Entenda como a disparada do dólar afeta o bolso do brasileiro
Na prática, valorização da moeda americana exerce pressão tanto sobre a inflação como, por tabela, na taxa básica de juros, a Selic
atualizado
Compartilhar notícia
A alta do dólar tem forte impacto na economia – e no bolso dos consumidores. Isso porque, na avaliação de Márcio Holland, professor na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP) e ex-secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda (2011-2014), a disparada da moeda americana tem efeito direto na inflação.
“A tendência é que, com o dólar avançando, os preços das importações subam muito, seja de bens de capital (máquinas e equipamentos), seja de bens de consumo”, diz Holland. “Isso implica menor taxa de investimento, de um lado, e perda de poder de compra das famílias brasileiras, de outro.”
O economista observa que, para conter a pressão inflacionária, aumenta a possibilidade de o Banco Central (BC) elevar ainda mais a taxa básica de juros, a Selic. Há duas semanas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC subiu a Selic de 11,25% para 12,25% ao ano. O mercado trabalha com estimativas de que a taxa deve chegar a cerca de 15% ao ano no fim de 2025. Algumas casas de análise já falam em 16%. E os juros só devem voltar a cair no Brasil em 2026.
Os juros altos, por sua vez, atuam como inibidores do crescimento econômico. Algo que, na avaliação de economistas, pode afetar não só a inflação, mas os níveis de emprego do país.
Transferência elevada
“Assim, são muitos os impactos da desvalorização cambial”, afirma Holland. “Como a economia está aquecida, crescendo acima de seu potencial, a transferência da desvalorização cambial para preços tende a ser elevada. Isso requer mais ações do BC, como leilões cambiais e aumento na dosagem maior de taxa de juros.”
O professor da FGV acrescenta que a deterioração das expectativas está sendo causada pela condução da política fiscal. “Ela tem provocado forte desvalorização cambial e isso acaba impactando em mais pressão sobre a inflação e Selic maior”, diz.
Inflação de alimentos
Para Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, os impactos da alta do dólar na economia são conhecidos e ainda serão sentidos nos próximos meses devido a um atraso natural entre a valorização da moeda e o aumento dos preços ao consumidor. “A primeira consequência obviamente será mais inflação, com destaque para a inflação de alimentos, que será percebida de forma imediata, especialmente pela população de baixa renda”, diz. “É justamente por isso que as projeções do IPCA estão sendo revisadas para cima.”
Em um segundo momento, afirma Saadia, o impacto chegará ao preço dos bens industriais . Ele observa: “Mesmo quando não são importados, esses produtos dependem de componentes estrangeiros em sua fabricação, o que também pressiona os custos”.
Portanto, conclui o analista, “o movimento inicial será mais sentido nos alimentos, seguido pelos bens industriais. O cenário de inflação, especialmente para os itens mais essenciais, preocupa e deve afetar as famílias brasileiras nos próximos meses”.