Empresas apostam em “gestão da felicidade” para aumentar ganhos
Manter funcionários felizes no trabalho significa aumento da produtividade e maior retorno financeiro; saúde mental é foco de atenção de RHs
atualizado
Compartilhar notícia
Você está feliz no trabalho? A preocupação com o bem-estar dos funcionários entrou, definitivamente, no radar das empresas. A “gestão da felicidade” no mundo corporativo se tornou um instrumento importante utilizado por departamentos de recursos humanos, supervisores e gestores para reter profissionais e aumentar a produtividade – e, por tabela, os ganhos das companhias.
Uma pesquisa divulgada em dezembro do ano passado pela Woohoo Unlimited, maior certificadora internacional de Chief Happiness Officers (“diretores de felicidade”, em tradução livre), mostrou que mais de 70% dos entrevistados se diziam felizes com suas vidas, mas apenas 46% estavam satisfeitos com o trabalho.
No Brasil, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), reunidos pela LCA Consultores, quase 6,8 milhões de profissionais pediram demissão em 2022. O movimento, conhecido globalmente como “great resignation” (ou “grande renúncia”), foi liderado por trabalhadores jovens e escolarizados.
Diante desses números, muitas empresas passaram a apostar em iniciativas como acompanhamento psicológico e psiquiátrico; cursos de educação financeira; espaços para “descompressão”; áreas de recreação para funcionários e familiares; maior flexibilidade de horários, com formatos híbridos (entre trabalho remoto e presencial) — além da ampliação de cestas de benefícios, como tíquete-alimentação, plano de saúde e participação nos lucros.
“Ter pessoas engajadas é ter resultado no negócio. O aumento da produtividade vem quando as pessoas estão motivadas. O ambiente de trabalho saudável favorece a motivação dos colaboradores. Cabe às organizações dar o estímulo para que o melhor de cada um se desenvolva naquele ambiente”, afirma Távira Magalhães, diretora de Recursos Humanos da Sólides.
“Uma pessoa dedica parte considerável do seu tempo ao trabalho. E o trabalho está vinculado ao sentido na vida. Entender que aquele trabalho traz sentido à vida dela e não é só um ganho financeiro, que ela pode ter em outras organizações, é um fator fundamental. Reconhecendo sentido no trabalho, essa pessoa vai, naturalmente, ser feliz”, ressalta Távira.
Segundo Daniela Bortman, head de Medicina Ocupacional e Saúde da Bayer no Brasil, as empresas finalmente decidiram colocar o bem-estar do funcionário no centro do seu plano de negócio. “Cada vez mais, existe essa tendência de as empresas terem uma gestão centrada no colaborador, entendendo que o capital humano da empresa é o seu maior bem mercadológico. No fim do dia, a riqueza das organizações depende da saúde dos funcionários”, observa.
André Rapoport, diretor de Recursos Humanos da Danone, tem visão semelhante sobre a correlação entre a felicidade dos funcionários e o cumprimento dos objetivos da empresa. “É muito importante olhar para o bem-estar e a qualidade de vida nas empresas porque isso impacta diretamente na performance do trabalho, na retenção de talentos e no atingimento de metas”, diz.
Saúde mental
Um levantamento da empresa de seguros e planos de saúde Cigna International Health, envolvendo 12 mil trabalhadores de diversos países do mundo, mostrou que 91% dos jovens de 18 a 24 anos dizem estar estressados no trabalho, percentual superior aos de outras faixas etárias. Desse grupo, quase todos afirmam apresentar sinais de esgotamento (98%).
Um outro estudo, elaborado pela gerência de economia e finanças empresariais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), estima uma perda de faturamento anual de R$ 397 bilhões das empresas por causa de transtornos mentais de seus funcionários. Esses distúrbios, ainda segundo a pesquisa da Fiemg, levam à perda de 800 mil empregos por ano no país, uma redução de quase R$ 165 bilhões em massa salarial.
“O trabalho nunca é neutro. Ou ele favorece a saúde ou ele favorece a doença. O trabalho é o ambiente em que a maior parte das pessoas passa a maior parte do tempo e, infelizmente, é uma justificativa usada por muita gente para negligenciar a própria saúde”, afirma Daniela Bortman.
Ela diz que “na busca pelo equilíbrio entre corpo e mente, a força de trabalho não pode ficar desamparada” e que o funcionário precisa ser acolhido pela empresa.
“Gerenciar a saúde mental no trabalho pode parecer desafiador, mas oferece uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento sustentável para o negócio. Quando temos um local de trabalho seguro e saudável, reduzimos o absenteísmo, melhoramos o desempenho, aumentamos a produtividade e minimizamos conflitos entre colegas”, conclui Bortman.