Entre Faria Lima e Ipanema: o que fará Paulo Guedes em novo emprego
Agora como sócio na Legend Capital, Guedes seguirá morando no Rio de Janeiro. O ex-ministro cumpria quarentena após fim do governo Bolsonaro
atualizado
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O ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, teve sua volta ao mercado financeiro oficializada nesta segunda-feira (24/7), após um período de quatro anos no governo Jair Bolsonaro.
Guedes se junta à equipe da Legend Capital, grupo que inclui braços de administração de fortunas e assessoria de investimentos e tem R$ 11 bilhões sob gestão.
O ex-ministro cumpria quarentena de seis meses depois de ter deixado o governo, período que se encerrou em julho, e vinha mantendo contato com antigos colegas do mercado financeiro desde o fim da eleição.
Um dos fatores que levou à escolha pela Legend foi a presença de Sergio Eraldo Salles, que foi sócio de Guedes na Crescera Capital (antiga Bozano Investimentos). Guedes deixou a sociedade, na ocasião, para se juntar a Bolsonaro.
“A gente tinha um diferencial, meu pai foi sócio do Paulo durante dez anos”, diz Pedro Salles, CEO da Legend Investimentos. “Essa proximidade pessoal ajudou a gente a firmar essa nova sociedade. Estamos super felizes.”
Após quatro anos em Brasília, Guedes não deve se mudar do Rio de Janeiro. O plano é que vá à Faria Lima, em São Paulo, para reuniões periódicas com a direção da companhia, inicialmente de forma semanal. No restante do tempo, o ex-ministro segue no Rio, onde a Legend tem escritório em Ipanema.
Na empresa, Paulo Guedes será sócio e presidente do conselho (chairman). O ex-ministro vai liderar uma nova frente de atuação da companhia, que a Legend vem chamando de “reestruturação de empresas”.
A nova frente da Legend em que trabalhará Paulo Guedes
O foco são os chamados “ativos ilíquidos”, como gestão e consultoria para estruturação de dívida – que pode se dar na forma de ativos como CRI, CRA, debêntures e outros. A Legend diz que aproveitará a experiência prévia de Guedes: um dos planos é a atuação do ex-ministro como placement agent, ou “agente de colocação privada” no jargão do mercado — o profissional que auxilia fundos e empresas na gestão de ativos e obtenção de financiamento.
“Engloba muita coisa. Conectar com private equity, fazer consultoria, reestruturar dívida, coisas em que ele tem expertise”, diz Salles. “Une pontas com parceiros, seja Latam [América Latina] ou globais, dada a capilaridade de contatos do Paulo. E, com o tempo, vamos montando uma equipe dentro de casa.”
A contratação de Guedes faz parte de novo momento da Legend, que nasceu há dois anos e meio com foco em gestão de fortunas e clientes de alta renda. Neste ano, a companhia se estruturou como holding, após a junção da Legend Wealth Management, de consultoria na gestão de fortunas, e a Legend Investimentos, assessoria de investimentos ligada ao BTG Pactual.
Sobre a relação com o BTG, do qual Guedes também foi sócio (como fundador do antigo Pactual nos anos 1980), Salles afirma que a Legend Investimentos segue sendo uma assessoria independente e que o banco não é sócio da companhia. É prática comum no mercado financeiro que agentes autônomos se coloquem sob o guarda-chuva de grandes bancos e corretoras, fator que garante credibilidade na aquisição de clientes e uso de infraestrutura já existente. A Legend paga royalties ao BTG pelo uso da marca e pela infraestrutura de tecnologia.
Antes de chegar ao governo, Guedes fez carreira no mercado financeiro, com empreitadas como o antigo Pactual e a BR Investimentos (que daria origem à Crescera após fusões).
O posto como ministro da Economia no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro foi o primeiro cargo público oficial de Guedes. O economista comandou a pasta durante todo o mandato de Bolsonaro, entre 2019 e o fim de 2022.
Em sua nova fase no setor privado, Guedes se juntará à equipe da Legend oficialmente a partir da próxima semana. Pela legislação, a quarentena de um ex-ministro após deixar o governo dura seis meses, com o intuito de minimizar eventual conflito de interesses.