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Do “seguro Pix” a carro e celular, setor de seguros cresce no Brasil

Brasil é um dos países com menor utilização de seguros, mas novos produtos e digitalização têm ajudado a reduzir resistências

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Uma mão mexendo no celular, que tem uma imagem de cadeado na tela - Metrópoles
1 de 1 Uma mão mexendo no celular, que tem uma imagem de cadeado na tela - Metrópoles - Foto: Getty Images

A violência nas cidades, as mudanças geradas pela pandemia da Covid-19 e uma digitalização acelerada têm feito o setor de seguros adentrar uma nova fase no Brasil. O segmento cresceu acima da média nacional nos últimos anos e a tendência é de alta contínua, graças também à oferta de produtos cada vez mais flexíveis.

Ao todo, a receita dos seguros avançou 7,7% no primeiro semestre, totalizando R$ 181,8 bilhões de janeiro a junho, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), reguladora do setor. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) projeta crescimento de 11,1% até o final de 2023. No ano passado, a alta foi de 16% e, em 2021, de quase 12%.

Os destaques no Brasil são frentes como seguros para a safra agrícola e proteções empresariais — só o seguro para risco cibernético cresceu mais de 70% em 2022. Mas já é notável a grande procura em relação a tickets menores, de apólices para pessoas físicas e que vão além dos tradicionais serviços de saúde e previdência.

Com a pandemia da Covid-19, produtos como seguro de vida sofreram um teste de fogo e, ao mesmo tempo, ganharam terreno, de acordo com Thiago Ayres, superintendente de Estudos e Projetos da CNSeg. Movimento semelhante ocorreu com o seguro para residência, impulsionado pelo home office. “O setor de seguros foi demandado na pandemia e respondeu à altura, o que o fez ganhar a confiança dos clientes”, diz Ayres.

Ele nota, ainda, que depois que as pessoas saíram de casa, outros produtos tiveram novo impulso, como o seguro automóvel e o seguro para viagem.

O mercado tem vivido também a proliferação de seguros para transferências Pix ou contas bancárias. Fruto do aumento dos assaltos que visam a transferência imediata de valores por meio de celulares.

“A gente já tinha um engajamento, já vendia seguro para conta, mas o produto decolou mesmo no fim do ano”, diz Maxnaun Gutierrez, head de produtos para pessoa física do C6 Bank, que tem ampliado a aposta em seguros. “Nosso seguro para conta, que é o carro chefe, cresceu oito vezes desde dezembro”, diz.

O executivo avalia que a conexão do seguro com uma conta já existente facilita o entendimento e a adesão do cliente.  O preço também serve de estímulo. “Hoje em dia, existem apólices que custam a partir de R$ 4 por mês”, afirma.

O seguro para celular já abrange ao menos 10 milhões de aparelhos, segundo estimativa da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). O produto é oferecido por empresas que vão das seguradoras tradicionais a startups, operadoras de telefonia, bancos e carteiras digitais.

Com mais de 1 milhão de furtos e roubos de celular registrados em 2022, o investimento em seguro passou a fazer sentido até para os donos de aparelhos de valor médio, dizem os especialistas do setor. O crescimento dessa modalidade tem tudo para ser exponencial, visto que há mais de 200 milhões de celulares em operação no Brasil.

“Celular é uma coisa da qual as pessoas dependem, e já está se começando a ter essa cultura do seguro. Vemos um crescimento muito grande na procura”, diz Paulo Miller, coordenador-geral de Supervisão de Seguros Massificados, Pessoas e Previdência da Susep. O órgão não tem dados específicos sobre cada tipo de seguro, mas aponta que a categoria de seguros patrimoniais cresceu ao todo 17% em 2022 e mais de 10% neste ano, até o momento.

Seguros para todos os gostos (e bolsos)

Além da demanda dos consumidores, o movimento no mercado é impulsionado pela diversificação dos produtos disponíveis. Mudanças na regulação, a entrada de novos concorrentes no mercado e a digitalização dos últimos anos têm tornado mais fluido e acessível o processo de contratar um seguro.

“As pessoas voltaram a estar na rua, voltaram a quebrar celular, voltaram a ser roubadas”, diz Mauro Levi D’Ancona, CEO da startup brasileira 180 Seguros, que nasceu como plataforma para que outras empresas ofereçam seguros plugados a seus produtos. “Muito da demanda que temos hoje é de carteira digital e banco querendo vender seguro junto com cartão. Vários custam abaixo de R$ 10”, diz.

Dentre as ofertas no portfólio da startup, há um seguro automotivo “liga e desliga”, que cobre os roubos de pertences quando o cliente está na zona azul em Curitiba e cujos custos começam em R$ 0,49.

Os produtos com ticket mais baixo não são a maior fatia do setor, mas podem ter a função de ser porta de entrada para outros serviços. O Brasil ainda é um dos países menos segurados do mundo — nos EUA, quase 90% dos lares têm seguro residencial, fatia que no Brasil é de pouco mais de 20%. Relatório da seguradora Swiss Re mostra que o país tem a 13ª maior arrecadação em seguros, mas fica apenas em 75º na distribuição por habitante, atrás de países como Chile e Uruguai.

“A explicação para a baixa penetração no Brasil vai desde a regulação, com poucos seguros obrigatórios, até um aspecto mais cultural. O brasileiro é otimista, não temos muita tragédia natural, isso aparece nas nossas pesquisas”, diz D’Ancona, da 180 Seguros. “Vemos muitas pessoas [de classe] AB que ainda não têm seguro para residência, por exemplo. Há muito mercado a ser explorado, por meio da tecnologia, da concorrência dos produtos e da transparência”, afirma.

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