Google Bard x ChatGPT: como a corrida global pela IA mudou de patamar
Especialistas afirmam que o mercado de IA terá poucos e poderosos concorrentes. E que Bard ainda não supera ChatGPT, mas pode e deve crescer
atualizado
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Há uma semana, na quinta-feira (13/7), o Brasil e os 27 países da União Europeia passaram a ter acesso ao Google Bard, o sistema de inteligência artificial (IA) do Google, que responde a perguntas dos usuários e cria conteúdos. A ferramenta pretende fazer frente ao ChatGPT, chatbot (robô de bate-papo) desenvolvido pela startup americana OpenAI, com apoio da Microsoft.
Desde março, o Google Bard já estava disponível nos Estados Unidos e no Reino Unido. Dois meses depois, a plataforma foi expandida para mais de uma centena de países – eram 144 os que tinham acesso à ferramenta até o dia 12 de julho. O chatbot já funciona em 40 idiomas (saiba mais detalhes aqui).
Em maio, antes de chegar ao Brasil, o Bard registrou 142,6 milhões de acessos, quase três vezes mais do que em abril. O ChatGPT, por sua vez, teve 1,8 bilhão de visitantes, de acordo com dados da empresa de medição de audiência on-line Similarweb. Em junho, o ChatGPT teve uma redução de 9,7% no número de acessos em relação ao mês anterior. Foi a primeira queda mensal desde sua estreia, em novembro do ano passado.
Segundo especialistas em tecnologia ouvidos pela reportagem do Metrópoles, ao liberar para o público o acesso gratuito ao Bard, o Google leva o mercado de IA para um outro patamar e abre caminho para novas transformações.
“O Google não está entrando agora nesse mercado. Ele sempre foi líder em IA. Só que, historicamente, a empresa teve mais receio de liberar sistemas desse tipo para o público em geral”, afirma Daniel Avancini, cofundador e diretor de dados da Indicium, empresa de ciência de dados, analytics e big data. “Por ser uma startup e não ter muito a perder naquele momento, a OpenAI teve coragem para lançar o ChatGPT. O Google, então, foi obrigado a mudar sua estratégia”, explica.
Helbert Costa, sócio e diretor de tecnologia de marketing na Monte Bravo Investimentos, diz que, apesar de concorrentes, Bard e ChatGPT “têm propostas distintas”. “O ChatGPT é usado quando a pessoa quer criar algo mais estruturado. Ele não é factual, não se preocupa necessariamente com a realidade dos fatos, mas cria para o usuário um texto mais ‘humano’ e até mais criativo”, afirma.
“O Bard é mais adequado para uma pesquisa direta, factual. Ao ler as respostas para uma mesma pergunta que se fizer para o Bard e para o ChatGPT, você verá que as do ChatGPT geralmente vêm em alguns parágrafos, enquanto o Bard traz respostas em módulos, em tópicos”, compara.
Para Costa, “caberá ao profissional ou à empresa definirem qual é a ferramenta correta para aquilo que se deseja”. “Você não usa o Excel para fazer um texto, mas o Word. Assim como tabelas e planilhas ficam muito melhores no Excel. A questão é saber qual é o instrumento ideal para aquele tipo de tarefa”, afirma.
Quem está em vantagem?
Phelipe Barros, gerente de estratégia da agência de comunicação digital Sioux, cita o nível de atualização como a maior diferença entre Bard e ChatGPT – e, neste caso, a vantagem é do Google. “A última vez que o ChatGPT foi ‘treinado’ pelos engenheiros de software foi em setembro de 2021. Já o Bard está 100% conectado ao buscador do Google e é atualizado o tempo inteiro”, compara. “Se você perguntar para a versão gratuita do ChatGPT quem é o presidente do Brasil, ela vai dizer que é Jair Bolsonaro. O Bard, mais atualizado, vai informar que é o Lula.”
Apesar de vantagens pontuais, diz Barros, o Bard ainda não tem condições de desbancar o ChatGPT. “Embora o Google tenha uma capacidade muito grande de armazenamento e processamento de dados, o ChatGPT é um pouco mais avançado”, avalia. “Mas não é uma vantagem tão ampla. Eu imagino que, em pouco tempo, teremos o Bard em um nível muito próximo ao do ChatGPT ou até melhor. Vai depender muito do quanto o Google vai investir nele e, certamente, será muito dinheiro.”
Segundo Barros, um dos trunfos do Bard é justamente o peso da marca Google. “Os celulares Android, por exemplo, já vêm com o assistente do Google. É uma marca mais presente, enquanto a grande maioria das pessoas nunca ouviu falar na OpenAI”, diz. “Quase todo mundo sabe o que é o Google e, se não sabe, certamente utiliza alguma ferramenta do Google no seu dia a dia. É uma marca mais estabelecida e tem mais força e capital para fazer isso acontecer.”
Avancini, por sua vez, prefere não cravar qual dos dois está à frente. “Ainda não é possível dizer. Além da busca, o que vai mostrar o valor deles é a capacidade de integrar esses modelos às ferramentas de produtividade que utilizamos, como o Excel e o Office, no caso da Microsoft, e o Workspace, no caso do Google. Todo mundo quer transformar essas ferramentas no seu assistente virtual 24 horas. A dúvida é quem vai conseguir fazer isso primeiro.”
Uma corrida de poucos competidores
De acordo com os especialistas consultados pelo Metrópoles, a corrida global pela IA deve ganhar mais alguns competidores – mas não serão muitos. Na terça-feira (18/7), a Microsoft e a Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, anunciaram uma parceria para oferecer o Llama 2, o sistema de IA desenvolvido pela empresa comandada pelo bilionário Mark Zuckerberg. Elon Musk, dono do Twitter e da Tesla, anunciou a criação da xAI, startup de IA que já conta com profissionais que trabalharam na OpenAI e no Google.
“O que vai acontecer é que haverá alguns poucos modelos, mas muito grandes, que tenham diferentes aplicações. Assim como temos poucos sistemas operacionais, como Windows, Linux e MacOS. Assim como temos o Android e o iOS, por exemplo. Teremos poucos modelos de IA que darão base para muitos aplicativos. Serão, provavelmente, o modelo do Google, o da OpenAI/Microsoft e o do Facebook/Meta, além de algum sistema possivelmente associado ao Twitter”, diz Avancini.
“A verdade é que, mesmo diante de uma forte concorrência, o Google está muito bem posicionado para ser líder desse mercado, mesmo com o ChatGPT estando na dianteira neste momento. Não podemos nos esquecer de um detalhe que faz toda a diferença: o Google tem a maior base de dados do mundo”, conclui.