Dólar interrompe sequência de altas, mas segue acima de R$ 6
O destaque desta terça-feira (3/12) ficou com o resultado do 3º trimestre do PIB brasileiro, que cresceu 0,9%
atualizado
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O dólar fechou em queda de 0,21%, a R$ 6,05, após quatro dias seguidos de alta. A queda foi uma reação à divulgação do Produto Interno Bruto (PIB), que cresceu 0,9% no terceiro trimestre, e também ao cenário externo.
Por aqui, o tema fiscal segue no radar diante das incertezas quanto à tramitação do pacote de contenção de gastos, em meio às discussões sobre a liberação das emendas parlamentares e dúvidas acerca das mudanças nas aposentadorias dos militares.
Os projetos apresentados no Congresso Nacional que envolvem o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo Lula ainda não incluem os militares, que devem ser impactados pelo ajuste fiscal. A explicação para o grupo ainda estar de fora da proposta é que existe um impasse sobre a transição para a reserva remunerada.
Em coletiva em Brasilia, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse que se o Congresso aprovar propostas de corte de gastos neste mês de dezembro, haverá uma redução do preço do dólar.
“Se Congresso der resposta rápida neste mês de dezembro aprovando as medidas para cumprir o arcabouço de déficit primário zero, que reduzem despesas no curto, médio e longo prazo, não só zera o déficit agora, mas já prevê uma redução de despesas também nos próximos anos. À medida em que isso ficar claro, nós devemos ter uma acomodação do dólar, o câmbio mais baixo”, disse Alckmin.
Para o presidente do conselho do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, houve um certo exagero na reação do mercado ao pacote de ajuste fiscal. Em sua avaliação, o ajuste “não foi tão tímido” e tem alguns pontos importantes, como a mudança no cálculo do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
“As curvas de juros já se assentaram um pouco, mas podemos estar em um momento de ‘overshooting’ do câmbio e juros. É um sinal de alerta e acho que o governo entendeu”, disse Trabuco.
Segundo Trabuco, apesar de a curva de juros ter chegado a 14%, “no mundo real talvez a Selic não tenha de chegar a tanto
Na avaliação de Victor Arduin, analista sênior da equipe de Inteligência de Mercado da Hedgepoint, a desvalorização do real pressiona a inflação, que pode superar a meta de 4,5%, forçando o Banco Central a adotar uma política monetária mais restritiva.
“Indicadores evidenciam a deterioração da perspectiva de agentes econômicos, com juros futuros de dois anos batendo acima de 14%, na última sexta (29/11) e dívida pública projetada para superar 84% do PIB até 2026”, ressalta.
A avaliação não é muito diferente da de Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos. Segundo ele, tendo em vista a pressão das expectativas de inflação e o dólar elevado, o Banco Central deve endereçar uma política monetária mais contracionista, com alta expressiva da Selic, propiciando um período de desaceleração da atividade.
“Até o final de 2024, entendemos que o PIB deverá crescer acima de 3% e, para 2025, a economia deve sustentar um desempenho ainda positivo, mas mais próximo dos 2%”, afirmou Salto.
Alta do PIB
O dia foi marcado pela divulgação do Produto Interno Bruto (PIB), que cresceu 0,9% no terceiro trimestre de 2024 (período de julho, agosto e setembro), frente ao segundo trimestre deste ano. As informações foram divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A economia foi puxada pelo investimento e consumo das famílias, pelo lado da demanda, e pelos serviços e indústria, pelo lado da oferta. O mercado de trabalho ainda forte, e o aumento do crédito contribuem para explicar o bom momento da economia, assim como as transferências de renda do governo, por meio de aposentadorias e benefícios assistenciais.
O crescimento do PIB brasileiro se iguala ao da China e só fica atrás de Indonésia e México entre os países do G20. Após a divulgação do resultado, o Ministério da Fazenda informou que fará nova revisão na projeção do PIB do Brasil para o acumulado de 2024. A projeção oficial do governo Lula é de 3,3% no acumulado do ano. Até setembro, a estimativa era de crescimento de 3,2%
O cenário para frente, porém, tornou-se mais nebuloso. As incertezas fiscais têm contribuído para a alta do dólar, negociado acima de R$ 6, e para o aumento dos juros de longo prazo, na casa de 7% ao ano, descontada a inflação.
Nesta quarta-feira (3/12) começa o período de silêncio do Comitê de Política Monetária (Copom).
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, operava em alta de 0,67%, às 17h10, aos 126.072,41 pontos.
Lei Marcial
No cenário externo, para além do mercado de trabalho aquecido nos Estados Unidos, o destaque foi a decisão do Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, que decretou lei marcial no país em anúncio surpresa televisionado. A lei marcial restringe as liberdades individuais e a de imprensa e fecha o Parlamento.
Horas após o decreto, deputados convocaram sessão emergencial no Parlamento e aprovaram a revogação da lei marcial. Com uma votação unânime de 190 parlamentares, nenhum deles do governo, a oposição derrubou o decreto, conforme permite a Constituição do país Passadas mais de três horas horas, Yoon cedeu e suspendeu a medida às 4h30 (16h30 em Brasília).
O principal índice de ações do país, o Kospi, com uma capitalização de mercado de US$ 1,4 trilhão, estava no momento do anúncio, mas o fundo negociado em bolsa iShares MSCI South Korea caiu 3% nas negociações de Nova York. O won sul-coreano enfraqueceu cerca de 2% em relação ao dólar.
A notícia também causou valorização do iene em 0,29%.