Governo não perde a chance de desperdiçar oportunidades, diz gestora
A gestora Verde, de Luis Stuhlberger, diz que críticas de Lula à autonomia do BC e às metas de inflação são ruído desnecessário
atualizado
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Em sua carta do mês de fevereiro, a gestora Verde usou uma expressão popular para definir a atuação do governo, e em especial do presidente Lula, em relação à política monetária. No documento, a casa de investimentos comandada por Luis Stuhlberger disse que “o novo governo não perde uma oportunidade de perder oportunidades”.
A análise tratou dos discursos recentes de Lula sobre a autonomia do Banco Central e sobre as metas de inflação. Nas últimas semanas, o presidente atacou o mandato de Roberto Campos Neto à frente da autoridade monetária.
“Quero saber do que serviu a independência do Banco Central. Eu vou esperar esse cidadão (Campos Neto) terminar o mandato dele para fazermos uma avaliação do que significou o BC independente”, disse Lula em entrevista à RedeTV! na semana passada.
O ataque a Campos Neto e à decisão do BC de manter a Selic e 13,75% só serviu para deixar o mercado mais preocupado. No dia seguinte à entrevista, a Bolsa de Valores caiu, o dólar subiu e as curvas de juros passaram a refletir um cenário mais preocupante para os juros no médio e longo prazo, dada a percepção de que o governo Lula estaria disposto a tolerar uma inflação mais elevada.
“Os constantes questionamentos sobre a meta de inflação e ataques à independência do Banco Central mantém os prêmios de risco, especialmente na curva de juros, bastante altos, e afetam diretamente o valuation (o preço) das ações”, escrevem os analistas da Verde.
Hoje (6/2), o presidente voltou a falar do assunto. Em discurso durante a posse de Aloizio Mercadante como presidente do BNDES, Lula disse que o patamar atual dos juros “é uma vergonha” e que “não há justificativa nenhuma” para a Selic estar em 13,75% ao ano.
A taxa de juros é a principal ferramenta do BC para conter a inflação, que chegou a 10% em 2021 e está há dois anos acima da meta estipulada.
Exterior ajudando, política atrapalhando
A gestora lembra, ainda, que o contexto econômico tornou-se muito favorável, em razão da reabertura da economia chinesa e pela recuperação na demanda por commodities, setor de importância na Bolsa e no PIB brasileiro.
O efeito positivo pode ser anulado pelo ruído causado pelo governo. O comportamento do dólar nos últimos dias é um exemplo disso. A moeda americana chegou a ser negociada abaixo dos R$ 5 na semana passada, mas voltou para perto de R$ 5,20 após as falas de Lula.
“Mantemos a visão que expressamos em nossa última carta: existe muito ruído (mas também algum sinal) nessas declarações dos políticos, e dado o pessimismo prevalente no mercado brasileiro junto ao contexto global muito favorável, períodos de silêncio brasiliense tendem a ser taticamente positivos”, disse a gestora.