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Ex-ministro defende revisão de acordo de exportação de carne com China

Antônio Cabrera, ex-ministro da Agricultura, critica cláusula que obriga suspensão imediata de exportações da carne bovina brasileira

atualizado

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1 de 1 antonio-cabrera - Foto: Wilson Camargo/NTAI

A suspensão temporária das exportações da carne bovina brasileira para a China após o registro de um caso do “mal da vaca louca” em uma propriedade rural de Marabá (PA) deveria levar a uma revisão do acordo vigente entre o Brasil e o país asiático, firmado em 2015. É o que pensa o ex-ministro da Agricultura Antônio Cabrera, que comandou a pasta entre 1990 e 1992, durante o governo de Fernando Collor.

Em entrevista ao Metrópoles, Cabrera, que é oriundo de uma família de produtores rurais do interior paulista e tem uma fazenda em Santana do Araguaia (PA), a 500 quilômetros de Marabá, afirma que a interrupção dos embarques de carne bovina para a China deveria ocorrer apenas após a confirmação de que se trata de uma contaminação de origem típica, de maior gravidade e alcance potencialmente maior.

Pelo protocolo atual, a suspensão das exportações é praticamente automática quando surge uma nova ocorrência de “vaca louca”. As vendas são interrompidas por meio de um autoembargo, como o decretado agora pelo Brasil.

Há duas formas de contaminação do gado. A primeira é de origem atípica, quando, naturalmente, o agente infeccioso sofre uma mutação e se multiplica no organismo do animal. A segunda forma, de origem típica, é por meio do consumo de rações feitas com proteína animal contaminada, como farinha de carne e ossos de outras espécies. A confirmação do tipo da doença no caso de Marabá depende do resultado de exames que serão realizados em um laboratório de Alberta, no Canadá. Até lá, as exportações de carne bovina para a China estão suspensas.

“Nós deveríamos tirar algumas lições desse episódio para minimizar o impacto de casos semelhantes no futuro. A primeira medida seria termos, no Brasil, um laboratório de referência para esses casos, para que não precisemos mandar uma amostra para o Canadá. Se somos o maior exportador de carne do mundo, por que não podemos ter esse laboratório de referência aqui no país?”, indaga Cabrera.

Segundo o ex-ministro, enquanto Brasil e China aguardam o resultado dos testes, os efeitos do embargo já são sentidos. “Enquanto esperamos esse resultado, a especulação come solta. Abates serão cancelados e carregamentos serão postergados”, lamenta.

“Nosso acordo com a China é de 2015. Talvez seja o momento de repensar essa cláusula do autobanimento. Nós mesmos cortamos as exportações. Por que isso não pode ocorrer apenas depois da confirmação de um caso típico? Nossa incidência de vaca louca é praticamente insignificante”, prossegue Cabrera. “Depois que isso passar, com calma, acho importante fazer essa mudança para não passarmos por esse estresse.”

A importância da diplomacia

Na entrevista ao Metrópoles, Antônio Cabrera diz acreditar que o caso em Marabá seja atípico, sem maiores consequências, como antecipou o atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.

“É um animal velho, de 9 anos, de uma pequena propriedade. Não é um animal de alimentação intensiva, de confinamento e não tem acesso a ração”, explica. “(O caso atípico) Não é preocupante para a saúde humana ou em termos de transmissão dos conviventes, dos animais ao redor.”

Segundo o ex-ministro, o trabalho a ser feito agora é pela via diplomática. “Agora vai depender muito da diplomacia brasileira. Já tivemos casos em que demorou 13 dias para a exportação ser retomada. Em outro caso, demorou 120 dias. Agora é uma questão de timing, aguardando essa posição do Canadá”, projeta Cabrera.

“Assim que sair esse resultado, e todos nós esperamos que seja um caso atípico, imediatamente o ministro deve fazer uma visita a Pequim e começar uma articulação para reabrir as exportações. Agora, essa reabertura vai depender da China. Eles precisam da nossa carne. O Brasil é o maior fornecedor de carne para a China e, ao mesmo tempo, a China é o nosso principal mercado. Temos boas relações com os chineses”, conclui o ex-ministro.

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