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Discussão sobre queda de juros no Brasil é “delirante”, diz economista

Para Benito Salomão, doutor em economia pelo PPGE-UFU, governo deveria apresentar logo nova regra fiscal e trabalhar para reduzir a inflação

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O ministro da Economia, Fernando Haddad, conversa sentado em mesa enquanto o presidente Lula, ao lado, assina documento - Metrópoles
1 de 1 O ministro da Economia, Fernando Haddad, conversa sentado em mesa enquanto o presidente Lula, ao lado, assina documento - Metrópoles - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros da economia em 13,75% ao ano, anunciada na noite de quarta-feira (22/3), foi acertada e reflete uma necessária e legítima preocupação com a inflação no Brasil, que continua resiliente.

A avaliação é de Benito Salomão, doutor em economia pelo PPGE-UFU e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), para quem a discussão sobre uma eventual redução da taxa Selic nas próximas reuniões do Copom é “delirante”.

“A decisão foi acertada. Não tem que baixar juros neste momento. Eu até acho surpreendente que nós estejamos discutindo o nível de taxa de juros no Brasil. Não faz o menor sentido essa discussão estar recebendo o protagonismo que recebeu nos últimos dois meses”, afirmou Salomão, em entrevista ao Metrópoles.

“Nós temos uma inflação acima da meta há pelo menos dois anos, indo para o terceiro agora. E é uma inflação global. Bancos Centrais com muito mais tradição e independência do que o nosso estão com dificuldades para lidar com o deslocamento da inflação em relação às metas”, explica o economista.

Para ele, diante de uma inflação resiliente e da demora do governo em apresentar o novo arcabouço fiscal, não é possível imaginar a queda da Selic em um futuro próximo.

“Não há nenhum espaço macroeconômico para pensar em queda de juros, seja no meio do ano, seja em setembro, com as condições objetivas da economia brasileira neste momento. É um absurdo que nós, diante de um cenário de inflação acima da meta por dois anos e expectativas desancoradas para o ano que vem, pensemos em redução da taxa de juros”, ressalta Salomão.

“Essa é uma discussão delirante, isso é anticientífico. O Brasil não tem nada a ganhar com redução de taxa de juros sem fundamentos prévios. Nós só vamos colher inflação lá na frente.”

“Onde está a regra fiscal?”

O economista criticou o governo federal pelas pressões sobre o presidente do BC, Roberto Campos Neto, para a queda na taxa de juros. Para Salomão, o Executivo deveria fazer sua lição de casa e apresentar à sociedade a proposta de novo arcabouço fiscal, que substituirá o teto de gastos.

O projeto, que seria apresentado em março, só deve ser conhecido em abril, após o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva da China. A proposta entregue pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sofre resistências do próprio governo e do PT.

“Nós deveríamos estar criando condições para que a Selic caia em um horizonte de médio prazo. Por que essa regra fiscal não foi apresentada ainda?”, questiona Salomão. “A âncora fiscal já poderia trazer algum alívio de curto prazo e reancorar as expectativas. Mas ela não apareceu e, pelo que estamos acompanhando do noticiário, ela deve vir mais enfraquecida.”

Segundo o economista, há “uma confusão horrorosa dentro do governo envolvendo o aspecto macroeconômico, com uma ausência completa de compromisso com regras”. “É um governo que acha que o social precisa passar por cima dos regramentos fiscais e monetários. Isso não tem como terminar bem”, conclui.

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