Governo “atravessa rua pra escorregar na casca de banana”, diz gestora
Verde, gestora de Stuhlberger, criticou “declarações absolutamente estapafúrdias” concedidas por membros do governo Lula nos últimos dias
atualizado
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A Verde, respeitada gestora do mercado financeiro fundada por Luis Stuhlberger, criticou os discursos recentes de membros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo análise publicada ontem (6/1) na carta de dezembro da gestora, “o novo governo parece adotar um modus operandi que lembra a frase de Azeredo Silveira […]: tem gente que atravessa a rua para escorregar na casca de banana que está na outra calçada”.
Tal modus operandi, segundo a Verde, é mais delicado agora, pois estamos em um momento em que os investidores estão tentando entender qual será o tom da nova gestão Lula.
Nessa fase, distinguir o que é ruído e o que é sinal é uma tarefa difícil e, por isso, toda e qualquer declaração dada por membros do governo acaba impactando ativos e fazendo preço no mercado.
“Com mais alguns meses, ficará claro quem são os interlocutores que de fato sinalizam quais políticas públicas serão adotadas, e quem são apenas irrelevantes”, avalia a gestora de Stuhlberger, na carta mensal.
A situação fiscal e de endividamento “inspira cuidados e cautela”, como lembram os analistas da casa. As declarações desencontradas acabam piorando o quadro, dado o impacto direto sobre o dólar e as projeções de juros. Esses eventos têm efeito inflacionário e de aumento do custo da dívida pública.
“Tal fórmula já foi testada nos governos Dilma e sabidamente levou a um desastre. O ponto de partida hoje é substancialmente pior que em 2010, mas parece não haver reconhecimento disso”, observa a gestora, cujo patrimônio administrado é de mais de R$ 30 bilhões.
Ministros apagando o fogo
A confusão mais notável da semana foi a envolvendo o novo ministro da Previdência. Carlos Lupi, dedicou boa parte do seu discurso de posse, nesta semana, para negar o déficit nas contas de aposentadoria e pensão.
O discurso contradiz os próprios dados oficiais do Orçamento, que estimam um déficit de R$ 350 bilhões na Previdência do INSS, servidores públicos e militares em 2023.
Lupi foi expressamente desautorizado na manhã de ontem por Rui Costa, ministro da Casa Civil, em uma entrevista ao jornal Valor Econômico.
“Claro que tem déficit previdenciário, negar isso é negar a realidade. Vamos ter um negacionista dentro do nosso governo? O déficit da Previdência pública é enorme, continua enorme apesar de todas as reformas”, disse Costa.
Na entrevista, o ministro-chefe da Casa Civil disse, ainda, que recomendou que Lupi “jogasse a gasolina dele fora” e que foi convocado com “extintores” para apagar o incêndio causado pela fala do representante da pasta da Previdência.
Na terça-feira (3/1), dia em que o novo ministro defendeu a existência de uma comissão para desfazer parte das mudanças aprovadas em 2019 nas regras de concessão de aposentadorias e pensões, a Bolsa despencou 2% e o dólar subiu ao maior patamar desde julho passado.