Em proposta da Americanas, fornecedores ficam com “mico” da dívida
Plano de recuperação judicial apresentado pela Americanas prevê pagamento integral somente a credores com dívidas de até R$ 12 mil
atualizado
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Enquanto os bancos brigam para conseguir ampliar o aporte feito pelos acionistas de referência da Americanas (o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles), os fornecedores da empresa devem amargar um grande prejuízo.
O plano de recuperação judicial apresentado na noite da última segunda-feira (20/3) à Justiça do Rio de Janeiro prevê condições duras para o pagamento aos milhares de fornecedores da empresa. A Americanas propõe pagar integralmente apenas dívidas de fornecedores cujo valor não ultrapasse R$ 12 mil – mil, não milhões.
A maior parte dos 8 mil fornecedores que têm algo a receber da empresa não se enquadra nessa situação. Aos que devem mais do que isso, a varejista propõe algumas alternativas. A primeira é aceitar receber apenas R$ 12 mil, valor que será pago em até 30 dias. Caso não aceite, a segunda opção para o fornecedor é um aplicar um desconto de 50% sobre o total da dívida e receber a metade restante em 48 meses.
A última opção é o pagamento dos créditos de forma integral em até 360 dias (quase um ano), após a aprovação da recuperação judicial. Essa condição só será válida para os “fornecedores colaboradores” – ou seja, todos aqueles que continuarem vendendo seus produtos e serviços para a Americanas nas mesmas condições de preço e prazo praticadas antes de a empresa tornar público o rombo de R$ 2o bilhões em seu balanço.
Embora seja uma prática comum em processos de recuperação judicial do varejo, a estratégia de tentar manter os fornecedores sob o guarda-chuva da Americanas foi criticada por representantes desse grupo, em especial as pequenas empresas. O valor de R$ 12 mil exclui praticamente todos os prestadores da varejista e os empurra para uma escolha complicada.
Sem saída
Para se ter ideia do impacto da proposta, a dívida da Americanas com fornecedores inclui um passivo de mais de R$ 1 bilhão com a fabricante de eletroeletrônicos Samsung, passando por um valor a receber de R$ 240 milhões da Nestlé, até cerca de R$ 10 milhões devidos a editoras de livros.
Dado o tamanho da operação do grupo, que contava com as marcas Americanas.com, Submarino, Shoptime e Lojas Americanas, até mesmo os pequenos fornecedores tinham dívidas em atraso com cifra superior à estipulada. Além disso, é antiga prática da Americanas postergar ao máximo pagamentos de produtos e serviços, o que também criou passivos mais volumosos até a data da recuperação judicial.
Representantes de pequenos fornecedores ouvidos pelo Metrópoles lamentam as condições ofertadas pela empresa. Muitos haviam decidido deixar de vender para a varejista, mas estão avaliando o que fazer, diante da atual proposta. A opção de desconto de 50% é encarada como um “mico” pelo advogado de uma fabricante de equipamentos eletrônicos.
“Por outro lado, continuar fornecendo para a Americanas representa um risco de ampliar o prejuízo, caso a empresa não consiga reestruturar as operações e, assim, sobreviver à recuperação judicial”, afirma o representante.