“Golpe em letras grandes”, diz Reale Júnior sobre destituição de Josué
Para o advogado, saída do empresário do comando da entidade “foi desavergonhadamente ilegal” e “um golpe contra o espírito democrático”
atualizado
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A destituição do empresário Josué Gomes da Silva da presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), aprovada em assembleia realizada na segunda-feira (16/1), foi um “golpe”. Esta é a opinião do advogado Miguel Reale Júnior, que classificou o afastamento de Josué como “ilegal”.
“É golpe em letras grandes. Na verdade, o Josué foi destituído porque fez um manifesto a favor da democracia”, afirmou Reale Júnior, um dos responsáveis pela defesa do empresário, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Para o advogado, a saída do empresário do comando da entidade “foi desavergonhadamente ilegal” e “um golpe contra o espírito democrático”.
Como noticiado pelo Metrópoles, interlocutores de Josué contestam a validade da decisão. Eles argumentam que o empresário havia suspendido a reunião no fim da tarde. Depois disso, retirou-se do local acompanhado pelos líderes que o apoiam, ligados a setores de grande porte da indústria brasileira.
Na sequência, o grupo de sindicatos patronais insurgentes, com a maioria entre representantes de sindicatos menores, abriu uma nova assembleia e deu início à votação.
Esse seria o motivo da contagem maciça contra o presidente da Fiesp (47 votos contra um, com duas abstenções). Os grupos que contestam o resultado, no entanto, observam que os 47 votos dados a favor da destituição não representam nem sequer a metade dos 112 sindicatos patronais com direito a participar do pleito da Fiesp.
Com o impasse, o imbróglio inédito em curso na maior entidade empresarial do país deve terminar na Justiça.
“São todas questões laterais e que foram respondidas”, afirmou Reale Júnior sobre os questionamentos apresentados pelos sindicatos a respeito da conduta de Josué no cargo. “Passaram por cima do estatuto como um trator. Destituíram porque queriam, simplesmente.”
Em 2016, Miguel Reale Júnior foi um dos autores do pedido de impeachment que levou ao afastamento da então presidente da República, Dilma Rousseff, do cargo.
Os questionamentos dos sindicatos
A crise política na Fiesp teve início em outubro do ano passado, quando membros de sindicatos descontentes apresentaram um pedido de convocação de assembleia para tentar destituir Josué do cargo. Em reunião da diretoria no início de novembro, o presidente da Fiesp rechaçou a ofensiva, alegando que não havia elementos que justificassem a reunião.
O documento apresentado pelos sindicatos pedindo o encontro enumerava 12 itens com justificativas para a convocação da assembleia. Entre os motivos apresentados, estavam contestações sobre nomeações de assessores de Josué, além de críticas pela divulgação da carta “em defesa da democracia” durante a campanha eleitoral.
As declarações de Josué durante a campanha de 2022, simpáticas à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, desagradaram os grupos da entidade que apoiavam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A decisão da Fiesp de divulgar a carta, em agosto, foi considerada um erro por atrelar a instituição à candidatura do petista. O documento teve apoio de apenas 14% dos sindicatos industriais.
A proximidade com Lula fez ainda com que Josué Gomes da Silva se tornasse o nome da preferência do presidente da República para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.