B20 Brasil: Fiesp diz que é preciso aliar sustentabilidade e inclusão
Setor privado listou 24 recomendações em áreas estratégicas para o enfrentamento da crise climática global no 1º dia do B20 Brasil
atualizado
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Mais de mil executivos se reuniram nesta quinta-feira (24/10), em São Paulo, para o primeiro dia do B20 Summit Brasil, evento de encerramento do principal fórum do setor privado do G20. Durante a abertura das plenárias, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, lembrou que o país, que será palco de outros eventos internacionais como o Fórum de Economia Circular, a reunião dos BRICS e a COP, em Belém, demonstra interesse nas grandes causas globais, mas que é preciso aliar sustentabilidade com inclusão.
“Como disse o nosso presidente quando tomou posse, o Brasil está de volta ao mundo tentando colaborar com as grandes causas mundiais, a causa da sustentabilidade e de um crescimento que, sem sustentabilidade e sem inclusão, não propiciará um futuro próspero para todos os habitantes do planeta”, ressaltou Josué.
Segundo Dan Ioschpe, empresário de rodas e de componentes automotivos e chair do B20 Brasil, se o Brasil não liderar debates globais, pode ver suas fortalezas se transformarem em fraquezas.
“A gente consegue alinhar o Brasil a algumas pautas globais e consegue alinhar algumas pautas globais ao Brasil. Se nos posicionarmos bem, como líderes de determinadas questões, passamos a ser mais ouvidos. Isso é muito importante, e vou dar um exemplo. A discussão da universalização dos créditos de carbono, que está na seara da de carbonização, de comércio, investimento, de quase tudo. Se o Brasil ficar fora das mesas, ele, obviamente, não vai ser contemplado e as suas fortalezas vão virar, talvez, fraquezas”, afirma o empresário.
Desde janeiro de 2024, cerca de 1,5 mil presidentes das principais empresas do mundo se dividiram em três grupos para elaborar as recomendações do setor privado em áreas estratégicas, como comércio, finanças, infraestrutura, educação e trabalho; transição energética, transformação digital, compliance, sistemas alimentares e agricultura e diversidade e inclusão nos negócios.
Para Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a indústria desempenhou um papel central. Ele destacou a transição energética, a transformação digital e o comércio global como prioridades e reafirmou a capacidade do país em ser destacar como líder na economia de baixo carbono.
“O Brasil, com seu enorme potencial para a produção de energia solar, eólica, biocombustíveis e outras fontes limpas, reúne as condições ideais para desenvolver tecnologias e negócios inovadores nessas áreas e ser um dos líderes mundiais da economia de baixo carbono. Por isso, o Conselho Consultivo tratou a descarbonização, a bioeconomia e o desenvolvimento do mercado de carbono como elementos essenciais para ampliar a inserção competitiva do Brasil no mercado mundial”, contou Alban.
Em sua avaliação, o Brasil, que passará a presidência do B20 para a África do Sul, deu provas de que o setor privado brasileiro é capaz de influenciar positivamente as políticas globais e de contribuir com iniciativas que “acelerem o crescimento sustentável da economia e promovam o bem-estar da população”.
Recomendações
Ao todo, o trabalho dos executivos resultou em 24 recomendações do B20 para o enfrentamento da crise climática global e para lidar com a necessidade urgente de uma transição energética igualitária. De acordo com dados da COP28 e do Climate Policy Initiative, será preciso investir de US$ 5 a US$ 8,5 bilhões por ano até 2030 para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Na área de Finanças e Infraestrutura a principal recomendação prevê a aceleração da implantação de capital privado para facilitar a transição para uma economia sustentável de baixo carbono, a revisão do papel do financiamento do setor público para melhorar a eficiência de alocação de capital em prol do financiamento climático, e ainda o debate das políticas de capital regulatório e das agências classificadoras de risco para o financiamento climático.
O grupo de Transição Energética e Clima listou como prioridades a elaboração de políticas, regulações e incentivos para triplicar a capacidade energética renovável até 2030, com a expansão da infraestrutura das redes e aceleração da ampla eletrificação; o estabelecimento de mecanismos e iniciativas para explorar o potencial sustentável e a prontidão de bioenergia e biocombustíveis para descarbonização, e de outras soluções de transição para o net zero, como captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS), hidrogênio limpo e energia nuclear.
No tema de Sistemas Alimentares Sustentáveis e Agricultura, as lideranças acreditam que os membros do G20 devem usar mecanismos de financiamento combinados, e redirecionar o apoio agrícola para acelerar a transição para sistemas alimentares mais resilientes, sustentáveis e equitativos. Os países também devem desenvolver uma estrutura regulatória que acelere o desenvolvimento de créditos interoperáveis e de alta integridade para serviços como captura de carbono, e redução do uso de água doce.
As prioridades do grupo que estudou o Comércio estão a promoção de metodologias aceitas internacionalmente para cálculo e prestação de contas sobre a pegada de carbono de produtos, além de viabilizar boas práticas regulatórias e taxonomias para instituições que queiram promover a sustentabilidade ambiental. Eles também pede a revisão de políticas comerciais restritivas unilaterais dos países do G20 nos últimos três anos.
O grupo que pensou o tema Mulheres, Diversidade e Inclusão recomenda ser preciso garantir orçamento público para dar suporte abrangente e acesso equitativo à educação para estudantes de baixa renda, com deficiência e demais grupos sociais relacionados, desde a primeira infância até a capacitação e requalificação. Os empresários pedem ainda a implementação responsável de IA sem vieses, por meio de comitês e alianças entre empresas dos setores público e privado, com incentivo quando houver promoção de diversidade e inclusão para o desenvolvimento desses profissionais.
Na área do Emprego e Educação, as medidas consideradas prioritárias são a requalificação e uma melhoraria nas competências para diminuir a escassez de talentos, especialmente em proficiência digital e sustentabilidade, além do aumento da relevância e da qualidade da educação básica e da educação profissional e tecnológica (EPT) para a força de trabalho desenvolver habilidades essenciais para emprego e negócios do futuro.
O grupo de Transformação Digital definiu como prioridades acelerar a expansão e o uso da infraestrutura de tecnologia da informação e comunicação por meio de modernização regulatória e parcerias público-privadas (PPPs) que incentivem investimento, colaboração e competição justa, o fomento da cooperação multilateral para melhoria da ação cibernética internacional e ainda o fortalecimento da colaboração internacional para o desenvolvimento, implementação e governança responsáveis da IA.
As prioridades do grupo que estudou Integridade e Conformidade listou como prioridade o aprimoramento da transparência e da comunicação em sistemas de inteligência artificial (IA) com a criação de códigos de conduta, a adoção de frameworks globais sobre o desenvolvimento, e a implementação e uso da IA de forma consciente e ética, além do estímulo dos setores público e privado a promoverem um local de trabalho justo e seguro, com medidas para prevenir e combater o assédio.