estão insatisfeitas em suas áreas ou mesmo desempregadas deveriam considerar a migração de carreira.
“Faltam 3,4 milhões de trabalhadores no setor em todo o mundo, e no Brasil, esse número ultrapassa os 750 mil. Atualmente, as mulheres representam apenas 25% desses profissionais e essa é uma área transversal a todas as indústrias. Estamos sempre recebendo essa queixa, essa demanda. E podemos ocupar estes lugares. As mulheres precisam enxergar estas oportunidades e considerar a cibersegurança como uma alternativa de movimentação de carreira”, pontuou Marta.
Para vencer a barreira do desconhecido, Marta explica ser importante investir em cursos que já tenham afinidade com a atual carreira e lembra que o Serviço Social da Indústria (Sesi) já oferece cursos de cibersegurança. “Na área de privacidade, muitos profissionais são formados em direito. Eventualmente, esses profissionais começaram a entender privacidade mais a fundo e foram entender mais de tecnologia para hoje atuarem em cibersegurança”.
Ela reforça que uma boa dica para enfrentar a concorrência é não desanimar com a quantidade de skills exigidas em vagas publicadas em plataformas de emprego como o Linkedin. “Se a gente parar para ler as vagas, vamos achar que o profissional de cibersegurança precisa ser o ‘He-man’. Mas não precisa. Importante se candidatar e acreditar na sua qualificação”, explicou a diretora da Fiesp.
O pensamento está alinhado ao de Andréa Thomé, diretora de governança, risco e compliance e head do conselho da organização Women in Tech Lifetime Achievement (WOMCY), uma ONG sem fins lucrativos com foco no desenvolvimento da Cibersegurança para mulheres. Segundo a profissional, vale investir em cursos curtos, mesmo que não sejam muito aprofundados, apenas como porta de entrada na profissão.
“A transição de carreira tem sido bem vista em todos os lugares, até para que as empresas possam compor os times. Tem espaço para todas as profissões. Se uma pessoa é formada na área de humanas e quiser trabalhar como hacker, ela consegue. Pode levar mais tempo para se qualificar, mas é possível. O mundo é feito de oportunidades, e as mentorias podem ajudar muito. Temos muitas comunidades com pessoas disponíveis para ajudar com dicas e truques. Temos as as nanodegrees, não que eu esteja fazendo apologia contra a graduação, mas é possível iniciar a carreira na cibersegurança enquanto se aprofunda nos estudos”, ponderou Andréa.
Único homem a palestrar no evento, Glauco Sampaio, superintendente de segurança e privacidade da Cielo, registrou a importância da diversidade, sobretudo de idade, quando o tema é tecnologia. Ele conta que a maturidade dos times mais velhos ajudam nos momentos de crise.
“Os líderes precisam entender a importância da diversidade de gênero, raça e, sobretudo, de idade. As pessoas de mais idade têm uma bagagem importante e lidam melhor com os momentos de crise. As empresas precisam enxergar essa importância e criar um programa de diversidade, estruturado e que tenha continuidade e suporte”, ponderou.
A migração foi o caminho escolhido por Natalia Amancio, que se formou em estatística e hoje trabalha como executiva de Cloud no Google Brasil. Ela conta ter passado por diversas indústrias até se firmar na área de tecnologia.
“Trabalhei por muito tempo em consultoria, onde conheci diferentes tipos de indústrias e acabei migrando para a área de tecnologia. Meu pai era zelador e minha mãe trabalhava doméstica. Sempre estudei em colégio público e vejo a educação como agente transformador. Consegui uma bolsa de estudos em um cursinho e passei para a faculdade pública. Depois de migrar de área, já trabalhei na Meta, no Nubank e hoje atuo no Google”, detalhou.
Para realizar a mudança de área e o consolidar o crescimento na carreira, Natalia conta que precisou aprender não só outras habilidades, mas como deveria se posicionar diante das oportunidades. “Comecei a perceber que as pessoas que avançavam não eram como eu e comecei a aprender com estas pessoas. Aprendi a me posicionar. Como mulheres as oportunidades não aparecem, a gente tem que forçar a janela e estar preparada para isso’, concluiu.