É cedo para falar em fim da polarização no Copom, dizem analistas
Apesar da votação unânime para manter a Selic em 10,50%, parte do mercado não está convencida que acabaram os “rachas” em decisões do BC
atualizado
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, em votação unânime, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 10,50% ao ano, na quarta-feira (19/6). O consenso em torno da decisão – que não ocorreu na reunião anterior, em maio – foi elogiado pelos analistas do mercado. Muitos deles, contudo, não estão convencidos de que a polarização dentro do órgão acabou.
Em relatório divulgado nesta quinta-feira (20/6), disse a corretora Ativa Investimentos: “A decisão unânime está longe de restabelecer a credibilidade do BC como órgão estritamente técnico. Desde a última decisão [de maio], os ativos brasileiros pioraram vertiginosamente, e, sem saber precisamente o gatilho da piora, a estratégia dominante é votar coletivamente”.
Assim, conclui a corretora, “a decisão coletiva vem mais para conter danos de uma nova rodada de piora da conjuntura do que de fato para estabelecer que o órgão tomará decisões sem influência dos agentes políticos”.
O economista da AC Pastore Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, observou que a “decisão do Copom se deu em clima de violentos ataques ao presidente do BC por parte do presidente da República, assim como de políticos ligados ao alto escalão do Partido dos Trabalhadores (embora não do ministro da Fazenda)”.
Apesar da unanimidade, acrescenta Schwartsman, “os riscos de uma política monetária menos comprometida com a convergência de inflação para a meta ainda se encontram presentes”. “A questão da sucessão no BC permanece em aberto, assim como a adoção de medidas que possam reverter o severo quadro de deterioração fiscal que se formou no país”, escreveu o economista. “A tormenta não acabou, apesar de águas um pouco mais calmas nos próximos dias.”
Como foi o racha
Na reunião do Copom de maio, quatro diretores que assumiram seus cargos durante a gestão do PT votaram pela redução de 0,50 ponto percentual. Foram eles Gabriel Galípolo, Ailton de Aquino Santos, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira.
Os outros quatro diretores – a turma já fazia parte do BC antes do governo Lula – posicionaram-se a favor da queda de 0,25 ponto percentual. Esse grupo foi composto por Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, decidiu o impasse ao votar a favor do corte de 0,25% ponto.