Dólar bate recorde histórico após reação do mercado ao corte de gastos
Moeda norte-americana bateu a marca de R$ 6,11 na abertura do mercado nesta sexta-feira, novo recorde nominal
atualizado
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O dólar bateu um novo recorde nominal nesta sexta-feira (29/11) ao disparar e atingir os R$ 6,11. A alta é resultado da reação negativa do mercado às medidas de corte de gastos e alterações na isenção do Imposto de Renda, detalhadas na quinta-feira (28/11). O governo vai enviar o pacote ao Congresso, com reduções que alcançam R$ 70 bilhões em gastos públicos em 2025 e 2026.
Analistas do mercado não acreditam que as medidas serão suficientes para equilibrar as contas e defendem que a opção por elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda acabou diluindo os efeitos positivos que poderiam ter sido trazidos com os ajustes nos gastos.
Às 9h50, o dólar subia 0,85%, cotado a R$ 6,03. Na máxima do pregão, chegou a R$ 6,11. Na véspera, subiu 1,30%, cotada a R$ 5,989.
Na avaliação de Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, o motivo do estresse do mercado “é a diminuição da credibilidade das medidas de contenção de despesas, já que a mudança no IR caminha no sentido de diminuição da arrecadação, o que tende a limitar o efeito dos cortes que serão anunciados, e pode gerar inflação pela maior circulação de dinheiro na economia real”.
Segundo ela, também restam dúvidas se a compensação pela tributação de pessoas com renda acima de R$ 50 mil por mês de fato será suficiente para compensar essa renúncia. Paula lembra que a demora no anúncio da contenção de despesas já vinha gerando volatilidade e aumentando a busca por posições defensivas, contra o real e a favor do dólar.
“Incluir a pauta do Imposto de Renda no mesmo anúncio trouxe a sensação de que o governo teme perda de popularidade. O comprometimento do governo em tratar o tema de forma célere no Congresso será essencial para construir mais credibilidade.
Quanto às medidas em si, é necessário observar se a projeção de economia de R$ 70 bilhões estimada pelo governo pode, de fato, ser realizada, especialmente porque parte das medidas (como a mudança do abono salarial) pode demorar anos até passar a surtir efeitos concretos. Uma possível desidratação durante a tramitação teria consequências negativas para o câmbio e para os mercados, podendo levar o dólar para patamares ainda acima do atual nível de R$ 6”, avalia Paula.
Ainda de acordo com a especialista, os movimentos dos últimos dias reforçam a importância, para o investidor brasileiro, de manter uma parcela da carteira em dólares ou, ainda melhor, ativos dolarizados, de forma a minimizar impactos de movimentos como esse e proteger o patrimônio no longo prazo.
O Ibovespa também sente os efeitos do anúncio. Por volta das 11h, o índice recuava 0,13%, aos 124.449 pontos. As perdas no Ibovespa só não são mais fortes na sessão porque as ações da Vale registram alta de 1,67%, a R$ 58,48, assim como os papéis da Petrobras: as ações PN avançam 0,29%, enquanto as ONs têm ganhos de 0,84%.
O pacote também inflacionou os juros futuros, que acentuaram o movimento de alta na abertura de hoje, levando as taxas de vencimentos de médio e longo prazo a saltar mais de 60 pontos-base. Por volta de 10h25, a taxa do DI de janeiro de 2026 tinha alta de 13,84%, do ajuste anterior, para 14,185%; a do DI de janeiro de 2027 subia de 13,945% a 14,435%; a do DI de janeiro de saltava de 13,77% a 14,32%; e a do DI de janeiro de 2031 aumentava de 13,36% para 14,19%.
Tramitação
Todas as medidas anunciadas pelo Executivo precisarão ser aprovadas pelo Congresso Nacional. Deputados e senadores deverão fazer um esforço concentrado nas próximas três semanas para aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC) e o projeto de lei completar (PLP) que serão enviados.
O pacote que chegará ao Congresso nos próximos dias não inclui a reforma da renda, que terá o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para pessoas que ganham até R$ 5 mil. Esse ponto será discutido e votado só em 2025, em um projeto de lei (PL). Caso seja aprovado, o aumento da faixa de isenção valerá a partir de 2026.
A expectativa no Congresso é que, pelas próximas duas semanas, a PEC e o PLP fiquem tramitando na Câmara. E que, na última semana antes do recesso, entre 16 e 20 de dezembro, as propostas sejam votadas no Senado. O calendário prévio foi revelado pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).