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Está difícil para o maior grupo de saúde do mundo vender a Amil

O UnitedHelalth Group, o gigante americano do setor, tenta passar para frente a operadora de saúde desde o início de 2022. Terá sucesso?

atualizado

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Agência Brasil
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1 de 1 ANS imagem colorida ans - Foto: Agência Brasil

O mercado de planos de saúde agitou-se nesta semana com a notícia de que o grupo americano UnitedHealth Group (UHG), o maior do mundo no setor, havia retomado o processo de venda de suas empresas no Brasil, agora conduzido pelo Banco BTG. O pacote inclui a Amil e a Américas Serviços Médicos. Mas, passado a agitação inicial, voltou-se à calmaria – isso para não dizer ao ceticismo.

Especialistas do setor lembram que a UHG tenta se livrar – e sem sucesso – de seus negócios no país desde o início de 2022. “Se estava difícil vender no ano passado, a situação não está nada melhor neste ano”, diz Harold Takahashi, sócio da Fortezza Partners, assessoria de investimentos especializada em fusões e aquisições.

Os empecilhos não dizem respeito a problemas específicos da Amil, embora a empresa tenha registrado resultados negativos nos últimos balanços, como quase todo o segmento. Nos primeiros seis meses deste ano, ela anotou um prejuízo operacional de R$ 1,6 bilhão. Ainda assim, notam os técnicos, há fatores que têm um peso ainda maior contra a eventual conclusão de um negócio.

Um deles é o tamanho da empresa. A Amil é gigante. Trata-se da terceira maior operadora de saúde do país, com 3,1 milhões de usuários de planos médicos e 2,3 milhões de clientes em serviços odontológicos. Tem 19 hospitais e 52 unidades de atendimento, como ambulatórios e centros de diagnósticos. A Américas Serviços Médicos mantém outros 28 centros médicos e clínicas especializadas, além de 12 hospitais.

Preço salgado

Outro fator que se soma ao primeiro para transformar a compra da Amil numa transação difícil é o preço. Os negócios do UHG no Brasil foram avaliados pelo Bank of America (BofA) em entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. Takahashi, da Fortezza, acredita que esse valor esteja superestimado. “Mesmo assim, comprar a Amil seria algo caro”, afirma. “Isso só complica uma eventual venda, dado o contexto em que muitas grandes empresas estão endividadas, digerindo aquisições recentes”.

O analista lembra que, no ano passado, a Rede D’Or pagou R$ 13 bilhões pela SulAmerica. Antes disso, o grupo Dasa, que pertence à família do falecido fundador da Amil, Edson Bueno, adquiriu hospitais da rede Leforte, por R$ 1,77 bilhão.

Setor complicado

Mas não é só. Na avaliação do médico Carlos Lobbé, professor de MBAs de gestão de saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio, além do porte e do preço, a tentativa de venda da Amil enfrenta um obstáculo ainda mais alto: a situação do setor no país. “É público que a UHG, desde que comprou a Amil, em 2012, promoveu diversas mudanças administrativas e não obteve os resultados esperados”, afirma. “Isso porque, hoje, nesse segmento, o resultado já não depende mais de quem toca a gestão. O resultado se transformou num problema de mercado”.

Informações divulgadas pela Agência Nacional de Saúde (ANS) no início deste mês mostram que as operadoras dos planos médico-hospitalares do país fecharam o primeiro semestre com resultado operacional negativo em R$ 4,3 bilhões. Esse buraco só foi tapado por um lucro financeiro de R$ 5,9 bilhões. Ou seja, as empresas do ramo perderam dinheiro atuando como operadoras de planos de saúde e só conseguiram compensar o prejuízo porque tinham aplicações financeiras.

Sinistralidade alta

Além disso, um importante indicador do segmento, a taxa de sinistralidade, revela outro detalhe relevante desse quadro. Esse índice expressa qual o percentual da receita com mensalidades dos planos é consumido por gastos com a assistência aos usuários. Na média, ele está em 87,9%, segundo a ANS. Isso significa que, de tudo que os planos ganham com o pagamento da clientela, 87,9% é usado para cobrir exames, consultas, internações e procedimentos em geral. “Para que um negócio seja sustentável, a sinistralidade tem de estar em, no máximo, 70%”, diz Lobbé.

Ele observa que numa operadora de saúde os custos comerciais e administrativos representam, em média, 20% da receita. “Com uma sinistralidade de 80% e mais 20% despendidos nessas duas outras frentes de despesas, as empresas do setor, na melhor hipótese, só podem ficar no zero a zero”, afirma. O detalhe é que essa “melhor hipótese” está longe de acontecer. A sinistralidade, que ficou em 87,9% no primeiro semestre deste ano, já esteve acima de 90%, no terceiro trimestre de 2022. “Hoje, os gastos dos planos não cabem na receita”, diz Lobbé. “Esse é o fato.”

Desperdício

O especialista acredita que a reversão desse quadro passa pelo ataque maciço das empresas a uma série de fontes de desperdício, típicas do setor. Todas têm a ver com a palavra “cuidado”. Elas dizem respeito a falhas no cuidado (um paciente é internado e adquire uma infecção hospitalar, por exemplo), ausência de coordenação no cuidado (um doente tem alta, mas não recebe a assistência necessária para que não seja internado novamente) e cuidado inadequado (uma pessoa é internada sem necessidade).

“Só esses três itens representam um desperdício de 30% a 50% dos gastos com assistência aos usuários”, afirma. E não são os únicos. Existem outras três fontes de perdas, relacionadas a fraudes, complexidades administrativas (muitas vezes, criadas para coibir fraudes) e erros na definição de preços. Diz Lobbé: “Se tivéssemos modelos de gestão que atuassem como caçadores desses desperdícios, o sistema de saúde privado seria sustentável.”

É por isso que, para Rita Ragazzi, sócia-diretora e líder do segmento de saúde da KPMG, as palavras do futuro do setor são “efetividade e integração”. “Grandes redes ainda têm dificuldade de enxergar o paciente como único e acompanhá-lo por todo o sistema”, diz. “No dia em que elas conseguirem fazer isso, vão reduzir perdas e melhorar suas margens.”

Três visões da venda

Em relação à Amil, Lobbé diz que a nova tentativa de venda da empresa pode ser vista de três maneiras. A primeira delas é a pessimista. “Se uma gigante e madura empresa como UHG desistiu da saúde em nosso país, é porque perdeu a fé de que dias melhores virão”, afirma. A leitura otimista é a seguinte: “Se uma gigante e madura empresa como UHG acredita que existem interessados em comprar uma das maiores e melhores operadoras do nosso país, é porque os resultados atuais devem apontar para boas notícias”.

Por fim, há a terceira forma de analisar o caso, que ele define como “equilibrada”. “Ela mostra que temos pouco mais de 50 milhões de beneficiários em mais de 600 operadoras de saúde”, diz. “Isso quer dizer que ainda falta muito para que esse mercado seja depurado e concentrado, o que seria uma forma de melhorar o resultado das companhias.”

Há compradores?

Agora, isso tudo quer dizer que a Amil não será vendida? Não, respondem os analistas em uníssono. Mesmo porque ela representa, justamente, uma oportunidade para a consolidação do setor, que é ao mesmo tempo uma tendência e uma necessidade.

E haveria compradores? Para os especialistas, existem nomes de plantão, sempre lembrados nessas ocasiões. Eles incluem empresas como o Bradesco, a Rede D’Or e a Dasa. Correm por fora investidores próximos ao segmento, como José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e Qsaúde, e Nelson Tanure, controlador da Alliança, ex-Alliar. Todos, porém, sãoapenas hipóteses.

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