Economistas lamentam morte de Pastore, um mestre do “rigor da análise”
Ex-presidente do BC num período crítico de negociação da dívida externa, Pastore era considerado um dos economistas mais importantes do país
atualizado
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O economista Affonso Celso Pastore, que faleceu nesta quarta-feira (20/2), aos 84 anos, em São Paulo, era considerado por seus pares um mestre do rigor da análise e um dos intelectuais mais importantes do país em sua área de atuação. Para ele, a evolução da ciência econômica estava atrelada de forma intrínseca ao “teste empírico”. Dizia que era esse aspecto que a aproximava da física, química e medicina.
Esse é uma das marcas do economista, destacada pelo ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega. “Pastore e eu éramos velhos amigos. Trabalhamos juntos na equipe econômica nos momentos difíceis dos anos 1980. Ele era o presidente do Banco Central (BC) e eu, o secretário-geral do Ministério da Fazenda. Batalhamos juntos nas diversas negociações com o FMI (Fundo Monetário Internacional)”, diz Maílson.
O ex-ministro observa que teve total apoio de Pastore, que define como “fundamental”, para as mudanças institucionais que implementou, com destaque para o fim da conta movimento do Banco do Brasil, uma excrescência da economia brasileira, a abolição das funções de fomento do Banco Central e a criação da Secretaria do Tesouro Nacional. “Pastore foi um dos mais respeitados economistas do país”, afirma Maílson. “Era rigoroso na análise, preciso nas pesquisas e intransigente defensor das ideias que considerava corretas.”
Emerson Marçal, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), acrescenta que Pastore foi um dos mais “brilhantes economistas de sua geração”. “Teve importantes passagens pelo setor público, academia e setor privado. Tinha um nível de erudição econômica impressionante”, diz. “Suas análises sempre foram precisas e baseadas em evidências. No debate público, não apresentava opiniões e sim argumentos. Foi um defensor da busca de uma política macroeconômica equilibrada com foco na importância do equilíbrio fiscal, condição sem a qual a inflação descontrolada dos anos 1980 não poderia ter sido debeleada. Na academia, influenciou as novas gerações, eu incluso, na sua passagem pela FEA-USP nos anos 1990 como professor.”
O economista Márcio Holland, também professor da FGV e ex-secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda (2011-2014), destaca que, como professor e pesquisador no campo da economia, acompanhou os trabalhos de Pastore, ao longo de sua formação profissional. “Ele sempre escreveu com muito rigor acadêmico e qualidade analítica”, diz. “Sempre foi um grande aprendizado ler seus textos e acompanhar suas avaliações dos cenários econômicos.”
Pastore também fundou e foi o primeiro presidente do Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), um importante polo de debates sobre temas econômicos, com sede em São Paulo, que divulgou a seguinte nota: “É com profundo pesar que os associados e amigos do Centro de Debates de Políticas Públicas recebem a triste notícia do falecimento do nosso fundador e primeiro presidente Affonso Celso Pastore. Professor e pesquisador, teve enorme impacto na formação de várias gerações de economistas.
“Foi presidente do Banco Central e se tornou um intelectual público na melhor acepção do termo: engajado em debates nos mais variados fóruns, capaz de traduzir a teoria econômica para o grande público, aberto a novas ideias, mas sem jamais abrir mão da coerência e do rigor acadêmico. Impressionava a todos que o conheciam pela firmeza de opiniões e retidão moral. É uma imensa perda para todos que tiveram o privilégio de conviver com ele no CDPP. Foi um grande brasileiro que muito contribuiu para o progresso do nosso país. Que sua família e seus muitos amigos, nessa singela carta de pêsames, recebam o nosso carinho e a nossa solidariedade”.