EUA: sem surpresa, Fed mantém juro inalterado pela 3ª reunião seguida
Em decisão esperada, juros básicos dos EUA permanecem em um intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano, o maior patamar em mais de duas décadas
atualizado
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Confirmando as expectativas da maioria dos analistas, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) decidiu manter inalterada a taxa básica de juros da economia americana. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (13/12) pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc).
Com isso, os juros básicos encerram 2023 em um intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano, o maior patamar em 22 anos.
Nas duas últimas reuniões do Fomc, em setembro e novembro, a taxa de juros já havia sido mantida nessa faixa. O último aumento dos juros foi em julho, quando o Fed subiu a taxa em 0,25 ponto percentual.
No mês anterior, o comitê havia feito uma pausa no aperto monetário, mas indicando que novas altas poderiam vir na sequência. Antes de interromper o ciclo de alta dos juros, em junho, o Fed aumentou a taxa 10 vezes consecutivas, a partir de março de 2022.
Nas últimas 15 reuniões do Fomc, contando a desta quarta, houve elevação dos juros em 11 e manutenção da taxa em quatro.
“Indicadores recentes sugerem que o crescimento da atividade econômica abrandou, diante do ritmo forte registrado no terceiro trimestre. Os ganhos de emprego se moderaram desde o início do ano, mas permanecem fortes, e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação diminuiu ao longo do ano passado, mas permanece elevada”, diz a autoridade monetária americana no comunicado que acompanha a decisão.
“O comitê continuará a avaliar informações adicionais e as suas implicações para a política monetária. Ao determinar a extensão de qualquer reforço adicional da política que possa ser apropriado para fazer a inflação voltar a 2% ao longo do tempo, o comitê terá em conta o aperto cumulativo da política monetária, as defasagens com que a política monetária afeta a actividade econômica e a inflação, e os efeitos económicos e desenvolvimentos financeiros”, prossegue o comunicado do Fed.
“O comitê está preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o cumprimento dos objetivos do comitê. As avaliações do comitê terão em conta uma vasta gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, além de desenvolvimentos financeiros e internacionais.”
Inflação nos EUA
A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.
Dados divulgados pelo Departamento do Trabalho do governo americano mostram que a inflação no país foi de 3,1% em novembro, praticamente estável em relação aos 3,2% do mês anterior. O resultado veio em linha com as estimativas do mercado.
A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano.
Análise
A decisão de manter os juros básicos da economia americana no patamar entre 5,25% e 5,5% ao ano já era esperada pelo mercado financeiro. A dúvida, a partir de agora, é o que fará o Fed a partir do ano que vem. A maioria dos integrantes do Fomc indicou, nesta quarta, três possíveis reduções de 25 pontos-base, o que significaria uma queda de 0,75 ponto percentual nos juros em 2024.
“Na nossa visão, o começo dos cortes deve ocorrer a partir de meados de 2024 e não mais no fim do ano. Isso porque o mercado de trabalho deve continuar desaquecendo, ainda que lentamente, e a inflação desacelerando”, afirma Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank.
Volnei Eyng, da Multiplike, destaca que “os dados ainda geram um cuidado maior com a inflação nos EUA”. “O início da queda da taxa de juros americana deve ser apenas no segundo trimestre de 2024. A partir do momento em que os juros dos EUA começarem a cair, não devemos ver grandes alterações no Brasil, que iniciou antes esse processo de redução dos juros”, avalia.
Análise semelhante é feita por Caio Schettino, da Criteria. “Embora a inflação nos EUA tenha diminuído, ela ainda está muito acima da meta de 2% do Fed. É importante destacar que a queda nos preços das commodities, especialmente as de energia, contribuiu para que a leitura viesse em linha com as expectativas. A gasolina, por exemplo, registrou queda de 6% no último mês”, diz.
“Devido à volatilidade nos preços de energia e alimentos, o Fed costuma focar no núcleo da inflação, que tem características mais estruturais. O núcleo da inflação continua com expansão de 4% nos últimos 12 meses, o que impede qualquer redução de juros nos EUA por ora. De maneira geral, os preços de quase todos os bens estão consideravelmente acima dos patamares pré-pandemia, afetando o consumidor americano”, conclui Schettino.
Marcelo Oliveira, CFA e sócio-fundador da Quantzed, diz que houve algumas “novidades” na decisão do Fed. “A maioria dos membros veem cortes de juros em 2024, com uma mediana em três cortes de 0,25 ponto percentual. Isso foi bem visto pelo mercado. As taxas de juros dos títulos caem forte e a Bolsa sobe”, afirma.
Bom para o Brasil
Segundo especialistas do mercado, a pausa do Fed no aperto monetário é uma boa notícia para o Brasil.
Um dos principais efeitos da alta na taxa de juros nos EUA se dá sobre os ativos brasileiros, que se tornam menos atraentes para os investidores. Na prática, a elevação dos juros nos EUA incentiva a aplicação em papéis no Tesouro americano, que são considerados mais seguros. A aplicação em países de economia emergente, como o Brasil, é apontada como de maior risco por causa da instabilidade desses mercados. Com menos capital disponível, a chance de que as ações de empresas listadas na Bolsa brasileira sejam negociadas fica ainda menor.
Em linhas gerais, quando os juros sobem, os títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA – que normalmente já seriam mais atraentes para os investidores – se tornam ainda mais vantajosos, o que gera um fluxo de investimento maior em sua direção.
O câmbio também é atingido quando os juros americanos sobem. O maior volume de investimento nos EUA leva à valorização do dólar em relação a outras moedas, especialmente aquelas dos países emergentes. Se os investidores procuram outros mercados, a moeda americana entra no Brasil em menor quantidade; mais escassa, seu valor sobre o real sobe.