“Governo vai perder a batalha contra inflação”, diz Mendonça de Barros
Banco Central começa a discutir nesta quarta valor da taxa de juros; para o economista Mendonça de Barros, ela não vai diminuir tão cedo
atualizado
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, correm o risco de perder a batalha para a inflação, porque não entendem o atual ciclo da economia brasileira. A opinião é do economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-diretor do Banco Central, presidente do BNDES e ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Para ele, há fartas indicações de que a inflação não vai ceder tão cedo. Na verdade, ocorreria o oposto. As previsões de que a inflação crescerá estão aumentando. “Bancos e especialistas estão elevando continuamente seus números para 2023”, diz Mendonça de Barros. “Agora, todas as estimativas já saíram da casa dos 5,6% para alcançar os 6% ou um pouco mais.”
A pressão sobre os números está sendo exercida por, pelo menos, dois fatores. Um deles é a incerteza sobre a questão fiscal. Ou seja, não se sabe que rumo será dado ao controle de gastos do governo, para evitar um eventual aumento da dívida pública. O ministro Haddad e sua equipe preparam as bases de um novo arcabouço fiscal com esse objetivo, mas não há nada de concreto até o momento.
Além do mais, acrescenta o economista, a economia brasileira não está de todo fraca. Se estivesse, a queda dos juros seria uma opção correta. Mendonça de Barros compara o atual ciclo econômico, bem como a dificuldade que ela impõe para a redução da Selic, com a brincadeira de pular corda.
“Você precisa entrar na corda quando ela está baixa, para conseguir saltá-la. Nesse caso, é possível diminuir os juros”, diz. “Se entrar com ela acima da sua cabeça, ou seja, com a atividade econômica ainda aquecida, não dá tempo de pular. Você vai acabar enrolando as pernas e caindo.”
Ele observa que,quando diz que o “governo vai perder a batalha da inflação”, não quer dizer que haverá um descontrole da taxa ou um surto inflacionário. “Mas a redução não vai acontecer tão cedo”, aponta. “E imagina se chegarmos ao fim do ano com uma inflação de 6% e um PIB crescendo 1,5%, como apontam as atuais estimativas”, questiona. “Isso vai ser péssimo. Neste ambiente polarizado, vai levar a uma comparação inevitável com o período anterior do governo Bolsonaro, que acabou em situação melhor, com PIB de 3,1% e inflação de 5,79%.”
Para Mendonça de Barros, também é inócua a disputa do governo com a cúpula do Banco Central (BC), em curso nas últimas semanas, cujo escopo também avançou para uma eventual mudança da meta da inflação. “O BC tem um protocolo, vai cumpri-lo e, por isso, não vai baixar a Selic na atual conjuntura”, nota. Nesta quarta-feira (1º/2), o BC definirá qual será a taxa básica de juros no país. Atualmente, ela está fixada em 13,75% ao ano. A maioria dos analistas econômicos acredita que a taxa não será alterada.